Ano Novo: a diferença entre esperança e expectativa
Um
abismo profundo separa o significado prático e filosófico de
esperança e expectativa. Em 2015, o ano que terminou sim!, o amigo
Lobão levantou essa lebre num show. Começou a falar sobre o
significado (e as significantes) das duas expressões, mas a falta de
educação da ruidosa e irritante plateia não deixou o lobo
uivar até o final do raciocínio.
Esperança
é o possível, expectativa é o ideal que não existe. Felizmente
mantenho um pacto com a esperança desde a hora em que nasci. Com a
expectativa, não. Relação zero. A expectativa é prima próxima da
ansiedade, da correria, da falta de ar, faz nossos pés molharem em
Manaus quando ainda está chovendo em Porto Alegre. Já a esperança
é centrada, amena, racional. A esperança faz projetos a
expectativa cisma.
Minha
esperança em 2016 é grande, mas faço a minha parte. Não
corro, não fujo, parto para cima com todas as forças disponíveis e
depois, atento, aguardo a hora da colheita deixando o destino
trabalhar. Pilhar o tempo todo, insistir, forçar a barra, chutar
portas, em geral levam ao desespero sob o manto da expectativa. Em
todos os setores da vida.
Há
milhares de anos, os asiáticos costumam escrever que o silêncio é
uma forma de comunicação. Pode até ser, mas eu não sou asiático,
sou latino. Logo, não comunicou nada disse. Quando os sinais não
veem (ou vão e não voltam), nada aconteceu. A esperança ensina que
se não há declaração de amor ou declaração de guerra, não
existe uma coisa nem outra. Cínica, a expectativa insiste que nem
sempre os sentimentos emitem sinais. Como mente essa senhora,
que eventualmente se faz de tonta.
Escrever
as viradas de ano não chega a ser uma novidade já que passei (e vou
passar) muitas viradas de plantão nas redações das mídias da
vida. Desde o dia em que Lobão tentou falar sobre expectativa e
esperança no tal show, mas acabou atrapalhado por galinhas, codornas
e barangas da plateia, o tema ficou perambulando por mim. O que
acabou me levando ao passado, a uma longa tarde que passei na casa do
Lobo quando ele morava no alto da Estrada das Canoas, em São
Conrado, Rio. Falamos muito sobre o flagelo da culpa. Culpa, ela
mesma, a canalha que não nos deixa olhar no espelho mesmo quando
somos totalmente inocentes.
Gerar
expectativas leva a culpa. Falar de esperança, não. Por que? Porque
a expectativa é volátil, enganadora e induz suas vítimas
a impregnar a humanidade de promessas enquanto prepara uma desculpa
para se livrar da situação. A esperança resolve, a expectativa
tenta se livrar. Esperança leva a reflexão, a expectativa traz a
insônia. Esperança não teme o início, o fim, o meio.
A
opção é nossa.