Maiorca, por Anais Nin
Todos os dias eu descia até uma enseada onde a
água do mar era tão transparente que se podia ver os recifes de coral e a
insólita vegetação no fundo.
Uma estranha história a respeito daquele lugar
nos foi contada pelos pescadores. As mulheres de Maiorca eram inacessíveis,
puritanas e muito religiosas. Só iam nadar com os maiôs de saiote comprido e as
meias pretas de antigamente.
A maioria delas não gostava de nadar e deixava
isso para as européias sem-vergonhas que passavam o verão na ilha. Os
pescadores também condenavam os trajes de banho modernos e o comportamento
obsceno das européias. Viam-nas como nudistas que aguardavam apenas uma
oportunidade qualquer para tirar toda a roupa e se deitar nuas ao sol, como
pagãs. Desaprovavam também os banhos da meia-noite inventados pelos americanos.
Uma certa noite, há alguns anos, a filha de um
pescador, moça de dezoito anos, estava caminhando ao longo da orla do mar,
pulando de pedra em pedra, com o vestido branco grudado no corpo. Andando e
sonhando, observando o efeito do luar na água, ela acabou por chegar a uma
pequena enseada escondida e notou que havia uma pessoa nadando. Só conseguia
ver uma cabeça e, ocasionalmente, um braço. Quem quer que estivesse nadando
estava muito longe. Ouviu então uma voz suave chamando-a.
— Venha nadar. Está ótimo.
As palavras tinham sido ditas em espanhol, com sotaque
estrangeiro.
— Olá, María — cumprimentou a estranha, que
parecia conhecê-la. Devia ser uma das muitas moças americanas que iam tomar
banho de mar ali durante o dia.
— Quem é você? — quis saber María.
— Sou Evelyn — respondeu a moça. — Venha nadar
comigo!
O convite era tentador. Seria fácil tirar o
vestido branco e ficar só com a combinação curta. María olhou para todos os
lados. Não havia ninguém por perto. O mar estava calmo e salpicado de luar.
Pela primeira vez María compreendeu o amor dos europeus pelo banho da
meia-noite. Tirou o vestido.
Tinha longos cabelos negros, o rosto pálido, olhos
verdes bem grandes e mais verdes que o mar. Seu porte era magnífico, com os
seios altos, pernas compridas, verdadeiramente elegante. Sabia que era capaz de
nadar melhor que qualquer outra mulher da ilha. Mergulhou e nadou na direção de
Evelyn com braçadas fortes e graciosas.
Evelyn mergulhou para ir ao seu encontro e lhe
segurou as pernas. Dentro d'água, as duas se puseram a brincar. A
semi-escuridão e a touca de banho tornavam difícil que uma visse o rosto da
outra claramente. A voz das moças americanas se assemelhava à de rapazes.
Evelyn lutou com María, abraçou-a sob a água.
Quando subiram para respirar estavam rindo, e ficaram nadando para trás e para
a frente, despreocupadas. A combinação de María flutuava em torno de seus
ombros e lhe atrapalhava os movimentos; finalmente saiu e deixou-a nua. Evelyn
nadou por baixo dela e a segurou, lutando e passando por entre suas pernas.
Depois foi a vez de Evelyn abrir as pernas para
que a amiga pudesse mergulhar e passar por baixo, reaparecendo do lado oposto.
Ela flutuava e deixava María nadar por baixo de suas costas arqueadas.
María viu que a americana também estava nua. De
repente, sentiu Evelyn abraçando-a pelas costas, cobrindo todo o seu corpo com
o dela. A água estava morna e era tão salgada que as sustentava, ajudando-as a
flutuar e a nadar sem esforço.
— Você é linda, María — disse a voz grave, e
Evelyn a envolveu com seus braços. María quis se afastar, mas ficou presa pela
tepidez da água, pelo contato constante do corpo da amiga. Deixou-se abraçar.
Não sentia os seios da outra, mas sabia que as jovens americanas geralmente não
tinham seios. María sentiu-se lânguida e quis fechar os olhos.
Subitamente, o que sentiu entre as pernas não era
uma mão e sim algo bem diferente; fora tão inesperado e perturbador, que
gritou. Não era Evelyn, e sim um rapaz, o irmão mais novo da moça, que colocara
seu pênis ereto entre as pernas dela.
María gritou mas ninguém ouviu, e seu grito foi
apenas algo que se esperava da parte dela. Na realidade, o abraço dele era tão
quente e carinhoso quanto a água. O mar, o pênis e as mãos dele conspiraram
para estimular seu corpo. Ela tentou fugir, mas o rapaz nadou por sob seu
corpo, acariciou-a, segurou suas pernas, e por fim montou de novo em suas
costas.
Os dois lutaram, mas cada movimento servia apenas
para excitá-la ainda mais, para torná-la consciente do corpo dele de encontro
ao seu, de suas mãos sobre ela. A água agitava seus seios para a frente e para
trás, como dois pesados nenúfares.
Ele beijou seus seios. Com o movimento constante
não era possível penetrá-la, mas seu pênis tocava vezes sem conta a parte mais
vulnerável de seu sexo, e María sentiu que estava perdendo as forças. Nadou
para a praia e o rapaz a seguiu. Os dois caíram na areia. As ondas quebravam
sobre eles; ambos ficaram algum tempo ofegantes, sem se mexer. Então o rapaz
possuiu a moça e o mar veio e os alcançou, lavando o sangue da virgem.
Daquela noite em diante, o irmão de Evelyn e
María passaram a se encontrar somente àquela hora. Ele a possuía na água,
balançando, flutuando. A ondulação de seus corpos quando desfrutavam um ao
outro parecia fazer parte do mar.
Descobriram uma posição segura na base de um
rochedo e ali ficavam, acariciados pelas ondas, trêmulos em razão de seus
orgasmos.
Quando eu ia à praia à noite, imaginava sempre
que seria capaz de vê-los nadando, fazendo amor.
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