Os militares e 1964; a verdade sobre um golpe que foi civil e militar, apesar do trapalhão general Mourão (a “vaca fardada”) ter antecipado tudo

                                       Generais Odilo Denis, Mourão Filho e Magalhães Pinto
                        Carlos Lacerda, o marechal Castelo Branco e o então coronel Ernesto Geisel                                                                             
                                                                                   
Cena de "Dr. Fantástico", filme de Stanley Kubrick com Peter Sellers
Posse do marechal Castelo Branco como presidente da República
O golpe/movimento/contragolpe/revolução de 1964 aconteceu há 55 anos. Um oficial que tenha ingressado nas Forças Armadas em 1950, hoje com 69 anos, tinha apenas 14 em 64. Todos os militares da época estão mortos ou reformados, ou seja, aposentados.

Os militares de hoje, em sua maioria, acham que 1964 foi um grande erro. Os mais radicais afirmam que as forças armadas foram manipuladas por civis que teriam sido os mentores do golpe. Na verdade, 64 foi um movimento civil e militar, de acordo com a rara literatura imparcial a respeito do tema. Um bom resumo está em no documento “A Ditadura Militar no Brasil”, que sintetiza mais de 170 livros além de ensaios e artigos. Para ler, clique aqui: https://bit.ly/2TXaNA3

Em seu livro "Inside The Company: CIA Diary", o ex-agente da CIA Philip Agee conta que em 1963 o presidente John Kennedy mandou financiar oito candidatos aos governos dos 11 estados brasileiros onde houve eleições. Os americanos bancaram também 15 candidatos ao Senado, a 250 candidatos à Câmara e a mais de quinhentos candidatos às Assembleias Legislativas.

O ex-agente garante quer os Estados Unidos, através dos militares brasileiros, com respaldo político e econômico das forças da UDN (https://bit.ly/2sOuOrP ), lideradas por Carlos Lacerda ( https://bit.ly/2uvYlry) pondo sua máquina política, econômica e militar a disposição para derrubar o presidente João Goulart (https://bit.ly/2EFYhuf ).

Em meados de 1963, inimigos de Goulart tinham reuniões frequentes com o então embaixador americano no Brasil Lincoln Gordon e com o adido militar americano no Brasil, o então tenente-coronel Vernon Walters que mantinha relações com vários militares brasileiros em especial o general (depois marechal) Castelo Branco (https://bit.ly/2UYlfDF ).

Os ministros militares queriam o estado de sítio. O movimento dos sargentos e a revolta dos marinheiros, liderados pelo traidor cabo Anselmo (https://bit.ly/2HZkW89) em 1963, criaram confusão nas Forças Armadas e o pretexto para dar o golpe de estado.

De acordo com Langguth, A.J. autor de “Hidden Terrors: The Truth About U.S. Police Operations in Latin America”   O ex-ministro de Jango, Waldir Pires ( https://bit.ly/2HU5VUY) disse que o banqueiro Magalhães Pinto (https://bit.ly/2YoO2DH) se reunia seguidamente com Lincoln Gordon, embaixador dos Estados Unidos, e com o coronel Vernon Walters.

Segundo os arquivos norte-americanos da fundação Lyndon Johnson, a Operação Brother Sam (https://bit.ly/2bPUjPp) seria o braço forte de apoio logístico e tecnológico para o avanço dos militares brasileiros sobre a Guanabara.

Estava montado então o teatro de operações, onde todo o aparato político e militar apoiado pelos norte-americanos estava armado no sentido de derrubar o Presidente João Goulart e a tomada do poder por forças conservadoras.

Jango não tinha o apoio dos governadores e as forças armadas não aceitavam a sua liderança. O equilíbrio estratégico de forças mostrava uma relação extremamente desfavorável ao governo federal.
Uma vez deflagrado o golpe, a situação saiu do controle do presidente em 24 horas. Ante a possibilidade de um ataque da frota norte-americana do Caribe, liderada pelo porta-aviões nuclear Forrestal - que estava 12 milhas marítimas com armas apontadas contra o Rio de Janeiro - Jango decidiu não reagir ao golpe e assim evitar o risco de uma guerra civil.

O general Olímpio Mourão Filho fez uma auto definição que entrou para a história: “Em matéria de política, não entendo nada. Sou uma vaca fardada”. Ele ia se aposentar no dia 9 de maio, por isso teria antecipado o golpe, mas há uma outra versão para a data.

O general Antônio Carlos Muricy (https://bit.ly/2utt9Jt)   registrou que a ação deveria ter início entre 2 e 8 de abril de 1964. Observe-se a curiosa influência da superstição de um general sobre uma ação militar. Carlos Luís Guedes, então comandante da 4ª Divisão de Infantaria de Minas Gerais, sediada em Belo Horizonte, afirmava que o movimento deveria ter sido iniciado antes do dia 2 ou depois do dia 8 de abril de 1964 porque, segundo o general "tudo o que começasse em fase lunar de quarto minguante não daria certo". 
Independentemente da superstição, o início repentino do movimento facilitou a surpresa e impossibilitou qualquer vazamento de informação que viesse a atrapalhar a execução do golpe.

