Amor marciano

                                      Superfície de Marte. NASA / JPL-Caltech / MSSS.

O amor de mão dupla não é obrigatório.

Caso do amor proibido, que é só de ida. Sem volta. Como um voo a Marte.

É claro que existe amor eterno, estrelas siamesas que se esbarram perto de um romântico poste de luz à óleo, sabe como é?
A cena não é minha. É de um filme dark e romântico. Lógico.

Morgan Freeman pergunta como seria viver sem amor em sua série “A História de Deus”. Meto o dedo e tento completar: como seria atravessar o deserto existencial sem um copo d'água, uma brisa, um sopro? Como seria viver sem jamais ter sentido o amor? Amor nutrido na paixão.

O drama da civilização é acreditar que o amor tem formato. Não tem.

O amor platônico por exemplo.

Aos trancos e barrancos, Wikipedia tenta explicar:

Ligação amorosa entre duas pessoas onde não há qualquer tipo de interesse envolvido. Esta definição, contudo, difere da concepção mesma do amor ideal de Platão, o filósofo grego da antiguidade, que concebera o Amor como algo essencialmente puro e desprovido de paixões.
Para ele, paixões são essencialmente cegas, materiais, efêmeras e falsas. O amor, no ideal platônico, não se fundamenta num interesse, mas na virtude que possibilita sempre uma nova chance de recomeçar.

Platão que me desculpe, mas meu sangue latino não se entende com o bege do tal amor desprovido de paixão, sexo, nó na garganta, saudade, etc e tal.

“On The Road”, de Walter Salles baseado no clássico beat de Jack Kerouac, é um ácido filme de amor sim, por que não? Desde que li “On The Road”, em três momentos especiais de minha vida, senti a presença do amor da primeira à última página.

O amor caótico, o amor clamado, implorado, quase ausente. Amor desespero, amor sublime, amor angústia, amor proibido, amor rastejante, amor anfetamina, amor álcool, amor heroína, amor, amor, amor. Nem sei se Kerouac soube que escreveu tão bem sobre o amor.

Já definiram “Django Livre”, de Tarantino, como um filme de amor, especialmente o que rola entre o alemão King Schultz pela negra Broomhilda, também amada por Django.

Mesmo que o clássico verso de Paulinho da Viola em “Tudo se Transformou” eventualmente nos venha a cabeça, cuja segunda palavra troquei (“ela insinuou recentemente que ao meu lado não tem mais prazer”), o amor permanece necessário, vital, mesmo com pés na bunda sugeridos por amadas.

Mora no amor o meu maior questionamento em relação a igreja católica. Estudei em colégio católico. Homens de batida amargos, complexados, rancorosos, acabavam descarregando nos alunos todas as suas frustrações, o seu não desviver, quase inexistência social.

Aqueles religiosos (todos) acabaram abandoando a batina e foram amar, casar, ter filhos. Encontrei vários ao longo dos anos e no lugar da truculência seca da desidratação afetiva, vi homens mais tolerantes, generosos, e até bem humorados.

Em Belo Horizonte, anos 1970, Paula e Bebeto tinham rompido mas a letra que Milton pediu a Caetano já estava pronta e a música foi gravada. “Qualquer maneira de amor vale à pena”.

No início dos anos 70, auge do napalm da adolescência, uma namorada me disse algo parecido quando nos beijávamos e sussurrávamos segredos no alto de uma pedra  em Teresópolis, ouvindo sem parar “That´s Way”, do Led Zeppelin. Que som. A letra não trata de amor mas a música é amor em estado líquido. Como é o caso da fabulosa e acrilírica “Love Reign O’er Me”, The Who. Amor em letra e música.

Não é?

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