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Mostrando postagens de junho, 2019

Onanismo ao vento

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Por motivos não alheios a minha vontade meu fuso horário deu uma virada. Longa madrugada. Não gosto de escrever e publicar no ato, no pós coito imediato. Deixo decantar, como café turco, horas depois passo o pente flamengo e publico. O que mais nos difere dos chamados irracionais é a consciência do afeto, apesar dos cachorros. Sempre conversei normalmente com os cachorros que  pareciam entender o que eu dizia e, também, sentiam os meus afagos. Sinto falta de cachorro e de sua vasta (na verdade infinita) paciência de ouvir, ouvir, ouvir. Na faculdade fiz um trabalho sobre isso, mas omiti o exemplo dos cães para que não achassem que é coisa de maluco. O professor de Psicologia Social não gostou quando, para disfarçar, escrevi que os animais vivem única e exclusivamento deinstintos, reflexos. O professor disse que viveu uma experiência num lugar bem perto de uma família de gorilas, o que virou a sua cabeça. Passou a achar que, de alguma maneira, os animais irracionais tamb...

International Magazine

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Anteontem o colega Emilio Pacheco, gaúcho de Porto Alegre, postou no Facebook um muito merecido texto reconhecendo o seu trabalho e citou o International Magazine, jornal musical mensal da maior importância que atravessou o Brasil durante muitos anos nos anos 1980/90. Emílio escreveu lá, muita gente boa ligada a música frequentava as páginas daquele tabloide que dava show de conteúdo porque tinha uma equipe de colaboradores livre. Literalmente. O jornal era uma parceria do Marcelo Fróes e Marcos Petrillo e eu tinha um espaço chamado “Desconsiderações”. O ser humano não é contemporâneo de seus momentos felizes (prefere sentir saudade desses momentos no futuro), sei lá por que, e como também sou gente (presumo) também sou assim. Quem conheceu o I.M. certamente sabe do que estou falando e quem não conheceu perdeu. Foi um grande jornal. Hoje posso afirmar com todas as letras que nunca me senti tão livre escrevendo porque despejava tudo o que vinha a cabeça, sem, sequer, usar um...

Fale conosco

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Muitas empresas e instituições pedem que a gente dê notas pela qualidade do atendimento prestado pelo funcionário. Apesar de desconfiar que ninguém vai ouvir a minha nota quando ligo, por exemplo, para a operadora de telefone (tem mais de 100 milhões de assinantes) dou nota máxima quando bem atendido e nota nenhuma quando não. Simplesmente desligo. Vai que um zero se acumula a outros e a pessoa, mesmo podre de humor, é demitida? Reconhecer a boa vontade é mais importante do que esbofetear o oposto. Quem sabe elogiando, estimulando, reconhecendo poderemos sinalizar que ser cordial é o melhor caminho?

91 invernos

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                                                                                    Saudade. Eliseu Visconti

Armas

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Melhor depôr as armas. Telefonei e expliquei que o boleto não havia chegado. Mal humorada (segunda-feira é um péssimo dia para que não gosta do que faz), ela cortou. “Nós enviamos o boleto”. Corte. “Estou informando que não recebi e não que a senhora não enviou.”. Entendeu. “Enviaremos uma segunda via”. O PM mandou encostar. “Documentos”. Na sequência.“Mostre o IPVA pago”. Saio do carro. O PM afirma que “o senhor estava em alta velocidade”. Não havia nenhum radar, mas optei por não questionar. “Sim, estava rápido, sim”, disse. O PM explicou que “pode dar multa e encher de pontos a carteira”. Concordei. Perguntou “o senhor está com alguma urgência?”. Respondi, “Não senhor”. “Por que essa velocidade?”, ele quis saber. “Não sei”, respondi. “Pode ir embora, mas na próxima vez vou mandar rebocar”. Chamei o garçom. O ar condicionado do restaurante está fraco. “Vou olhar”, ele disse. Voltou dizendo que estava normal. Agradeci, levantei e saí. Almocei em outro lugar. O flan...

