Me segurando para não fazer fiu fiu
Dire Straits: Skateway
Texto
restaurado e reeditado
Encontrei esse texto no Google. Foi publicado e depois
guardado em alguma gaveta entre o ano 2000 e 2009, no extinto jornal LIG. Para
quem não sabe, tempos atrás meu HD estourou. Perdi mais de 2 mil textos, cerca
de 15 mil músicas e vídeos, outros milhares de endereços que estavam no Outlook
Express, três livros e mais, muito mais. Não, eu não fazia backup porque,
provavelmente, de vez em quando sou uma zebra. Por isso, ando catando meus
textos por aí. Esse é um deles.
Vamos lá.
A quarta invenção mais sensual da civilização é a calça
jeans feminina. Claro que a curiosidade vai berrar “e a outras três, meu
chapa?”. Vamos lá. Terceira, o micro-biquini de lacinho; segunda a micro-calcinha
de cotton; primeira o cipozinho com botão de folha de parreira, que você só
encontra na Bahia.
Sei que é incorreto, mas quando cruzo com uma mulher
gostosa na rua, paro, viro o pescoço e olho fixo. Meu inconsciente deve tramar
algum macete pois nunca fui flagrado por uma delas. Nunca. Lembrando que mulher
gostosa não tem cor, altura, idade, peso, nada. Mulher gostosa é como música
boa. Bate e fica. Não tem explicação. Por timidez jamais fiz “fiu fiu”. Ainda
assim, para evitar um desatino perante uma cavala bem assombrada, boto a mão na
boca.
Ah, Drummond. Ah, grande Carlos Drummond de Andrade que
em vez de assobiar “fiu fiu” escreveu o belo poema “A bunda, que engraçada” que
lá pelas tantas se desmancha: “(...) A bunda basta-se/ Existe algo mais?/ Talvez
os seios/ Ora - murmura a bunda - esses garotos/ ainda lhes falta muito que
estudar/ A bunda são duas luas gêmeas em rotundo meneio/ Anda por si na
cadência mimosa, no milagre de ser duas em uma, plenamente(...)”
Falo com a certeza de que jamais em tempo algum
molestei, cantei, encoxei em ônibus/barca/metrô/avião, enfim, só contemplei o
que (não nego) é o maior patrimônio da Natureza, razão de viver, centro do
Universo: a mulher.
Olhar, sorver, contemplar sem atacar é um direito. Por
isso, olho. Dos 18 aos 100 anos, mulher gostosa é mulher gostosa. Buñuel não
acreditava em “mulher sem bunda”. Muito menos eu, mestre. Existem belas bundas
retas, retinhas. Catherine Deneuve, que mesmo arfando, suando, passando mal
mesmo, consegui entrevistar nos anos 90, é proprietária de uma. Belíssima.
Meu único acidente de trânsito foi uma varada na
traseira de um caminhão que freou numa rua aqui da cidade. Uma diva negra saía
de uma galeria como as lavas do Vesúvio inundando Pompéia. Zonzo, bati. Zonzo,
confessei minha culpa. Zonzo, parti sem telefonar para o seguro.
Certa vez escrevi que o brasileiro, elegantemente, cede
a frente as damas em entrada de elevador, escada de ônibus, porta de
restaurantes não por educação, mas pela oportunidade de contemplar o dorso por três segundos. Já filosofava a
extinta Rádio Relógio que o segundo é um milagre que não se repete e esses três
segundos podem gerar euforia por horas.
Pois a calça jeans tem o poder de mapear em detalhes
todos os ângulos, sulcos, riachos e deltas de uma mulher. Por isso, jamais sai
de moda. E que assim seja. Tenho um amigo que quando se aporrinha corre para um
shopping e fica “bebendo” manequins de vitrine ostentando jeans, calcinhas,
biquínis, shorts. Amigo do peito, a
figuraça que já foi xingado de incorreto, porco-chauvinista pelos intelectuais.
Pobres intelectuais.
O Dire Straits tem uma canção antiga chamada
“Skateaway” que narra a tempestade de testosterona que uma mulher provoca
patinando por dentro do trânsito congestionado no centro de Londres. “Aleluia,
yes she comes..” canta Mark Knopfler, confessando que também é sócio desse
clube que celebra a Mulher e concorda que nada valeria um planeta cheio de
baleias, golfinhos e sabiás se, à bordo, não houvesse essa indecifrável estrela
que, com elegância e quase doçura, nos coloca na condição de plutões
periféricos, girando, girando, girando, até a última palavra, do último texto,
do último poeta.
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