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Mostrando postagens de junho, 2018

Transe

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Um amigo, giga intelectual, tem um Fusca 1982 parado na garagem de seu prédio, no Leblon. Ele me disse uma vez que o melhor carro do mundo é o táxi. Concordei.  Quando vivia em Paris, anos 60/70, ele tinha um Citroen 2 CV, xodó dos existencialistas. Foi ele quem me apresentou a Oscar Niemeyer na célebre tarde em que o mestre da arquitetura decidiu almoçar num restaurante no Flamengo, Rio. Pessoas assim mostram que esse papo de mundo obsoleto é e sempre foi uma grande babaquice, mas lamentavelmente muita gente é escrava da seita “se liga, se liga freguesia, celular é nas Casas Bahia.” Em 1976 eu estava no MAM, Rio, cobrindo o velório de Di Cavalcanti. Era repórter da saudosa Rádio Jornal do Brasil AM, ícone do jornalismo. De repente entra Glauber Rocha. Suado, descabelado, com um outro cara com uma câmera Bolex de 16 mm. Maior escândalo. Glauber gritava “close na cara do defunto! Close na cara do defunto” e o cinegrafista praticamente trepava no caixão para arrancar o cl...

São João

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Neste 24 de junho é comemorado o dia de São João, padroeiro de várias cidades, entre elas Porto Alegre e Niterói. Feriado municipal e pouquíssimos arraiais acontecendo. Não sei por que. Deixei de frequentar as poucas festas juninas por causa da lambança que andam fazendo na trilha sonora. Ao invés de canções tradicionais tocam esses entulhos como sertanejo universitário e até funk. Tempos atrás almocei com o colega Eduardo Lamas no Centro do Rio e na volta, a caminho da estação do catamarã para Niterói, vi na Praça 15 um cartaz anunciando uma festa junina. Típica e tradicional. O desenho trazia uma fogueira, gente fantasiada e até os perigosos (e hoje inviáveis) balões. Embarquei e a meu lado sentou um sujeito que era a cara do Danny Devito: baixo, gordo, careca, que não largava o celular. Fez várias ligações porque a linha caia. Ele orientava uma mulher do outro lado da linha que arrumava a sua mala. Foi gozado. Ele dizia “não, gravat...

Cariocas do Duo Santoro, José Staneck e Ana Letícia Barros brilham na Argentina neste domingo

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Gêmeos violoncelistas, gaitista e percussionista apresentarão o espetáculo “Do Clássico à Bossa Nova”, em Córdoba, neste domingo, no Teatro Real. Como solistas da Orquestra Sinfônica Acadêmica de Córdoba, farão um concerto no dia 29 de junho e gravarão o CD “Brasil en Córdoba” entre os dias 25 e 28.   Os irmãos violoncelistas cariocas Paulo e Ricardo Santoro (Duo Santoro), o gaitista José Staneck e a percussionista Ana Letícia Barros vão apresentar o espetáculo “Do Clássico à Bossa Nova”, buscando mostrar, através da fusão incomum entre violoncelos, harmônica e percussão, os dois lados da música brasileira: o erudito e o popular, com a sofisticação do samba e da bossa nova. O quarteto se apresentará neste domingo, 24 de junho, no Teatro Real, reunindo, em um só programa, obras do cancioneiro popular, como “Lua Branca e Gaúcho” (Chiquinha Gonzaga), “Asa Branca” (Luiz Gonzaga), “Tico-Tico no Fubá” (Zequinha de Abreu), “Brasileirinho” (Waldir Azevedo), além de músicas consag...

