Amor
Texto remixado
“O
medo de amar é o medo de ser livre”. Gravada em 1978, a canção
de Beto Guedes com letra de Fernando Brant reflete a mais pura e,
para alguns, brutal realidade. Só resta saber se esse amor que a
bela música descreve, o que dá medo, é consciente ou inconsciente.
Em outras palavras, será que existe alguém que teme o amor, sabe
disso e nada faz?
Certa
vez disseram que “o amor é brega”. Claro que é, mas e daí?
Como será viver sem amor, atravessar o deserto existencial sem um
copo d´água, uma brisa? Como seria viver sem jamais ter sentido o
amor? Estou me referindo ao amor afeto e não o universal ou o
fraternal. Falo do amor consequência da paixão entre duas (ou mais)
pessoas.
Por
isso gostei tanto do filme “On The Road”, que Walter Salles
dirigiu mas cometeu o desatino de batizar de “Na Estrada”, em vez
de usar o nome do livro que, com sabedoria, transportou para o
Cinema. É um ácido filme de amor sim, por que não? Desde que li
“On The Road” de Jack Kerouac (clássico do movimento beat
lançado em 1951) em três momentos especiais de minha vida senti a presença do amor da primeira a última página. Que tipo de
amor? O amor caos, o amor clamado, implorado, quase ausente. Amor
desespero, amor sublime, amor angústia, amor proibido, amor
anfetamina, amor álcool, amor, amor, amor. Nem sei se Kerouac soube
que escreveu tão bem sobre o amor que Walter Salles filmou.
Meu
milenar amigo Roberto Marra, que é psicoterapeuta, define “Django
Livre”, de Tarantino, como um filme de amor. Especialmente do
alemão Dr. King Schultz pela negra Broomhilda, amada por Django. De
fato, Roberto me alertou para um movimento afetivo que eu não havia
notado; o fato do alemão, pouco a pouco, ir se apaixonando por ela
com base nas histórias que o ex-escravo vai contando.
O
amor é um sentimento absolutamente necessário para todos os seres e
mora aí meu grande questionamento em relação a igreja católica.
Estudei em colégio católico de 11 a 17 anos. Homens de batida
amargos, complexados, rancorosos, acabavam descarregando nos alunos
todas as suas frustrações, o seu não viver, quase inexistência
social. Daqueles religiosos, todos abandonaram a batina e passaram a
amar, casar, ter filhos. Encontrei vários ao longo dos anos e no
lugar da truculência seca da desidratação afetiva, vi homens mais
tolerantes, generosos, bem humorados.
Concordo
com Caetano quando, na magistral “Paula e Bebeto” que ele compôs,
Milton Nascimento canta “qualquer maneira de amor vale à pena”.
No início dos anos 70, auge da adolescência, uma namorada minha me
disse algo parecido quando nos beijávamos e sussurrávamos segredos
no alto de uma pedra na praça Ginda Bloch, em Teresópolis, ouvindo
sem parar “That´s Way”, do Led Zeppelin. Que som. A letra não
trata de amor especificamente, mas a música é amor em estado
líquido. Como é o caso da fabulosa e acrilírica “Love Reign O´er
Me”, The Who. Amor em letra e música. Tema infinito enquanto dura,
o amor voltará a essa página. Com certeza.
Beto
Guedes
Milton
Nascimento
Led
Zeppelin
The
Who
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