A volta da ditadura
Vamos ser objetivos, sem ilações ou paranoias. O presidente
está fazendo uma manobra explícita visando um autogolpe para, com a família, se
perpetuar no poder.
Copia o bem sucedido modelo Hugo Chaves, que depois do autogolpe
na Venezuela deu emprego, casa, comida, roupa lavada, viagens, cartões de
crédito sem limites a milhares de militares, principalmente os de baixa
patente, que também dão suporte a Maduro, que segue a receita.
Mestre do jornalismo, profundo conhecedor do mundo militar,
Elio Gaspari publicou sem sua coluna no Globo, quarta-feira, sob o título “Bolsonaro
semeia a anarquia militar”:
“Na
crise que Bolsonaro incentiva misturam-se ingredientes tóxicos. O primeiro
deles é a influência de sua família no governo. (...)
O
terceiro ingrediente é a simpatia de Bolsonaro pela opinião de sargentos e
suboficiais, somada ao expresso apoio dado a policiais militares amotinados. A
ele se junta uma militância parruda e agressiva.”
Hoje, Nelson Motta escreveu em seu artigo, também no Globo:
(...) O
Exército respeitava a meritocracia, o preparo individual, a carreira, embora
isso não garantisse um bom governo. Pelo menos na ditadura os filhos dos
generais-presidentes não se metiam em política e não mandavam nada. Nesse tempo
torturavam e matavam fisicamente, agora assassinam reputações e disseminam fake
news com exércitos de robôs.
(...) Imaginem
um cenário em que Flávio Bolsonaro, depois do devido processo legal, é
condenado por unanimidade no STF e vai preso. O que faria o capitão? Seu
governo acabaria? O Exército apoiaria um golpe por causa de Flávio Bolsonaro?
(...)
Também hoje, também no Globo, o mega bem informado Lauro
Jardim deu uma aterradora informação, já que o general em questão é o líder maior
das forças armadas e, até Bolsonaro, era um exemplo de equilíbrio democrático.
Não é mais. Lauro Jardim:
General
Villas Boas sai em defesa da secretária de Cultura: 'Parabéns Regina Duarte'
O
ex-comandante do Exército, general Villas Boas, resolveu fazer agora o que
nenhum integrante do governo havia feito: saiu em defesa da polêmica entrevista
de Regina Duarte ontem na CNN.
Em um
post publicado agora há pouco no Twitter, Villas Boas disse que ficou
"encantado com a demonstração de humanismo, grandeza, perspicácia,
inteligência, humildade, confiança, doçura, autoconfiança que nos
transmitiu".
O
ex-comandante do Exército não especificou em que trecho Regina demonstrou
humanismo. Se quando minimizou a citação aos torturados na ditadura ou quando
disse "a humanidade não para de morrer".
O
general disse também ter apreciado o modo como Regina teria se desvencilhado
"das armadilhas que os entrevistadores tentaram colocar". E, por fim,
atacou a imprensa:
—
Questiono de qual instância alguns jornalistas retiram a autoridade de agirem
como membros de um tribunal de inquisição.
Domingo, o presidente fez mais uma arruaça visando seu
autogolpe e disse explicitamente contar com o apoio das Forças Armadas.
No dia seguinte o ministério da Defesa soltou uma nota
burocrática, falou do compromisso com a democracia, compromisso com a instituições
e tal, tal, tal, mas nenhum militar de alta patente desmentiu o presidente.
Ninguém disse ou escreveu claramente que os militares não o apoiam.
Em política o silêncio fala mais alto do que o grito mais
lancinante.
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