International Magazine


Anteontem o colega Emilio Pacheco, gaúcho de Porto Alegre, postou no Facebook um muito merecido texto reconhecendo o seu trabalho e citou o International Magazine, jornal musical mensal da maior importância que atravessou o Brasil durante muitos anos nos anos 1980/90. Emílio escreveu lá, muita gente boa ligada a música frequentava as páginas daquele tabloide que dava show de conteúdo porque tinha uma equipe de colaboradores livre. Literalmente.

O jornal era uma parceria do Marcelo Fróes e Marcos Petrillo e eu tinha um espaço chamado “Desconsiderações”. O ser humano não é contemporâneo de seus momentos felizes (prefere sentir saudade desses momentos no futuro), sei lá por que, e como também sou gente (presumo) também sou assim.

Quem conheceu o I.M. certamente sabe do que estou falando e quem não conheceu perdeu. Foi um grande jornal. Hoje posso afirmar com todas as letras que nunca me senti tão livre escrevendo porque despejava tudo o que vinha a cabeça, sem, sequer, usar um pseudônimo como barraca.

Nunca fui tão pornográfico. Muitas vezes que fui comprar o I.M. na banca ficava preocupado (vejam vocês) se o jornaleiro, que era leitor, ia associar meu nome ao cafajeste que escrevia “Desconsiderações”. Nem quando escrevi no Pasquim ousei pensar em tamanha infâmia. Adorável infâmia. Adorável, divertida, autêntica. Indecência descarada.

Não nego que neste momento sinto o horror da saudade e da nostalgia. Saudade do cara que escrevia “Desconsiderações”. Hoje não tenho mais coragem de chutar coqueiros dando gargalhadas porque mudou o planeta, mudamos todos. Se eu escrevesse aquela página estaria preso, em nome da moral e dos bons costumes da nova UDN (https://bit.ly/2sOuOrP) que está mordiscando o poder com seus estatutos, regulamentos, normas, determinando como se fala, como se beija, como se vive.

A cada mês a página ficava mais radical porque os leitores (leitoras, principalmente) incentivavam, jogavam mais gasolina no lampião de labaredas altas e, como um pau de enchente, me deixava levar como se descesse as Cataratas do Niágara de peito.

Não tenho nenhum exemplar do I.M. e se não fosse a digitalização da Biblioteca Nacional, que abriga os jornais onde trabalhei, não teria nada. A minha relação com o passado é meio erma, e não vejo nisso qualidade alguma, mas uma vez ouvi no rádio Zora Yonara dizer que ignorar o passado é coisa do meu signo. Não gostaria de reler “Desconsiderações” hoje porque esses raios não caem duas vezes no mesmo lugar.

Valeu a lembrança, Emílio.

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