Let it Be, o filme

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O filme “Let it Be” não está disponível porque Paul McCartney e Ringo Starr não querem trazer de volta à tona as cenas sombrias que marcam o debacle da maior banda da história. Dirigido por Michael Lindsay-Hoog, foi feito ao longo de janeiro de 1969 e lançado em maio de 1970, quando a banda já havia acabado. Paul McCartney foi o único que lutou para que o filme fosse feito (aliás, era o único que ainda parecia acreditar que dava para seguir em frente com o grupo), e o que era para ser o registro histórico dos ensaios, momentos de composições, interiores do maior grupo de rock de todos os tempos acabou se transformando num testemunho vivo sobre o fim dos Beatles. Não há qualquer tipo de iluminação de cinema. Não há cenários, o roteiro é mínimo, a falta de luz gera a sensação de má qualidade das imagens, mas e daí? As câmeras circularam à vontade entre os músicos no estúdio, registrando conversas, gargalhadas e mal estar. George Harrison não esconde que já está de saco che...

Uma verdade absurda

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"Até o Último Homem" foi dirigido por Mel Gibson e indicado ao Oscar em seis categorias, inclusive a de melhor filme. Impressionante o ilimitado poder da determinação de um homem, que ultrapassa a barreira do absurdo. Cercado de sangue, vísceras, pernas amputadas por bombas, o tal homem, que não encosta a mão em armas, decide ir para a II Guerra Mundial disposto, somente, a ajudar. E, impressionante, acaba indo parar na sangrenta e histórica Okinawa (Japão), a maior batalha marítimo-terrestre-aérea da história, entre abril e junho de 1945. O vendaval de absurdos ao longo do filme nos deixa abismados. Como aquilo tudo pode ter sido real? Como existem pessoas assim num planeta incendiado por nefastos? Como? Como? Como? Banhados pela comovente e caótica história, deslumbrante fotografia e efeitos especiais, e pelo som, até os mais descrentes acabam sucumbindo e se entregam a esperança. O que mais me chocou positivamente no filme "Até o Último Homem" fo...

Milagres

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          AirBus 320 pousa no Rio Hudson, Nova Iorque, janeiro de 2009. Nenhum ferido.                                                  Milagres existem.                                                   Acontecem. É só pedir a Deus. Deus está cima de crenças, protocolos, formalidades, dialética. Se um ateu pede um milagre, terá um milagre. Ponto. Deus gosta de nossos pedidos. De todos. Absolutamente todos. Para falar com Deus basta pensar em Deus. Como quisermos. Deus é livre. Deus ama os nossos problemas. Use sem moderação, o tempo todo, o dia todo. Peça, peça, peça. Deus adora o que pedimos. ...

Zeffirelli e A Grande Arte

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                                              Olivia Hussey em "Romeu e Julieta". Franco Zeffirelli (1923-2019) foi um de meus dos mais importantes mentores, um homem que me mostrou um cinema farto, grandioso, belo, lírico. Certa vez escrevi, meio tomado pela emoção, que Zeffirelli despejava a alma latina na tela, mas depois me arrependi. Tarde. O jornal já havia rodado e estava nas bancas. Me arrependi porque ele despejava na tela não só a alma latina, mas a essência da alma humana. Desde muito pequeno, muito pequeno mesmo, ia ao cinema com a minha mãe e meu irmão. Aquele ambiente, o ritual, a luz que iluminavam as cortinas de veludo vermelhas apagando, o toque do “gongo sutil” anunciando o início da sessão, que tinha o Canal 100, os trailers, o ar condicionado, o lanterninha e, logo, um Zefirrelli envolvendo a tela. Tela que, como um manto, nos tomava pelos bra...

