Guilherme Pimenta e o novo violino popular
O violinista Guilherme Pimenta está lançando o EP “Violino
na Roda” com quatro músicas instrumentais, sendo três autorais (“Violino na
Roda”, “Cachaça” e “Cabeludo”) e uma versão para “Capricho de Raphael”, do
bandolinista Hamilton de Holanda. Publicarei aqui na Coluna datas, horários e locais.
Aqui, um papo com ele:
- Como
se interessou pelo violino?
Na verdade, quando era adolescente e fui ingressar no
Conservatório da minha cidade no interior de Minas (Montes Claros), eu queria
ter aprendido violoncelo, mas como na época, não havia professor, fui pro
violino por ser o instrumento mais próximo. Logo me apaixonei pelo instrumento
e depois de todos esses anos, acredito que no fim das contas, é o instrumento
que escolhe a gente e não o contrário.
-
Quem foram os músicos que ouviu e te inspiraram?
Sempre ouvi muita coisa diferente ao mesmo tempo. É difícil
resumir em uma entrevista todo mundo que ouvi e que me inspirou. Cito alguns
que têm tido grande influência na minha carreira: os violinistas brasileiros
Fafá Lemos (pioneiro do violino popular no Brasil) Ricardo Herz e Nicolas
Krassik (que são dois ícones do "violino popular brasileiro"
atualmente), os violinistas de jazz: Christian Howes, Didier Lockwood e
Stephane Grapelli; e dos outros instrumentos poderia citar: Hamilton de
Holanda, Carlos Malta, Yamandu Costa, Egberto Gismonti, Hermeto Pascoal.
-
Essa fusão do violino ("instrumento de elite") com a música popular
brasileira se deu como e quando mais ou menos?
Na verdade, em outras culturas o violino não é
considerado um instrumento elitizado ou exclusivo da música erudita. Em
culturas como cigana, árabe, indiana ou da música country, o violino sempre
esteve presente em manifestações populares. No Brasil, isso não se deu devido a
uma falta de interesse dos próprios violinistas em tocar a música popular de
seu país. Isso começou a mudar um pouco na década de 50 com o violinista Fafá
Lemos, que sendo um ótimo instrumentista, cantor e assobiador, começou a se
inserir no mercado da música popular brasileira. Depois dele, tivemos muito
poucos representantes, mas felizmente, esse movimento tem crescido nos dias de
hoje.
Ainda estamos longe de termos no Brasil, de termos um
número significativo de violinistas tocando música popular para que nosso
instrumento deixe de ser considerado apenas "clássico", mas estamos
com cada vez mais violinistas populares e tenho orgulho de estar contribuindo
com esta história.
Particularmente, eu tenho formação clássica mas sempre
dialoguei com música popular. Antes de aprender violino, eu tocava violão e
contrabaixo elétrico (tive até banda de rock). Nos últimos anos, depois de
voltar do meu mestrado em violino nos EUA (2014), decidi me mudar para o Rio e
me dedicar totalmente a música popular. Esta escolha tem me trazido muitas
felicidades.
- O
instrumento foi bem aceito nas rodas populares?
O violino é muito bem recebido no meio popular. A gente
ainda se depara com um certo estranhamento pelo instrumento ser uma novidade
naquele ambiente, mas depois que começamos a tocar, fica tudo certo. Nos meus
primeiros meses no Rio eu frequentava muito as rodas de choro da cidade e
conheci muita gente boa e que me recebeu de braços abertos. Uma coisa foi
levando a outra e comecei a frequentar também os bailes de forró ou as casas de
jazz e música instrumental, sendo sempre bem aceito aonde quer que estivesse.
- No
show, qual o repertório básico você vai tocar?
No show de lançamento do meu EP "Violino na
Roda" o Guilherme Pimenta Quarteto vai tocar algumas músicas minhas e de
amigos compositores. Como sempre ouvi e fui influenciado por estilos diferentes
e acredito que quanto menos preconceitos musical tivermos, mais teremos a
aprender e dar de volta, nosso repertório ficou bem diversificado. No show, teremos
choro, forró, xote, frevo, bolero e outras coisas. É música instrumental
dançante.
O Trio Maréz (grupo de uma amiga que também é violinista
popular) fará a abertura da noite e por ser um show de lançamento, aproveitei
para convidar alguns amigos que admiro ou com que estão sempre trabalhando
comigo: por exemplo, chamarei ao palco o grupo Papagaio Sabido, grupo do qual
faço parte e que lançou seu primeiro disco no ano passado. Também teremos a
honra da participação do bandolinista Luis Barcelos e do percussionista Matias
Zibecchi.