“Outras vezes ouço passar o vento, e acho que só para ouvir passar o vento vale a pena ter nascido.” – Fernando Pessoa.


Em breve elas vão começar a chegar. As massas polares que frequentam o outono e o inverno no Brasil trazem o azul mais profundo do céu infinito, realçam o verde das árvores e nos convida a visitar a oca de nossas reflexões.

Quando as reflexões são profundas muitas vezes se tornam crises existenciais. Como o mar de marolas que vai engrossando, engrossando e vira, trazendo as ressacas. Ressacas, irmãs do inverno, das pedras e conchas geladas, vento soprando de leste.

Viver é fundamental. Refletir, idem. Em muitos momentos os pensamentos mergulham em trilhas muito duras e sofridas, mas, graças à luz do outono/inverno, chegam a alguma conclusão saudável. Outono e inverno parecem jogar a nosso favor. Nada contra a primavera e o verão, mas penso que o calorão não combina com reflexões plácidas.

Você teme pensamentos? Confesso que já temi, especialmente os caóticos que, não se sabe por que, nos levam a becos que nós mesmos tornamos, em tese, sem saída. Repito: em tese. O noticiário que mistura morte, desprezo, descaso e subpolítica não tem combinado com a beleza das folhas molhadas ou com o orvalho que em breve irá molhar as calçadas. O noticiário dos sites, jornais, revistas, TVs está pesado e, a vezes, dá vontade de parar de querer saber o que está (ou não) acontecendo com o Brasil. Mas, não tenho vocação para a alienação.

A dor de querer saber compensa mais do que a dormência da ignorância, por si só, boçal, totalmente boçal, que nos engessa numa redoma de lata sem o menor sentido. Fundamental continuar querendo saber e, ao mesmo tempo, contemplar o azul profundo do céu levemente gelado do outono que desperta sentimentos agudos, belos e, por que não, alguns nós na garganta.

E o vento sopra, leva o orvalho, as luzes e trará o azul do céu de outono.

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