Otimismo & Pessimismo

                                    Se esses caras fossem pessimistas o "disco voador" não subiria Se todo mundo, em todos os tempos, fosse pessimista 24 horas por dia ninguém teria nascido. A começar por nós. O pessimismo crônico, assim como o mau humor, em geral são sintomas clássicos (eu diria óbvios) de depressão e ansiedade aguda que, de cara, conduzem diretamente a inapetência existencial. Não é normal ser pessimista o tempo todo. Não é normal ser otimista o tempo todo. A leve e harmônica oscilação de humor rege a saúde do nosso sistema nervoso, ensina a boa medicina. Os negativistas tem no pessimismo o início, o fim e o meio. O lema deles é o famigerado “nada será como antes” e reclamar de tudo é a essência. Reclamam do calor, do frio, da chuva, da falta de chuva, do trabalho, da falta de trabalho, do amor, do desamor, do céu, do inferno. Sem que ninguém diga claramente “m...

Dreams

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Levei um coice dos bons quando "Dreams", do Allman Brothers, explodiu nas potentes caixas de som Edifier do meu computador. Provavelmente a vizinhança não gostou, mas fazer o que se o nome disso é blues? Lembrei, como se fosse amanhã, do primeiro dia em que entrei na Radio Federal AM, a primeira emissora de Rock do Brasil, em 1973. Comecei lá, este ano, como estagiário passando logo a função de programador. Entrei na sala da produção e o Marcos Kilzer estava ouvindo "Dreams" da The Allman Brothers Band, aos berros, olhos fechados. Eu não conhecia. Disco de 1969, o primeiro dessa banda extraordinária que perdeu seu primeiro guitarrista, o grande Duane Allman, em 1971, aos 25 anos. Ele voada em cima da sua Harley Davison Sportster na cidade de Macon (EUA) e foi fechado por um caminhão que transportava um guindaste. Duane, mesmo estraçalhado, chegou vivo ao hospital, mas poucas horas depois morreu. Marcos Kilzer (hoje alto executivo da gravadora Coqueir...

Heresia com os Beatles

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Entrei no Uber e assim que começou a tocar uma música dos Beatles no rádio e eu senti um pouco de náusea. Reagi mal aos primeiros acordes de “Let it Be” (era essa a música) e me assustei. Estaria ficando de saco cheio dos Beatles? Quando? Onde? Por que? É verdade. Uma verdade que eu suspeitava mas não confirmava porque achava um absurdo. Mas estou enjoado de boa parte das músicas dos Beatles, não por culpa de Lennon, McCartney, Harrison e Starr, mas por causa da overdose de covers, tributos, versões, imitações, enfim, a molambalização que estão fazendo da obra da maior banda da história do rock. Com o passar do tempo (e das versões, dos covers, das homenagens e cusp!, tributos) fui enjoando. Não aguento mais ouvir Hey Jude, nem Something, Yesterday, enfim, a lista é grande, mas parou de crescer porque optei por parar de ouvir Beatles. Voltei a ouvir graças ao espetacular CD “Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band”, edição especial de 50 anos, remixada, com várias faixas b...

Sozinho não dá

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Jajá foi um mestre acidental que ganhei em meados dos anos 70, quando já estava submerso no jornalismo. Jajá era 30 anos mais velho do que todos nós (ele morreu em Minas Gerais), com certeza tinha o melhor texto que conheci e foi correspondente no Vietnã, no auge da guerra, entre 1969 e 1971, trabalhou em Londres também como correspondente. Em 1975 passou dois anos em Niterói. Foi aposentado por problemas emocionais, não pelo período que passou no Vietnã mas pela cobertura jornalística que fez do incêndio do Edifício Joelma, em São Paulo, em fevereiro de 1974 matando 191 pessoas. Ele dizia, sempre emocionado, que “aquelas cenas...eu jamais esquecerei o que vi...jamais entenderei, jamais entenderei”. Ele contava que para aliviar a dor começou a beber, “até ser resgatado por colegas em lixeiras de Londres. Mesmo assim não parei. Eu precisava afogar minhas lembranças nos copos, muitos copos, que me fizeram perder mulheres e me levaram a aposentadoria precoce”. Ele morreu alcoó...

