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Mostrando postagens de março, 2018

“Janis: Little Girl Blue”, ótimo filme, está na Netflix

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A diretora e roteirista Amy J. Berg acertou em cheio. O filme "Janis: Little Girl Blue", está na Netflix, revela novos vértices da personalidade cronicamente carente, rejeitada, complexa da maior cantora de blues contemporâneo, a texana de Port Arthur Janis Joplin. O grande diferencial para outros filmes sobre Janis está na impressionante quantidade de cartas, fotos, áudios, filmes e vídeos inéditos, que são apresentados ao público em enxurrada. O documentário é diferente porque não trata a plateia como iniciados em Janis, ou em blues rock mas, ao mesmo tempo, consegue satisfazer os conhecedores ao se manter distante óbvio. A plateia se comove quando o filme mostra, por exemplo, a capa de um jornal de alunos do colégio onde Janis estudou em Port Arthur quando menina e adolescente. Os alunos a elegiam "o  homem  mais feio do ano". Isso mesmo:  homem . A humilhação foi suficiente para faze-la chorar em público pela primeira vez, segundo revela um amigo da...

Verdade, mentira, realidade, ficção

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                                               Algumas pessoas perguntam sobre a veracidade do que escrevo aqui. Respondo que tem de tudo; realidade pura, ficção delirante; muita verdade, mas, certeza absoluta, nada de canalhice, embalagem básica da mentira. A crônica anterior a esse texto (leia ali embaixo), chamada “Tempero da Somália” é totalmente híbrida. A pensão existiu em uma época, o japonês em outra, mas o seu apelido não era Tijolo e sim Pau de Pombo. Na verdade ele era um quase japa que veio de São Paulo, mas trabalhava num restaurante nas imediações de Benfica, Rio. “Tempero da Somália”, a pensão, é inspirada em um restaurante a quilo onde, no desespero, de vez em quando almoço. O lugar é quente pra cacete, o que altera o humor das pessoas, empilhadas umas sobre as outras disputando milímetros. E como mais 90% dos comensais tem quase 100 an...

Tempero da Somália

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Na zona portuária só existiam duas estações: quente e muito quente. O fedor das vielas era nostálgico, subidas e descidas com paralelepípedos, bicheiros, anões vendendo bilhetes de loteria (diziam que anão dava sorte) e no alto da ladeira, fincada numa calçada quase destruída ficava a pensão “Tempero da Somália.” Na porta, um quadro negro vertical escrito a giz exibia o cardápio do dia. Mocotó, feijoada, dobradinha e uma vez por mês rabada com agrião. O ambiente era pesado, todo mundo com o olhar suspeito, calombos na cintura. Armas. No verão, mais de 40 graus e o dono era alérgico a vento e frio. O dono era um neto de japonês que chegou ao Brasil fugido das Filipinas. Como era ilegal pagava propina todo o mês para se manter intocável. Era conhecido como Tijolo, apesar de não ter mais de 1m58, magrinho, não falava com ninguém, não esboçava qualquer expressão. Só aceitava dinheiro e não dava troco porque para ter troco tinha que ir a banco e ir a banco como ilegal era um...

Fúria e Ódio

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Está no dicionário: Fúria: exaltação violenta de ânimo; ira, raiva, cólera. Ódio: aversão intensa ger. motivada por medo, raiva ou injúria sofrida; odiosidade. Muito se fala numa era de ódio no Brasil, representada pela estapeamento político, principalmente nas redes sociais, em especial no Facebook onde grupos rivais se matam mutuamente. Não concordo que seja ódio e sim fúria. Afinal, no início da República o brasileiro já dizia que não se deve discutir política e futebol porque dá briga. E dá mesmo. Chamar essas reações de ódio é pesar a mão. Ódio e inveja são os sentimentos mais nefastos do ser humano e, no caso, há sim uma minoria que em nome de uma paixão política passa a odiar os contrários. Mas a maioria sente fúria. Pergunte a seus pais ou avós como era nos tempos de PTB versus UDN. Se existisse Facebook as agressões de petebistas contra udenistas e vice e versa seriam em quantidade muito maior e bem mais sangrentas do que hoje. Conheço gente tranquila...

