Uma simples homenagem a Arthur Maia - 1963-2018
Arthur
Jaco
Jaco
Arthur,
foi um choque saber da sua morte hoje, por volta de meio dia,
56 anos, parada cardíaca. Você era um ídolo para mim, um dos
melhores baixistas do mundo. Sorte que tive a chance de te tietar
pessoalmente, várias vezes e a sua partida mostrou que não há
tempo a perder e eu espero que você tenha vivido quase todos os seus
sonhos, já que todos os sonhos só os lunáticos alcançam.
A
homenagem simples que te faço, ainda muito tomado de emoção é um
texto antigo que publiquei aqui há tempos sobre os momentos
inusitados que você passou em Nova Iorque. Você mesmo me ligou
dizendo que a história ficou ótima. No mais, vou guardar a emoção
de ouvi-lo em vários discos, ao vivo e também falando pra cacete,
dando risadas na beira do mar da Praia de Itaipu, onde papeamos
várias vezes. Mais uma coisa em comum: mesmo torta e meio largada
nós amamos essa cidade chamada Niterói. Meu chapa, Deus te proteja.
Valeu por tudo!
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É
muito bom ser fã de amigos. Um deles é Arthur Maia, um dos melhores
baixistas do mundo, que encontrei há tempos no Teatro Municipal de
Niterói durante o surpreendente (para mim) show de Mart'nália,
dirigido por ele. Show, chamado “Em África”, que com certeza,
Paul Simon adoraria assistir o espetáculo do pulso, da percussão,
da comoção, de tudo o que a África representa para a Música.
Uma
vez, escrevi no Estadão que se não fosse a África a música
popular não existira. Lá nasceu o ritmo, a batida, a alma. Alguns
leitores reagiram, disseram que não e eu sugeri que assistissem ao
documentário “The Rhythmatist” (1985), de J.P. Dutilleux e
Jean-Pierre Dutilleux, estrelado pelo
ex-baterista
do Police Stewart Copeland.
Ele
viaja pela África em busca da origem do ritmo. Participa de
cerimônias em tribos isoladas sempre sob o manto da percussão e fez
uma experiência fantástica. Montou uma bateria Tama completa dentro
de uma jaula. Copeland entrou e essa jaula foi colocada numa savana
infestada de leões, que tentavam devorá-lo enquanto ele tocava.
Queria passar (e passou) para a bateria todo aquele sentimento de
primitivo terror.
Bom,
esse é o poder da percussão. Arthur Maia subiu no palco deu uma
canja no final do show de Mart'nália, para um Teatro Municipal de
Niterói super-lotado, de pé, em histeria total. Antes, eu disse
“Arthur, vou contar em meu blog aquela sua experiência com Jaco
Pastorius”. Ele disse que tudo bem, e, por isso, aqui vai.
Jaco
foi um dos mais importantes baixistas da chamada música fusion,
também conhecida como jazz-rock. Foi do Weather Report, grupo que
reluz em minha estante de discos, mas tinha problemas sérios com
álcool e drogas. Batizado de John Francis Anthony Pastorius III,
nasceu nos Estados Unidos e sua morte é até hoje um lamento, como
narra o portal Wikipédia:
“O
trágico fim de John Francis Anthony Pastorius III inicia-se em 11 de
Setembro de 1987. Após um show de Carlos Santana, se dirige ao
Midnight Bottle Club, em Wilton Manors, Florida. Provocou e acabaou
brigando com o gerente do clube, chamado Luc Havan. Como resultado da
briga, sofre traumatismo craniano e entra em coma por dez dias.
Depois que os aparelhos foram retirados, seu coração ainda bateu
por três horas. A morte do mais ilustre contrabaixista de todos os
tempos data de 21 de setembro de 1987, aos 36 anos e dez semanas. Foi
enterrado no cemitério Queen of Heaven, em North Lauderdale.
“Uma
das maiores homenagens prestadas a ele, foi registrada pelo lendário
trompetista Miles Davis, que gravou a música Mr. Pastorius,
composição do baixista Marcus Miller, lançada no álbum Amandla.”
Jaco
era o herói de Arthur Maia, que no começo deste mesmo 1987 foi a
Nova Iorque a trabalho. Através de um percussionista amigo, soube
que Pastorius costumava jogar basquete numa quadra pública no Bronx.
Arthur foi lá.
Um,
dois, seis dias, nada de Jaco. Até que, quase desistindo, num fim de
tarde viu um baixo Fender Jazz Bass ano 62 largado sem case
em cima de um banco. Arthur gelou. Olhou para a quadra e lá
estava Jaco Pastorius jogando basquete com um grupo local.
Arthur,
aflito diante de seu ídolo maior, não sabia o que fazer. O jogo
acabou, o percussionista apresentou os dois e Arthur disse que queria
ter uma aula com ele. Jaco disse “tudo bem, é só me pagar 50
dólares adiantado”. Arthur deu o dinheiro e marcaram a aula para o
dia seguinte. Jaco sumiu. Nunca mais. Arthur só soube dele quando
morreu. Mas ainda assim, sempre comovido, me disse “eu vi o cara,
cumprimentei, toquei a mão dele, ouvi sua voz, vi seu baixo todo
lanhado...claro que valeram os 50 dólares”.
Não
foi à toa que uma vez escrevi (não lembro onde) que Arthur Maia deu
sequência ao estilo de contrabaixo inventado por Jaco Pastorius. E
essa história caberia muito bem numa autobiografia que Arthur Maia
precisa escrever contando tudo o que viveu e vive entre as maiores
estrelas da música mundial. A plateia agradece e aplaude por
antecipação.
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