“Jimmy Page no Brasil”: livro detalha as odisseias do criador do Led Zeppelin pelo país
Lançado pela Garota FM Books, da jornalista Chris Fuscaldo, ao
longo de 270 páginas “Jimmy Page no Brasil” conta em detalhes as visitas de
Page ao país e entrevista músicos e fãs que tiveram o privilégio de conviver
com o guitarrista, compositor, cantor, produtor e criador do Led Zeppelin.
Através dos depoimentos dos entrevistados por Leandro
entendemos por que Carlos Santana chamou Page de “o Stravinski da guitarra”,
referência ao compositor russo Igor Stravinski (1882-1971) cuja obra o biógrafo
Walter Nouvel definiu como “energia rítmica, a construção de ideias melódicas
desenvolvidas a partir de algumas células de duas ou três notas, clareza de
forma, instrumentação e expressão vocal.”
Jimmy Page escreveu um rico, longo e genial capítulo da
história da música dos séculos 20 e 21 e até hoje continua buscando o novo, o
inusitado, o impossível. Ele sabe que é um gigante, mas não tira onda. “Jimmy
Page no Brasil” fala de uma peça chave, o ex-empresário do Led Zeppelin, Peter
Grant (1935-1995), chamado de "quinto elemento" quando esteve no Rio para tentar negociar uma vinda da banda
ao Brasil.
Leandro conversou com o jornalista que entrevistou Grant, que
descreveu o gigantesco empresário (literalmente, quase 2 metros de altura e
mais de 160 quilos, cheio de anéis nos dedos) como uma pessoa suave, doce,
gentil, ao contrário daquele homem estourado que costumava resolver as questões
do Zeppelin na porrada. Grant disse que nenhum empresário (Marcos Lázaro, inclusive)
quis bancar a vinda da banda. Naquela época tocar no Brasil significava levar
calote e correr o risco de ter o equipamento roubado como foi o caso do Kiss,
mas só um louco faria isso com Peter Grant no comando.
O livro nos leva a momentos preciosos de Jimmy Page por aqui, graças a um minucioso trabalho de reportagem e pesquisa. É farto em histórias de bastidores, curiosidades, para deleite dos milhões de fãs do Zeppelin. No mirante do morro Dona Marta, por exemplo, ele e um jornalista curtiam o
visual quando, de repente, Page perguntou “para que lado fica a Bahia?”. Com
certeza, mostra o livro, foi na Bahia que o músico se sentiu mais à vontade, volta
e meia empunhando uma guitarra num bar. Chegou a percorrer os 400 quilômetros
que separam Salvador da cidade de Lençóis (na Chapada Diamantina) de ônibus,
uma viagem de oito horas acompanhado da hoje terceira ex-mulher Jimena Gomez,
norte americana filha de argentinos.
O casal se conheceu em 1994 quando Page veio ao Brasil na turnê
“No Quarter”, com Robert Plant. Page tinha 50 anos e Jimena 23. Casaram em 1995
e se divorciaram em 2008. Atualmente, Page, de 77, namora a poeta Scarlett
Sabet de 32. Uma tradição, por sinal. Em 1972, quando o Zeppelin tocou em Los Angeles,
Jimmy Page, com 28, se apaixonou por uma baby groupie de 14 anos,
Lori Maddox (hoje uma senhora de 63), com quem teve um incendiário romance ao
longo de três anos que por pouco não acabou na cadeia.
Entre os fãs de Page e do Zeppelin está o pesquisador Cornélio Melo:
- Conheci o Led Zeppelin numa noite em que fui assistir ao ensaio da banda Os Quem no porão da casa do baterista Platão, em Martins Torres, Niterói.
No primeiro intervalo, Platão me chamou, colocou um compacto simples na vitrolinha de apoio e disse:
- Cornelio, ouça isso!
Era um tal de Led Zeppelin tocando Whole Lotta Love. Pirei!
Sai no dia seguinte garimpando até achar aquele compacto.
E nunca mais abandonei os caras. E tive o prazer de tocá-los quando fiz parte da banda Melody Spatial, no início dos anos 70.
