Who Came First
Escrevo ouvindo a edição especial extendida de 45 anos do
álbum “Who Came First”, o primeiro solo de Pete Townshend. Gravado e lançado em
1972 (na verdade ele comemora 46 anos), é um álbum espiritual e surpreendente.
Eu passava férias e Teresópolis quando chegou a notícia,
por amigos, do lançamento, mas não havia a menor esperança de que o álbum fosse
lançado aqui. A indústria do disco brasileira, em sua lambança verde e amarela,
tinha como hábito dar rasteiras no consumidor. Por exemplo, o lendário álbum
duplo “Eletric Ladyland”, de Jimi Hendrix, saiu aqui com um disco só e com uma
capa ridícula.
Lá em 72, a amiga Anete, uma judia antenada que conseguia
não se sabe como edições da revista Melody Maker inglesa, leu uma resenha sobre
“Who Came First” onde o autor falava da rica mistura de rock e folk. Daí a
minha surpresa. Afinal, na liderança do The Who, Townshend vinha de uma
avalanche de super lançamentos como “Tommy” (1969), “Live at Leeds” (1970) e “Who’s
Next” (1971), com o peso característico da banda.
Outra surpresa: o disco saiu no Brasil e quase não
acreditei quando os violões e guitarras (leves) de Townshend começaram a
invadir o ambiente com canções que viraram clássicos. No encarte de papel
vagabundo, a informação: “Um dólar de
cada álbum vendido é doado à instituições de caridade.”
Quando ouvi a faixa “Parvardigar” pela primeira vez me senti inundado de paz,
não por razões esotéricas, mas pela beleza da música (por isso a coloquei lá em
cima) e da letra.
Pete Townshend havia se tornado discípulo do indiano Meher Baba,
impressionado com a sua história. A trajetória do líder espiritual tomou novos
rumos a partir de dois acidentes automobilísticos que ocorreram em 1952,
nos Estados Unidos e em 1956, na Índia. Por causa
dos acidentes sua capacidade de caminhar ficou muito limitada e, em 1957, ele ficou
completamente confinado a cadeira de rodas e, misteriosamente, se aprofundou
mais ainda em sua fé. Morreu em janeiro de 1969 e seu túmulo em Meherabad é considerado local sagrado
ainda hoje e se tornou um local de peregrinação.
Originalmente com nove faixas, a edição especial de “Who
Came First” conta com 26 músicas, todas remasterizadas. Muitas são preciosas raridades
que estavam nos arquivos como shows ao vivo que Townshend fez no túmulo de
Meher Baba, mentor que que não chegou a conhecer pessoalmente.
Um álbum que comove, leva a devaneios suaves, um certo nó
na garganta, especialmente em fases da vida quando a sensibilidade esta
aflorada.
Fundamental ouvir.