Desconsideração

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Jamais a civilização teve tantos meios de comunicação disponíveis. Até ontem (1990) quem quisesse enviar uma mensagem confidencial escrita tinha que pegar papel, caneta, escrever, por no envelope, ir até a agência do correio, postar e esperar dias até que o destinatário recebesse. Uma carta do Rio para a Europa demorava de 10 dias a 15 para chegar. Em 1990 já havia fax, o pager (vulgo teletrim) que, em sua época, foram muito importantes. Em 1983, nos Estados Unidos, quem pagasse 20 mil dólares conseguia um telefone celular. Hoje reina a fartura tecnológica. No mundo há 6 bilhões de linhas de celular, outros bilhões de usuários da internet. Os preços desabaram, o acesso continua cada vez mais fácil e a quantidade de aplicativos e programas impressiona. E-mail, SMS, Whatsapp, Skype, etc. etc. etc. muitos de graça. E a contrapartida? Se a civilização nunca viu tanta fartura tecnológica em prol da sua comunicação, por outro lado a falta de consideração/educação parece imperar. ...

Leme

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                                                                      A pedra                                                                O bandido O lead da matéria do jornal Extra é claro: “Em meados de abril, traficantes saíram encapuzados, do Chapéu-Mangueira, e entraram pela mata do vizinho Morro da Babilônia, no Leme. O objetivo era retomar a favela para o Terceiro Comando Puro (TCP). Após uma troca de tiros, o grupo fugiu do local. Pouco mais de um mês depois, os criminosos do Comando Vermelho (CV) que haviam sido expulsos revidaram o ataque. A disputa pelo Morro da Babilônia, entretanto, é apenas uma envolvendo facções do tráfico e...

Who Came First

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Escrevo ouvindo a edição especial extendida de 45 anos do álbum “Who Came First”, o primeiro solo de Pete Townshend. Gravado e lançado em 1972 (na verdade ele comemora 46 anos), é um álbum espiritual e surpreendente. Eu passava férias e Teresópolis quando chegou a notícia, por amigos, do lançamento, mas não havia a menor esperança de que o álbum fosse lançado aqui. A indústria do disco brasileira, em sua lambança verde e amarela, tinha como hábito dar rasteiras no consumidor. Por exemplo, o lendário álbum duplo “Eletric Ladyland”, de Jimi Hendrix, saiu aqui com um disco só e com uma capa ridícula. Lá em 72, a amiga Anete, uma judia antenada que conseguia não se sabe como edições da revista Melody Maker inglesa, leu uma resenha sobre “Who Came First” onde o autor falava da rica mistura de rock e folk. Daí a minha surpresa. Afinal, na liderança do The Who, Townshend vinha de uma avalanche de super lançamentos como “Tommy” (1969), “Live at Leeds” (1970) e “Who’s Next” (1971)...
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Li milhares de vezes que o silêncio é um grande companheiro Há dias ando calado, quieto Tenho muito a dizer, mas pouco a falar Faz bem Ficar quieto Mesmo com a alma inquieta Alma inquieta não chega a ser uma novidade Desde o dia em que nasci Meditação Já pensei em, fazer, mas não sei Imagino que meditação é para os mais calmos Não estou entre eles Por enquanto Dizem que a maioria tem cabeça feroz Alucinadamente feroz Não sei Não tenho elementos para aferir Mas há dias ando calado, quieto Ponto.

Capitanias hereditárias

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Meritocracia. Bela palavra. Presença obrigatória em comícios, entrevistas, aparições na TV de qualquer político em campanha. Meritocracia significa vencer na vida pelo mérito pessoal, pelo talento, criatividade, ética. Mais nada. Nesse início do século 21 podemos observar que nunca (ou quase nunca) o nepotismo, os pistolões, a ação entre amigos esteve tão presente , especialmente em setores como a música, jornalismo e, naturalmente, a política. Isso sem falarmos do noves fora, da corrupção galopante. Na música chega a ser bizarro. Entramos na internet, abrimos os jornais ou ligamos a TV e o que mais vemos é a “descoberta de talentos” de filhos, netos, sobrinhos, maridos de medalhões. Cardumes e mais cardumes de piranhas. As Capitanias Hereditárias do velho Império tiveram seu conceito eternizado e transplantado para outros setores. É comum lermos que “Fulano de Tal, que toca o instrumento X é filho do lendário Beltrano”. Toca bem? Não informam. Toca mal? Não inform...