Esperança & Expectativa
Um abismo profundo separa o significado prático e
filosófico de esperança e expectativa. Esperança é o possível, expectativa é o ideal, que não
existe.
A expectativa é parente próxima da ansiedade, da
correria, da falta de ar, faz nossos pés molharem em Manaus quando ainda está
chovendo em Porto Alegre. Já a esperança é centrada, amena, racional. A
esperança faz projetos, a expectativa cisma.
A receita perece envolver não correr, não fugir, partir para cima com todas as forças
disponíveis e depois aguardar a hora da colheita, deixar o destino
trabalhar em paz. Pilhar o tempo todo, insistir, forçar a barra, chutar portas, em
geral levam ao desespero sob o manto da expectativa.
Há milhares de anos, os asiáticos costumam escrever que o
silêncio é uma forma de comunicação. Pode até ser, mas não sou asiático, sou
latino. Logo, não comunicou nada disse. Quando os sinais não veem (ou vão e não
voltam), nada aconteceu. A esperança ensina que se não há declaração de amor ou
declaração de guerra, não existe uma coisa nem outra. Cínica, a expectativa
insiste que nem sempre os sentimentos emitem sinais. Como mente essa senhora,
que eventualmente se traveste de tola.
Gerar expectativas leva a culpa. Falar de esperança, não.
A expectativa é volátil, enganadora e induz suas vítimas a impregnar
a humanidade de promessas enquanto prepara uma desculpa para se livrar da
situação. A esperança resolve, a expectativa tenta se livrar. Esperança leva a
reflexão, a expectativa traz a insônia. Esperança não teme o início, o fim, o
meio.
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