“Refratações”*: a pancadaria entre Freud e Jung e uma questão: as guerras amadurecem?
* Palavra inexistente
Jung (a esquerda, sentado na escada), Freud (calção quadriculado
a direita) e dois amigos numa casa de banho turco
Prólogo – “Minha ideia sobre Deus está formada pela
profunda convicção emocional da presença de uma força racional superior, que se
revela no incompreensível do universo” (Albert Einstein); “Não posso dizer “eu
creio”. Eu sei! Tive a experiência de ter sido capturado por algo mais forte do
que eu, algo a que as pessoas chamam Deus” (Carl Gustav Jung).
A partir dessa experiência abissal, Jung descobriu o
poder do espírito e a sua relação com o mentor Sigmund Freud, que já vinha se
despedaçando ruiu de vez. Contam os livros que os dois estavam numa cabine de
trem, em 1914, indo para Hamburgo. Jung já não suportava mais o que teria
chamado de “reducionismo materialista” de Freud. Esse, por sua vez, também
sentia náuseas quando o discípulo falava de inconsciente coletivo, Anima,
Animus, espíritos... Foi aí que um destemperado Freud, na cabine do
trem, teria gritado “fique então com esse lixo, essa lama que são os seus espíritos”.
De acordo com Felipe Luis Melo de Souza, “com o
rompimento definitivo em 1914, quando Jung deixa a presidência da recém criada
Associação Psicanalítica Internacional, inicia-se a querela de atribuição de
epítetos depreciadores de ambos os lados. (...) A crítica da exacerbação da
sexualidade na obra do pai da psicanálise - que é feita frequentemente -
esquece-se de que Freud e Jung possuíam o mesmo sonho inicial, o Falo.”
Fiz psicanálise freudiana (até a alta), existencialista
(interrompida porque o terapeuta desistiu desse caminho e viramos amigos) junguiana
(me dei alta), voltei para a freudiana (nova alta) e hoje estou conhecendo a
Gestalt (conhecendo e gostando da ausência de teorias pouco úteis), até
descobrir que avalanches inconscientes, caos, angústias, memórias, sonhos e
reflexões não tem alta. Por que? Porque a alta da vida é a morte.
Apesar de analisado desde a adolescência, jamais em tempo
algum abrir mão da minha visceral, radical, inquestionável fé em Deus. Jamais!
E os meus analistas nunca me questionaram a respeito. Ninguém me ensinou a crer
em Deus. Ninguém. Simplesmente aconteceu, como um vendaval, uma chuva de outono,
enfim, Deus está em meu cotidiano como a água, o sono, a comida, o afeto.
Sobre Deus, quando estou batendo papo e meus interlocutores
começam a detona-Lo, fico quieto. É automático. Quando reparo, estou olhando
para uma bela mulher, lembrando de uma música, enfim, me abstraio como se queimasse
um fusível interno.
Tempos atrás dois amigos (um religioso o outro ateu) batiam boca no Velho Armazém, antigo bar da orla de São Francisco
(Niterói, não Califórnia), que infelizmente fechou, por causa do tema “por que Deus deixa acontecer as
guerras?”. Aquilo não ia prestar e, de fato, vários chopes depois tive que
intervir antes que rolasse grossa pancadaria ali mesmo.
Eles se desculparam, sugeri que mudássemos de assunto
mas, na boa, minha noite deu uma amargada, tanto que fui o primeiro a pedir a
conta e voltar para casa. No caminho de volta pensei que até os livrotes
vagabundos tricotam freneticamente sobre o renascimento de nações que foram
dizimadas por guerras. Inglaterra, Alemanha, Itália, China, Japão. A Coréia do
Sul, depois de ser destruída nos anos 50/60, passou todo mundo e hoje é o
país-modelo em educação. Isso sem falar em tecnologia, distribuição de renda, etc.
Já aqui no Brasil...bom na Câmara dos Deputados, que nós elegemos,
a prioridade máxima continua sendo aumentar o faturamento. Deles. Li também
que, além da podóloga e da consulta médica, subiu tudo. Normal, não é?
Apelo aos antropólogos e outros ólogos. Se o Brasil
tivesse encarado guerras tudo mudaria ou nada mudaria? Sabe aquela antiga teoria
de que o ser humano só cresce com dor, sob tensa, densa, intensa crise?? Ela se
aplica a nações? O Vietnã viveu em guerra de 1910 a 1975. Japão invadiu, França
invadiu, Estados Unidos invadiram. Só na guerra contra os Estados Unidos
morreram 1 milhão e 500 mil vietnamitas que, em nenhum momento, largaram o
osso. Foram até o fim e botaram os americanos pra fora com memoráveis chutes na
bunda. Hoje o Vietnã já é quase um “tigre asiático”, com índices econômicos
invejáveis, educação, saúde, etc.
Parto de um princípio de que a culpa não é de quem faz,
mas de quem deixa fazer. Exemplo: se puserem um caixa eletrônico em cima da
Pedra do Arpoador a culpa será do banco ou da prefeitura? Com a passividade
popular e eleição é a mesma coisa. A passividade popular homologa os desvios.
As eleições sacramentam. Em outras palavras, qualquer pau de enchente que
esteja no poder num regime democrático, o aval (culpa) é nosso.
Não vou citar exemplos de outros países que venceram o
arbítrio/corrupção/canalhice porque todos (sem exceção) usaram a truculência.
Mussolini foi pendurado num poste, americanos jogaram coquetéis molotov em
postos de gasolina que aumentaram preços no crash de 1929, enfim, não encontro
um exemplo de vitória popular que não passe pela luta. Física. Logo, como sou
pacifista, fecharei a cisterna.
Não estou defendendo ninguém e muito menos atacando.
Estou apenas refratando diante do que vejo, sinto. E o que a História me conta,
sussurrando de madrugada, é que por coincidência os povos regidos por
fanatismos religiosos são os mais manipulados e miseráveis.
Os povos da Índia e África, em sua maioria, são hordas de
mortos-vivos dopados por crenças fanáticas que não deixam enxergar que os seus
governos roubam, matam, achacam, em nome desse mesmo fanatismo.
Para mim nada é possível sem Deus. Querem saber? Para mim
tudo é impossível sem Deus. Não tenho lastro teológico algum para afirmar que
Deus discorda do fanatismo religioso, mas tenho o direito de imaginar que Ele
não concorda. Fanatismo paralisa, enlouquece, dopa. Fanatismo quando decreta
que orelhão é sagrado os seguidores batem palmas quando o Estado não instala
orelhão nenhum.
Fanatismo quando determina que peixe é sagrado seus seguidores
autorizam o Estado a não investir nada em indústria pesqueira. Mao Tse Tung
radicalizou quando sentenciou que “a religião é o ópio do povo”. A religião
não, mas o fanatismo, mais do que o ópio, é pior do que heroína.
Por que somos tão submissos? Faltou guerra? Faltou o
olhar do invasor dentro da nossa casa citando Renato Russo : “eu sou a sua
morte/ vim de fazer companhia”? De vez em quando vejo carros com adesivos
“Basta isso”, “Basta aquilo”. Bastar como? Como se “basta” a lambança? Como se
basta o arbítrio, a corrupção, tráfico de vidas? Out-estima, digamos.
Fato é que a gemedeira e a vitimologia continuam por aí.
Continuamos pagando a tal taxa de “assinatura” dos telefones, engolindo o
“matematicalogismo” que aumenta planos de saúde, luz e salários de deputados.
Qual é o critério? A submissão? Qual é a saída? Quem é o inimigo, quem é você?
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