Me rendi aos discos voadores

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            As bolas que vimos eram vermelhas e não laranjas como essas. Eram muito parecidas              só que eram muito maiores e aos milhares subindo em alta velocidade para o céu      Já era hora de reavaliar algumas opiniões relacionadas a Ovnis. Sei que é politicamente incorreto, mas prefiro chamá-los de discos voadores. Nunca havia visto e também nunca acreditei neles. Mesmo nos anos 80 quando estava na praia de Itaipu com Steve Hackett, Hilário Alencar, Selma Boiron e Carlos Lacombe, e vimos, todos, milhares de gigantescas bolas vermelhas subindo para o céu, em silêncio profundo, durante quase um minuto e ninguém entendeu.  Não sei se Selma e Hilário lembram da visão. O grito aflito, extasiado do Steve (“Fly saucers! Fly saucers!”) não me sai da lembrança. Anteontem, o produtor Steve Altit, responsável pela vinda de Steve Hackett ao Brasil (toca hoje, sexta, no Vivo Rio e amanhã...

As crianças tem razão

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Está havendo muita injustiça e preconceito com as novas gerações, que alguns chamam de alienadas, vazias, fúteis, cabeças de vento, acomodadas. Não é verdade. Todo mundo já passou pela adolescência, um gigantesco HD vazio registrando tudo que está à sua volta. Tudo. O bom, o mau e o feio. A adolescência e a pós-adolescência são uma fase experimental imposta pela natureza para que os filhotes atravessem a transição criança-adulto querendo saber. Há muito deslumbramento, decepção, dor e, lógico, radicalismo e oposição. O adolescente obediente “bovino” e cordato não está bem. Posso falar? Não é um adolescente normal. Adolescente tem que dar trabalho, tem que provocar, tem que irritar, tirar do sério. Ele acha que tem (e tem mesmo) o direito de levar a vida que acha certa. Cabe aos adultos insistentemente tentar conversar com o adolescente. Os adolescentes de hoje estão vivendo uma das eras mais tumultuadas de todos os tempos. A tecnologia transformou a revolução ...

A eterna magia do Circo Voador

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Hoje o Caderno B, do Jornal do Brasil, publicou uma matéria minha sobre o show do grande Lô Borges, no Circo Voador. Será nessa sexta-feira na “Nave” (apelido do Circo), onde Lô Borges e banda irão gravar um DVD com as músicas do lendário “Disco do Tênis” (1972) e também das nove músicas dele que estão no mítico  “Clube da Esquina”, do mesmo ano. Não tenho dúvida de que o Circo Voador é o melhor espaço cultural do Rio. Certamente do país. Segundo um viajado amigo meu, do mundo. Cúmplice da cultura de qualidade, desde 1982 a "Nave" apresenta uma programação imbatível, linkada com o novo mas valorizando, também os momentos antológicos, mágicos. O Circo é mágico. Tem em sua essência a alma inquieta, rebelde, risonha e tudo mais da Maria Juçá, uma amiga que os ventos do destino puseram em meu caminho na segunda metade dos anos 1970. Ela trabalhava no Jornal do Brasil, eu na Rádio Jornal do Brasil. No início dos anos 80 eu saí da Rádio JB para fazer a Fluminense ...

13:15

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O que se comenta é que o verão está fazendo as malas e pega o ônibus espacial, rumo ao hemisfério norte, as 13:15. Aqui no sertão fluminense passamos o último dia de verão sufocados por uma sensação térmica de 44 graus. Vi muita gente reclamando nas ruas, um mau humor generalizado e em vários lugares até os apegados flanelinhas sumiram.  Essa segunda-feira foi um dia especial para mim. Bandidos invadiram a minha conta bancária, levaram uma grana do especial, fizeram empréstimo, fizeram TED, DOC e o escambau. Entrei em desespero. Fiquei de uma da tarde as sete da noite tentando que o banco me devolvesse o que os bandidos roubaram, que na verdade era do próprio banco em oito golpes de dois segundos cada, entre 12 e 13 horas. Estancou porque eu quase enlouqueci recebendo os SMSs e liguei para o banco, que bloqueou a minha conta. Cancelei reuniões importantes, mas o que fazer? Uma familiar muito querida sofreu o mesmo golpe semana passada. O banco reconheceu a falha...