De acordo com a revista Superinteressante, baseada em extensa e profunda pesquisa “na manhã do dia 31 de março, assim como no filme Doutor Fantástico, de Stanley Kubrick – história lançada justamente em 1964 sobre um general americano que joga bombas nucleares na União Soviética e acaba desencadeando o fim do mundo –, Mourão disparou telefonemas para todo o Brasil, dizendo: “Minhas tropas estão na rua!”

“Eu estava de pijama e roupão vermelho. Posso dizer com orgulho de originalidade: creio ter sido o único homem no mundo (pelo menos, no Brasil) que desencadeou uma revolução de pijama”, escreveu Mourão em seu diário.

Suas ações atingiram de surpresa a cúpula militar. O próprio Castello Branco, futuro presidente, daria três telefonemas para que alguém tentasse dissuadir o general. Ou seja: não fosse a pressa do quase aposentado Mourão, o golpe poderia nem ter ocorrido.

Para derrubar o presidente, o general planejou a “Operação Popeye”, em referência ao seu inseparável cachimbo. Com uma pequena tropa, tomaria de assalto o Ministério da Guerra, derrubaria o presidente e anunciaria novas eleições. Ele teve sucesso – mas apenas nas duas primeira ações. A terceira – a convocação das eleições diretas – teria que esperar 35 anos. Ele passaria o resto da vida reclamando da falta de democracia.

Pois é, curiosamente, Mourão amava a democracia. Em São Paulo, participava de reuniões políticas em frente à praça da Sé só para ouvir a voz do povo. Passava madrugadas anotando em seu diário os direitos que todo governo deveria promover.

Aliás, foi alegando amor à democracia – ele temia que o presidente João Goulart desse origem a uma ditadura de esquerda com um autogolpe de Estado –, que Mourão decidiu que evitaria a “escravização do Brasil”. No começo de 1964, todas as frentes políticas namoravam o golpe, mas ninguém queria iniciá-lo. O general Mourão, chefe da 4a Região Militar em Minas Gerais, resolveu o problema – até porque no dia 9 de maio ele se aposentaria.

As tropas se deslocaram rapidamente para locais estratégicos e em 48 horas houve um segundo golpe, quando o presidente do Congresso Nacional, senador Auro de Moura Andrade declarou vacância no cargo de Presidente da República, apesar de Jango ainda estar no Brasil.

Em 1º de abril de 1964, Goulart viajou do Rio de Janeiro para Brasília, e de lá para Porto Alegre, deixando para Darcy Ribeiro, chefe do Gabinete Civil, a incumbência de comunicar ao Congresso que o presidente permanecia no País.

O senador Moura Andrade, agindo inconstitucionalmente, ignorou a comunicação oficial e declarou a vacância da presidência da República. Em seguida investiu no presidente da Câmara, o deputado Pascoal Mazzilli para torna-lo substituto de Jango. Desta maneira, Moura Andrade facilitou os processos de reconhecimento internacional (especialmente pelos Estados Unidos) do novo governo, impossibilitando qualquer reação por parte dos defensores da ordem constitucional.

No dia 2 de abril de 1964, Jango e Brizola se reuniram com os generais no sul, em Porto Alegre, para discutir a resistência ao golpe. De acordo com o Brizola " (...) A certa altura, chegou na sala um auxiliar do presidente, com uma comunicação que havia captado pelo rádio, segundo a qual o governo dos Estados Unidos havia reconhecido o governo que se estabelecera em Brasília (...) O presidente não queria assumir a responsabilidade de desencadear uma guerra civil (...) Àquela altura, o presidente João Goulart agiu corretamente"... Há quem desminta a declaração afirmando que Brizola brigou com Jango porque queria resistir ao golpe.

Os militares favoráveis ao golpe e, em geral, os defensores do regime instaurado em 1964 costumam designá-lo como "Revolução de 1964", "Contragolpe de 1964" ou "Contrarrevolução de 1964". Todos os cinco presidentes militares que se sucederam desde então declararam-se herdeiros e continuadores da Revolução de 1964.[

Já a historiografia brasileira recente defende a ideia de que o golpe, assim como a ditadura que se seguiu deve ser considerado como exclusivamente militar, sendo, em realidade, civil-militar.
Segundo vários historiadores, houve apoio ao golpe por parte de segmentos importantes da sociedade: os grandes proprietários rurais, a burguesia industrial paulista, uma grande parte das classes médias urbanas (que na época girava em torno de 35% da população total do país) e o setor conservador e anticomunista da Igreja Católica (na época majoritário dentro da Igreja) que promoveu a Marcha da Família com Deus pela Liberdade , realizada em São Paulo, poucos dias antes do golpe, em 19 de março de 1964.

Jango havia sido democraticamente eleito vice-presidente pelo Partido Trabalhista Brasileiro (PTB) – na mesma eleição que fez Jânio Quadros, do Partido Trabalhista Nacional (PTN), presidente da república.
O golpe estabeleceu um regime autoritário e nacionalista, politicamente alinhado aos Estados Unidos e marcou o início de um período de profundas modificações na organização política do país, bem como na vida econômica e social. 

O regime militar durou até 1985, quando Tancredo Neves foi eleito, indiretamente, o primeiro presidente civil desde 1964. Morreu e em seu lugar tomou posse José Sarney.


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