Música para mim não se resume a rock
Desde que comecei a escrever no Facebook e Twitter que estou
gostando muito da nova rádio Cult Brasil, que fica em
http://www.radiocultbrasil.com.br/
e só toca música brasileira, algumas pessoas me enviam e-mails surpresas
dizendo que acham que eu só gosto de rock.
Claro
que sou roqueiro desde que nasci, mas modéstia à parte tenho uma
invejável coleção de grandes álbuns de Egberto Gismonti, Badi
Assad, Alceu Valença, Belchior, praticamente toda a obra de Debussy
à bordo de Nelson Freire, grandes nomes da bossa nova, enfim, é
muita coisa.
Meu
gosto musical, literário, cinematográfico, cultural de uma maneira
geral, nunca foi unicista. Aliás, minha vida está longe de ser unicista. Inclusive, nos anos 1970 frequentei toda a
sexta-feira a gafieira Elite, mais por causa das companhias femininas
do que pela música, assim como já toquei no Olodum de Salvador,
adoro o maracatu, e por aí vai. Meu gosto é movido pela
curiosidade. Curiosidade que, no momento, está voltada para a música
do Mali, África, origem do blues, do R&B (na minha opinião) e
de outras vertentes que amo já que sem a presença negra a música
se tornaria um fastio insuportável. Viva a batida! Viva o beat!
Agora,
não me convidem para ouvir sambinha, vulgo “samba de branco”.
Não, pára com isso por favor. Não vim ao mundo fazer média e sim
mídia e o sambinha está fora da minha área de cobertura. Não vou
citar compositores e interpretes porque uma nova semana está
começando e não quero meter o pé nela brigando. E como o gosto é
um critério radicalmente subjetivo, sempre gera pancadaria. Sou
essencialmente roqueiro mas ouço, sim, a Radio Cult Brasil quando
está me agradando. Quando não está, não ouço. Nenhuma emissora
de rádio, de qualquer gênero musical, agrada 100% do tempo.
Impossível!
Meu
negócio é Música, assim mesmo com M maiúsculo. Aliás, esse papo
lembra uma carta aberta que escrevi para o L.G. Bayão, tempos atrás, aqui na Coluna.
Bayão
é meu amigo, roteirista e escritor. É dele o roteiro do filme “A
Onda Maldita”, ficção baseada em meu livro, que começa a ser
feito no início do ano que vem.
Bayão,
Sabe
o Alex Mariano, querido
amigo morto
pela leniência
do Estado? Alex era o rei dos apelidos. Conheço umas 10, 20 pessoas
que foram apelidadas por ele e nunca mais se livraram dos codinomes.
Meu
amigo desde a adolescência, ele conheceu meu “braço armado”
quando foi fazer comigo a Rádio Fluminense FM, em 1981. Bayão, ele
me apelidou de Luiz Antonio Mulla (com dois L) por causa de meus
coices que ele dizia serem “antológicos” e, também, de
“imperador Bokassa”, referência a Jean-Bédel Bokassa, hediondo
ditador africano que de meados dos anos 1970 até 1985 cometeu
genocídio e até canibalismo quando esteve no poder.
Quando
Alex me chamou de “Bokassa” pela primeira vez (eu quase tinha
saído na porrada com um figurão da rádio momentos antes), dei um
coice no meu querido amigo. “Alex, Bokassa é o cacete! Luiz
Antonio Mulla pode, mas Bokassa nem a pau!”. Ele não perdeu a
pose: “e amado chefinho, pode?” Foi o apelido que pegou.
Bayão,
sempre lembro do Alex porque ainda não pude chorar plenamente a sua
morte vil, canalha, covarde como deve ser chorada. Ele me dizia,
sempre debochadamente, “amado chefinho, quando você para de ouvir
música entra em TPM e sobra pra gente”. Tinha razão, o grande
Alex.
Anos
atrás me
afastei da música e quando percebi o mar tinha virado, ventos de
sudoeste começaram a soprar forte e eu me vi diante de ondas de 20
metros de alturas, como
aquelas
de Maverick, Califórnia, com uma prancha pequena. Como no filme
“Tudo por um Sonho”.
Não
são as maiores ondas que tive que encarar, mas me deram trabalho.
Surfei-as hoje, Bayão. Sabe como? Com o desasossega vizinhos
“Quadrophenia”, do The Who, que ouvi no computador turbinado por
amplificação Edifier que meu irmão e meu sobrinho me deram de
presente em
2013.
A
medida em que a guitarra lancinante de Pete Townshend, a bateria
extraterrena de Keith Moon, o baixo desesperadamente genial de John
Entwistle iam engolindo os 17 andares de meu prédio, fui acalmando,
acalmando, acalmando e sentei para te escrever essa carta aberta. Por
que? Não sei, Bayão.
Fato
é que deixei de ser Luiz Antonio Mulla em 2008, quando, sem saber,
fui trabalhar num escroque calabouço corporativo que cismou de me
domar. E acabou domando, o que me fez muitíssimo mal. Nem os 12 anos
e varada de Governo em Niterói, onde fui presidente de uma fundação
de arte e depois de uma empresa de turismo, eu aliviei nos coices. Ao
contrário. Aí que eu tive que mandar chumbo mesmo porque política
não é para babaca. Se você não chuta antes acaba linchado.
Bayão,
prometo as zaralhadas de leitores aqui deste blog, mas ESPECIALMENTE
A VOCÊ (em maiúsculas) que NÃO VOU MAIS ABANDONAR A MINHA MÚSICA,
que vai de rock and roll existencial até bossa nova da região de
meu amigo e padrinho de estúdio Roberto Menescal, via Egberto
Gismonti, Badi Assad, André Geraissati e similares.
Continue
dando coices aí que eu respondo daqui. Sem coice não dá, meu
amigo. Uma vez, um déspota me enviou um corvo-correio (estafeta
dele) com a mensagem “de concessão em concessão viramos
Conceição”. O canalha tinha razão.
Abraços
do LAM, com M de Mulla. Sempre!
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