Recebi o livro do Leandro ontem! Vou devorá-lo neste fim de semana.
No Rio, Page fundou a “Casa Jimmy”, em Santa Teresa, uma
instituição gerenciada pela ONG britânica TaskBrasil Trust que desde 1997 dá
assistência médica, psicológica, pedagógica e ainda fornece roupas, alimentos e
cursos profissionalizantes a ex-menores de ruas e adolescentes grávidas. O músico
nunca conseguiu entender os profundos abismos sociais do Brasil.
O prefácio de “Jimmy Page no Brasil” é de Ed Motta, um dos
maiores colecionadores de discos do Brasil e ardoroso fã do Led Zeppelin desde
os 11 anos. Ele escreveu que “a atividade mais significativa da minha
adolescência foi manter o Led Zeppelin como uma espécie de religião, um filtro
estético que seria preservado para sempre.(...) O Led Zeppelin, a cada audição,
é arte imensa para a eternidade”.
Em comum, entre os entrevistados por Leandro, a definição de
Page como um cara tranquilo, simpático, acessível, educado. No entanto, no meio
musical internacional, ele é descrito como extremamente misterioso, uma esfinge.
É verdade. A sua relação com o ocultismo, por exemplo, é um assunto que ele corta
na hora. Ninguém sabe por onde anda, com quem, o que está fazendo. Ele só
aparece quando quer aparecer, normal para o líder de uma banda que já vendeu
mais de 300 milhões de discos em todo o mundo.
Devorei “Jimmy Page no Brasil” em duas madrugadas, direto e
terminei querendo mais. Leandro Souto Maior bateu um bolão. Parabéns!
Tudo se transformou
Fui apresentado ao Led Zeppelin com 14 anos quando ouvi um
pedaço de “Whole Lotta Love” na Rádio Mundial e imediatamente me tornei um zeppeleiro.
Um pedaço porque a rádio deformou a música cortando toda a parte de efeitos que
Jimmy Page inventou e inseriu na metade. A faixa está no álbum Led Zeppelin II
que, no Brasil, saiu antes do I. Nunca ouvi um som tão fantástico como o do Zeppelin
e as guitarras sucessivamente reinventadas por Jimmy Page.
Page era uma criança quando a sua família se mudou de um
bairro de Londres por causa da inauguração do aeroporto de Heathrow e sua
barulheira infernal. Na nova casa acharam um violão encostado numa parede que
até hoje ninguém sabe a quem pertencia. Foi naquele violão que o garoto
aprendeu a tocar e nunca mais deixou a música. Aos 15 anos, Jimmy Page começou
a trabalhar como músico de estúdio, gravou com dezenas de artistas e aprendeu
tudo sobre engenharia de sim, mixagem, masterização.
É a guitarra dele que aparece na introdução de “I can’t explain”,
do The Who, e de “You really got me”, do The Kinks, segundo informações de outros
músicos já que Page nunca revelou com quem tocou por achar antiético.
Peter Grant era empresário do Yardbirds, banda que tinha Page
como guitarrista e as vezes baixista. Com o fim do grupo, Page resolveu montar
outra e com Grant viajou para o interior da Inglaterra em busca de um cantor. Nas
imediações de Staffordshire foram a um show num muquifo e ficaram que queixo caído
com a voz impressionante de um sujeito que se apresentava. Era Robert Plant,
que foi contratado. Ali mesmo Plant o apresentou a um morador da região, o
baterista John Bonham que, aprovado por Page, também foi contratado. Ao saber
da movimentação, o baixista e tecladista John Paul Jones, que tinha sido colega
de Page num estúdio de gravação telefonou e pegou a vaga. Nascia o Led Zeppelin
cujo nome é atribuído ao baterista do The Who, Keith Moon (1946-1978) que ao
ouvir Page falar sobre o conceito da banda teria dito que “isso vai voar mais
alto do que um zepelim de chumbo”.
Mais informações e onde encontrar o livro neste link: https://chrisfuscaldo.com.br/livros/garota-fm-books/
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