Help!

Fiz duas Lives no Instagram, com o Mário Abbade colega colunista na Rádio Bandnews FM Rio (ele é crítico de cinema) e com o Luck Velloso, da Rádio Cult FM.

Nas duas me perguntaram quando e como me apaixonei pela música e logo lembrei de “Help!”, dos Beatles. A música de “Help!” tinha chegado num vinil e depois me sequestrou no cinema.

Eu devia ter, uns 10 ou 11 anos, porque os filmes chegavam atrasados no Brasil. Posso afirmar que foi a primeira vez que fui ver um filme naquele ambiente mágico.

Lembro perfeitamente que sentei no meio da enorme sala do Cinema Icaraí, com direito a cortina vermelha que abria e exibia a tela e ao gongo que tocava anunciando o início da sessão.

Entrou o “Canal 100”, feito pelo heroico Carlos Niemeyer, trailers e, de repente, “Help!”. Mais do que meu primeiro grande filme, foi uma aparição misturada com epifania. Meus olhos marejados contemplavam aquela generosa telona, despejando celuloide de 35 milímetros em 24 quadros por segundo, a música, e eles, The Beatles que eu jamais vira em movimento. Jamais. Não havia clipe, não havia nada.

John Lennon, Paul McCartney, George Harrison, Ringo Starr em quase carne e osso, gigantescos, em 13 metros de tela. Eles estavam ali e a medida que o filme ia passando, cada fotograma era uma mensagem para o início da montanha russa da nossa adolescência.

Por isso, escrevi uma carta para o diretor Richard Lester, traduzida por uma professora de inglês, e a EMI respondeu agradecendo, dizendo que Mister Lester tinha ficado feliz com a minha carta, mas eu sabia que a carta não tinha chegado a ele e que o pessoal de lá não tinha entendido porra nenhuma. Se Lester tivesse lido teria sido outro papo. Mas o pessoal de marketing, relações públicas, fast food communication? De jeito nenhum.

Na carta eu falei de afeto, de meu afeto, que “Help!” decifrou fácil. Eu não me achava um garoto mais ou menos complicado do que todos, sendo o maior “defeito” a sensibilidade. A família sacaneava, “lá vem o sensível e suas frescuras” e aquilo me fazia mal, me ofendia, humilhava e revoltava, tinha vontade de quebrar tudo. Por isso quando ouvi “Help!”, a música, pela primeira vez, imediatamente me identifiquei com Lennon:

Socorro, eu preciso de alguém
Socorro, não qualquer pessoa
Socorro, você sabe que eu preciso de alguém, socorro!

Quando eu era jovem, muito mais jovem do que hoje
Eu nunca precisei da ajuda de ninguém em nenhum sentido
E agora estes dias se foram, eu não sou uma pessoa assim tão segura
Agora eu acho que mudei minha mente e abri as portas

Ajude-me, se você puder, eu me sinto pra baixo
E eu aprecio você estar por perto
Ajude-me, coloque meus pés de volta no chão
Você não poderia, por favor, me ajudar?

E agora minha vida mudou em muitos sentidos
Minha independência parece dissipar-se na neblina
Mas de vez em quando me sinto tão inseguro
Eu sei que preciso de você como nunca precisei antes

Mais Lennon em “You've Got To Hide Your Love Away”



Em todos lugares pessoas olham
Cada dia, todo dia
Eu posso vê-los rindo de mim
E eu os ouço dizerem

Ei, você tem que esconder seu amor
Ei, você tem que esconder seu amor

No primeiro dia de “Help!” saí do cinema com vontade de chutar lata, virar músico e fazer filmes. De certa maneira, mesmo que indiretamente (?) eu trabalho com música, faço direção musical para cinema e TV e começo a rascunhar o meu primeiro roteiro. Mas confessar essa vocação com 11 anos era coisa de maluco.


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