Você conhece o Babalu?
Texto
restaurado e remixado
Não conheço
nenhum Babalu, apesar de um conhecido meu, que encontrei no catamarã, ter
insistido em me mandar um “abraço do Babalu”. Sabe aquele sono eventual que
bate depois do almoço, você entra num catamarã social vazio e fica ao sabor da
brisa? Foi o que planejei naquela tarde.
Corta! Encontrei
o conhecido na chamada “fila do gado”, aquela que o povão forma para entrar na
embarcação. Como ele não lê esse blog, posso afirmar do fundo do coração: o
cara é chato pra cacete. Mas, fazer o que? Ele se aproximou, colou em mim e
sentou a meu lado.
E tome a falar
do tal Babalu que, segundo ele, é meu amigo de infância. Mentira porque passei
minha infância (três a nove anos) em Angra dos Reis e, de lá, todos os meus
amigos se espalharam pelo mundo. Mas eu não estava a fim de discutir, apesar de
ser rigoroso com esse papo de “fulano é seu amigo”.
Não é assim. Muitas vezes já me perguntaram “você conhece
Fulano?”, e respondi, com elegância, “não, conheço só de vista”. Dizer que
conhecemos alguém nos torna avalistas do “conhecido”.
Não é o caso do
sujeito que encontrei no catamarã que, de fato, sei quem é, mas saber quem é e
conhecer são situações completamente diferentes. E quando o barco atracou no
Rio, confesso que me deixei levar pela multidão e, propositalmente, me perdi do
conhecido que me congestionou com uma overdose de palavras e frases soltas. Não
agüentei ouvir tanta inutilidade pública e estava vendo a hora que ia pegar no
sono no meio do monólogo dele.
Fui a uma
reunião e, na saída, em frente ao Museu de Belas Artes, na Rio Branco,
encontrei um leitor. Ele estava acompanhado da mulher, me apresentou. Achei
engraçado porque não o conheço e nem ele a mim, apesar de minhas crônicas e
contos, eventualmente, abrirem o buraco da fechadura.
O leitor estava
satisfeito, cheio de “Fulaninha, esse aqui é o Luiz Antonio...” e a esposa,
também constrangida, disse “muito prazer” e tudo ia muito bem até ele me
perguntar para onde eu ia. Temendo que ele fosse para Niterói, sapequei um “vou
até o Rio Comprido resolver uns assuntos”, quando ele rebateu “pois nós estamos
indo para o Leme”.
Encerrado o encontro,
quando inclusive me chamou de “amigão”, fui embora pensando. Pensando nessa
profissão maluca que fabrica conhecidos pelo mundo e até amigos próximos sem
que saibamos o que está acontecendo. Querem saber? No fundo, acho isso tudo
sensacional.
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