Nautilus
“Sai, sai do sereno menino”, diz a canção que alerta que
“sereno pode fazer mal”. Uma tradução urbana do ato de submergir. Se bem que
não sinto o sereno há muitos anos. Nem ele, nem a garoa, nem a neve de
Itatiaia.
Itatiaia foi onde passei um dos melhores fins de semana de
minha vida e a pior
Semana Santa. “A vida é assim”, dizia Zora Yonara, astróloga
do rádio e sua voz enigmática com eco que alertou por décadas: “você tem pela
frente uma sequência de vitórias esplendorosas. Insista!”.
A submersão é vital para a sobrevida. Basta ter ar suficiente
e muita humildade. Castrar os ventos tortos da arrogância, deixar nossa nau
existencial largada no fundo do mar, ao lado dos polvos e dos peixes abissais.
Os tímidos vivem nos bancos de areia, cercados de corais.
Parados, prestando atenção nos praticantes de evasão de privacidade (essa é do
Tutty Vasquez) que exibem sua anêmica e minúscula burguesia nas redes sociais,
gênero “estou tão feliz nessa foto, tão feliz que se me assoprar eu caio no
chão e choro”.
Ahhhh, o blefe das redes sociais. Ahhhh, o blefe das redes.
Ahhhh, o blefe das sociedades. Ahhh, o blefe crônico da humanidade.
Submergir faz bem a saúde. Mesmo quando o oponente lança
bombas de profundidade que fazem nosso casco mugir como o touro do Apocalipse.
Quem sabe submergir se esconde nas montanhas de pedra submarinas. Pouca luz, nenhum som, motores desligados. Esperar a tormenta passar. Um, 12, 30, 600 dias. Submarinos atômicos. Autonomia. Falo de nós, longa autonomia. Falo da sociedade, aguda dependência.
As batalhas navais ensinam que diante do bombardeio os
submarinos submergem e que as galinhas morrem por cacarejarem depois do ovo.
Não é o caso do bicho-preguiça mergulhado em seu mutismo, espatifado até por
skate.
Não fala, mas não corre.
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