Lobo comendo Lobo

Ted Turner, o criador da CNN (https://bit.ly/2Wv3Jaj ) é uma forte referência pessoal. Muito forte. Quando ele montou a CNN em Atlanta, em 1 de junho de 1980, tinha 38 anos e já era rico. Ele tinha certeza de que uma rede de TV só de jornalismo 24 horas iria ser um sucesso nos Estados Unidos. Acabou sendo uma revolução planetária.

Um livro que contra a saga da CNN diz que Turner torrou tudo o que tinha e o que não tinha investindo na TV, a coragem dos que tem certeza de que o faro aponta com 100% de certeza. Ele tinha, tem e terá faro. Hipotecou casas, barcos, fazendas, jogou tudo na CNN.

E tudo dava errado, toda hora, diariamente, a tecnologia era experimental, os links, as linhas de transmissão, tudo novo, dúvidas, tiro no escuro de cinco em cinco minutos, mas ele não arredava pé e dizia para a equipe inicial “esse país é de pioneiros. Pioneiros comem ossos e deixam os seus ossos para trás que outros pioneiros vão comer no futuro. Medo não consta desse cardápio”.

Na última fase de implantação da CNN só faltava o satélite principal, que iria conectar todas as estações retransmissoras em terra (sim, o link ainda era físico, por fio, de uma cidade para outra) que se concentravam de forma primitiva.

O satélite foi um RCA de última geração, na época. Ted Turner tinha colocado nele os seus últimos dólares. Contrato de lançamento de satélite nos EUA é muito claro. Até a atmosfera a responsabilidade é do fabricante mas depois, em órbita, passa a ser do proprietário. O satélite de Turner explodiu assim que entrou em órbita. P.T. perda total. E como foi fora da atmosfera, Turner teve que pagar.

Toda a equipe arrasada, todos destroçados, menos ele. Ted não largava o telefone e arranjou dinheiro para bancar outro satélite. Bancos, parcerias, luta. Fez uma manobra financeira que só os grandes conseguem inventar e, semanas depois, a CNN entrou no ar e virou esse monstro que vemos hoje. Vale ler: https://bit.ly/2JKauUn  .

Guardo dele uma frase: “Meu iate “Coragem” é um belo gigante branco e nos mastros há todos os tipos de bandeiras, países. Todas, menos a branca. Eu não admito a rendição representada pela bandeira branca”.

Uma vez ele disse que a persistência para fazer efeito “tem que virar obsessão, quase doentia. Morder, morder, morder até arrancar o pedaço desejado; assim é a vida real, lobo comendo lobo. Você já viu algum animal calmo, passeando, meditando em documentários sobre a vida selvagem? Nunca. Estão sempre agitados, ariscos, olhando para um lado, para o outro, podem matar ou morrer a cada momento. No nosso mundo também é assim.”

Ted Turner apareceu no meu horizonte porque alguém me disse que sou insistente com essa história de cultura alternativa, mídia de acostamento, rádios na internet. Respondi que não poderia ser de outra forma porque sou do time dos que não desistem, apenar de nunca ter encontrado com Churchill.

Nos últimos dias estou meio nas cordas, cansado, apanhando e batendo, mas não caí, o juiz sequer começou a contagem mas o nocaute não virá porque, posso falar?, o nocaute não virá porque Deus não quer e Deus me convenceu disso.