Desordem desnatural das coisas

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                                                           Estação de Tamoios e Cancun Transformar a região da Estação Ecológica de Tamoios numa Nova Cancun é uma ideia tão insana quanto construir usinas nucleares num santuário ambiental. Nos dois casos, o palco escolhido como depositário de atrocidades, com a grife dos rufiões, foi Angra dos Reis, que se afirma como importante polo do narcotráfico latino americano. Pensou-se que a política ambiental do novo governo fosse mesmo mexer naquela área. Por exemplo, ativar e dar ares decentes aquele lixo largado que é a Estação Ecológica em si que, como tudo que é ambiental, foi escarrado pelos governos petistas. Mais: em nome do ambiente, achei que o atual governo fosse acabar logo com a crescente e acelerada favelização da Ilha Grande, que já abriga quadrilhas de facções crimi...

Os trovões da Geração Beat

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                              https://bit.ly/2HWCFMT     https://bit.ly/2HWCFMT   Há um tempo, publiquei aqui o Capítulo I de “Uivo”, o manifesto seminal da geração beat, escrito por, Allen Ginsberg, poeta do caos, genial para muitos, que leu o poema todo (enorme, ocupa livros inteiros) numa livraria marginal de San Francisco (CA), em 1956. https://bit.ly/2HWCFMT Terminou a leitura e foi imediatamente preso por vários policiais que invadiram o lugar. Foi julgado e condenado por atentado violento ao pudor. “Não tenho pudores, o éter banha os meus delírios, a gasolina passeia em minhas veias, esse lixo penetra a América podre, tomada de bactérias e infestações sociais como vocês”, berrou para os policiais. Todo mundo ouviu. Ginsberg é personagem de um excelente filme de 2014, dirigido por John Krokidas, “Versos de um Crime” que assisti na Netflix.  Aborda uma outra encrenca ...

Amor marciano

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                                      Superfície de Marte. NASA / JPL-Caltech / MSSS. O amor de mão dupla não é obrigatório. Caso do amor proibido, que é só de ida. Sem volta. Como um voo a Marte. É claro que existe amor eterno, estrelas siamesas que se esbarram perto de um romântico poste de luz à óleo, sabe como é? A cena não é minha. É de um filme dark e romântico. Lógico. Morgan Freeman pergunta como seria viver sem amor em sua série “A História de Deus”. Meto o dedo e tento completar: como seria atravessar o deserto existencial sem um copo d'água, uma brisa, um sopro? Como seria viver sem jamais ter sentido o amor? Amor nutrido na paixão. O drama da civilização é acreditar que o amor tem formato. Não tem. O amor platônico por exemplo. Aos trancos e barrancos, Wikipedia tenta explicar: Ligação amorosa entre duas pessoas onde não há qualquer tipo de i...

Meia liberdade, meia virgindade, meia canalhice

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O famigerado Estado Novo do ditador Getúlio Vargas proibia a divulgação de temperaturas acima de 40 graus. Rádios e jornais que a máxima tinha atingido 40 graus e um décimo, em qualquer ponto do território nacional (inclusive na adorável Bangu), corriam o risco de ser devidamente degolados. Naquela época a legislação trabalhista obrigava que todos os empregados fossem liberados quando a temperatura ambiente passasse dos 40 graus. Em 1969, sempre fazendo meia com o poder, empresários de peso foram a Brasília conversar ($) e mantiveram a proibição getulista que, cínica, que se dizia “informal”. Informal é o cacete. Deram grana ao governo e a censura aos 40  graus continuou. O site “Plenário MT” publicou um artigo, que comenta:  “(...) Em 1955, com o clima político fervendo por causa da eleição de JK e de um movimento golpista para impedir sua posse, o filme “Rio 40 graus”, de Nelson Pereira dos Santos, foi censurado pelo então chefe de Polícia, um coronel, que pr...