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Mostrando postagens de 2022

A Lira do Delírio

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  Nesta quarta-feira precisei ir ao miolo do Centro de Niterói onde os ecos de uma parte de minha história reverberam nos rebocos rachados e cheios de limo de casas, ou quase casarões e sobrados que estão preservados por uma razão não muito digna. Estão abandonados. Desde sempre. Comecei a trabalhar naquela região. Naquela região nasceu a Rádio Fluminense FM. Nesta quarta-feira à tarde eu estava de bicicleta, há tempos o meu meio de transporte. O miolo do Centro de Niterói, - vou tentar explicar – são aquelas quadras onde ficam ruas como Visconde de Itaboraí, Visconde do Uruguai, Marques de Caxias, Saldanha Marinho. Podemos dizer que o epicentro do miolo é o Jardim São João. Pedalando por ali, devagar, cruzando as extensas e organizadas filas de barracas de camelôs, a sensação é meio de melancolia, abatimento, desalento. Talvez o que estejam sentindo aquelas casas que um dia, em algum século que já voou, tenham sido alegres como os galos, as noites e os quintais. Ca...

Libertação e expectativas prisioneiras, por Margareth Dalcolmo

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  Impossível não reproduzir este profundo artigo da cientista Margareth Dalcolmo, publicada no Globo de hoje:   É desconcertante no bom e no mau sentido, constatar os excessos do ser humano, após mais de dois anos de pandemia, quando deveríamos com prioridade estar vencendo as desigualdades vacinais para proteger a população, em ver eclodir uma guerra evitável. Ver o planeta, ainda que muito diversamente, se preparar para pensar um amanhã, nas especificidades das culturas. Quando olhamos as imagens de destruição de prédios na Ucrânia, o que vemos é um excesso de realismo, como num perverso jogo de Lego ao avesso; de lares e de vidas, ao vivo em nossas salas, com restos de sapatos ou pedaços de bandeira. Fica muito difícil acreditar na humanidade como cuidadora de seu próprio destino. Um amanhã sobre o qual os filósofos contemporâneos, não apenas Giorgio Agambem com sua controversas assertivas sobre a magnitude da pandemia, desde o início, mas Bruno Latour, Judith Butle...

Eutanásia Cósmica

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  Há uns anos, li num site de quinquilharias semi inúteis que os americanos estavam inscrevendo, na surdina, candidatos a voos de ida sem volta a Marte. O site dizia que várias pessoas tinham feito inscrições. Teriam assinado uma papelada gigantesca com autorizações, consentimentos, termos de isenção de responsabilidade, etc. Receberiam uma dinheirama que ficaria para pessoas, instituições, cachorros e similares indicados pelos viajantes. A espécie humana ainda não consegue ir e voltar a Marte. Morre no caminho. Significa que os supostos inscritos estariam cometendo uma espécie de eutanásia cósmica, suicídio espacial ou coisa parecida. Não vou alimentar a pancadaria, mas quem não pede para nascer no mínimo tem o direito de escolher a hora e como morrer. O mundo está a cara da década de 30, aquele barril de éter, enxofre e pólvora que defenestrou a beleza, a sensualidade, a libertinagem, a democracia dos anos 20. No Brasil, estado novo (com letras minúsculas), nazismo tropical (inte...