Pau de enchente

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Bruce era um pau de enchente, rolando pela vida, batendo numa margem e na outra, afundando e flutuando como um caule de eucalipto no leito de um rio caudaloso. PhD em filosofia achava que o homem era uma flecha arremessada no universo, sujeito a rotas, desvios, vitórias e fracassos, ao sabor do destino. Bruce não agendava nada. Não programava, não projetava, não arquitetava, apenas vivia. Como um pau de enchente. Seu nome fora inspirado em Bruce Wayne. O pai passou boa parte da adolescência assistindo Batman & Robin na TV e lia tudo sobre o homem morcego. Tinha álbuns, posters, figurinhas e até uma fantasia de Batman que adoraria usar todos os dias mas, diante do provável ridículo, vestia apenas no carnaval. Na época dizia que se tivesse um filho ele se chamaria Batman. Tornou-se um respeitado e famoso jurista e por isso batizou o filho de Bruce. Batman não seria de bom tom. Bruce era considerado um gênio, mas diante do espelho se achava um fiasco. Aos 20 e poucos anos ...

Mundo em transe

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Se o arquiteto do horror nazista Joseph Goebbels, gênio de todos os males, vivesse no mundo de hoje estaria utilizando fartamente as redes sociais, programando milhares de robôs para disseminar notícias falsas (fake news) aos milhões para “vender” o nazismo como solução para a salvação do planeta, nesse momento em que o mundo está em transe, quase hipnótico. É dele a frase “de tanto se repetir uma mentira, ela acaba se transformando em verdade". O planeta está mergulhado em dúvidas, desconfianças, ódio. O Brasil mais ainda. Não que nunca tenha se odiado tanto por aqui, mas jamais houve tanta divulgação do ódio graças a internet. Ódio viraliza, manda matar, santifica, mitifica, mistifica, endeusa, demoniza a cada segundo, em cada computador, celular, tablet. No passado um jornalista quando saia para trabalhar era obrigado a deixar em casa suas opções políticas que, em caso de fanatismo (o que não é raro), torna o homem cego e surdo, mas mudo jamais, e é aí que reside...

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A lama asfáltica envolvendo o meio fio exala um odor de chorume que virou aroma oficial das cidades medíocres. Atravessar o asfalto lamacento sem ser morto por ônibus, carro, van, moto, bicicleta, que desafiam o excesso de leis e a malemolência das autoridades, só pode ser milagre. Na calçada esburacada e estreita, pessoas cabisbaixas tentam caminhar e sobreviver sob marquises que parecem em péssimo estado, fiações elétricas que lembram pedaços de bombril nos lixões. Cada passo um suspiro. Cada passo uma lambança. Cada passo um milagre. Cada passo uma sobrevivência. O carteiro conversa animado com o guarda de trânsito apesar das cartas atrasadas e do trânsito engarrafado. Afinal está calor e o celular do guarda não para de tocar. São dois supostos agentes da cidadania que, curiosamente, desprezam os cidadãos. Vontade de dar uma pedrada em ambos, mas o calor não permite. Na esquina amontoada de pedestres congestionados, o dono do bar coloca mesinhas na calçada. Dane-se ...

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Stephen Hawking 1942 - 2018

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- A vida seria trágica se ela não fosse engraçada. - Vivo com a perspectiva de uma morte precoce há 49 anos. Não tenho medo de morrer, mas também não tenho pressa. - Inteligência é a capacidade de se adaptar à mudança. - A prova de que no futuro não existirão viagens no tempo, é que não estamos sendo visitados pelos viajantes do futuro. - O paraíso é um conto de fadas para pessoas com medo do escuro. - Pessoas quietas possuem mentes barulhentas. - Não importa quanto a vida possa ser ruim, sempre existe algo que você pode fazer e triunfar. Enquanto há vida, há esperança. - Mesmo as pessoas que dizem que tudo está predeterminado e que não podemos fazer nada para mudá-lo, olham para os dois lados antes de atravessar a rua. - Eu não sou religioso no sentido normal. Eu acredito que o universo é governado pelas leis da ciência. As leis podem ter sido decretadas por Deus, mas Deus não intervém para quebrar as leis. - Mesmo que a vida pareça difícil, há ...

TV ligada em restaurante

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Quando vou a um restaurante pela primeira vez telefono. Por ordem de importância faço três perguntas: 1 - o ar condicionado está gelando; quantos graus? 2- tem aparelhos de TV ligados? 3 - tem manobrista? O ar condicionado dá para sentir logo e se não está gelando caio fora no ato. Minha tolerância ao calor é baixa, fico ansioso, não me sinto bem, enfim, o calor nessas circunstâncias estraga tudo. A questão do carro é de média importância porque, para não me aporrinhar, tenho usado Uber cada vez mais. Mas se dizem que há manobrista, vou de carro. Um dia desses me aporrinhei porque o cara me deu um cartão, entreguei o carro a ele, entrei no restaurante para almoçar e quando, saí paguei 10 reais e o cara trouxe meu carro parecendo uma sauna. Estacionou no sol, cacete! Foi justamente para não acontecer isso que paguei os 10 reais. De uma maneira ou de outra, dá para contornar quase tudo nesse tipo de programa, menos a famigerada TV ligada. Não dá para conversar e sabor...

Dores e dormências

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Breve, muito em breve, elas vão começar a chegar. As massas polares que frequentam o outono, que já está na antessala, que bom!) e o inverno no Brasil trazem o azul mais profundo do céu infinito, realçam o verde das árvores e nos convida a visitar a oca de nossas reflexões. Mesmo os chamados antireflexivos, sem saber, refletem sim. Ou, na pior das hipóteses, contemplam a vida com um olhar levemente crítico do tipo “o que é que estou fazendo neste filme?”. Quando as reflexões são profundas muitas vezes se tornam crises existenciais. Como o mar de marolas que vai engrossando, engrossando e vira, trazendo as ressacas. Ressacas, irmãs do inverno, das pedras e conchas geladas, vento soprando de leste. Viver é fundamental. Refletir, idem. Em muitos momentos os pensamentos mergulham em trilhas duras e sofridas mas, graças à luz do outono/inverno, chegam a alguma conclusão saudável. Outono e inverno parecem jogar a nosso favor. Nada contra a primavera e o verão, mas penso que o...

Divino

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Dias chuvosos. Você adorava. Eu também. Herança perpétua. Perpétua. Foi num dia chuvoso que fomos a Divino, em Minas Gerais, para você visitar um amigo desde os tempos de escola que estava adoentado. Um italiano cosmopolita, culto, espirituoso que se apaixonou por uma mulher daquela região. Não voltou para a Itália. Saímos cedo, ainda noite, cinco  e meia da manhã para rodarmos quase 800 quilômetros de ida e volta. Você só queria dar um abraço no amigo e voltar. Paramos no Alemão, Rio-Petrópolis e comemos bem. Você estava alegre, eu também. Fazíamos muito bem um ao outro desde que o vi e você me viu no berçário da maternidade. No caixa, antes de voltarmos para a estrada, você comprou uma embalagem com seis bombons Sonhos de Valsa que ambos devoramos pelo caminho. Estrada sinuosa sob a chuva fina e, apesar de ir visitar o amigo não escondia o orgulho de estar me levando para, enfim, ir conhecer a sua pequena torrefação de café, lá em Divino, cujo amigo italia...