Taxista mal humorado. Haja Saco!
Texto
restaurado e remixado
Precisei pegar um táxi, longe da hora do rush para
constatar que a tal da hora do rush agora começa as 6 da manhã e só acaba as 10
da noite. Não sei o que vão fazer com tantos carros e antas dirigindo. O táxi
que peguei deveria ser arrancado de circulação. Caindo aos pedaços.
Entrei (não havia outra opção) e o motorista ouvia uma
rádio mundo cão aos berros, com as piores notícias até aquela hora do dia.
Solicitei, visivelmente fulo da vida, que o taxista desligasse o rádio. Ele diminuiu
o volume. Eu, então com a voz já meio enfurecida, disse “eu pedi para
desligar”. Não sei que tipo de expressão facial me acometeu, mas o cara foi lá
e clique, desligou o rádio.
Foi pior. No lugar do rádio, ele começou a falar. Falar
mal. Do mundo, do Brasil, da vida, da mulher e do seu próprio carro. Perguntei,
tentando cortar aquela tempestade de coliformes fecais despejada pela boca
daquele cidadão, se o ar condicionado do carro estava funcionando. Ele disse
que não porque “o ar desse carro é uma porcaria”. E continuou sentando o pau no
carro, nas peças do carro, no vidro escuro que estava lascando, isso tudo com o
transito se arrastando como uma lacraia bêbada.
Quando percebi que teria que aturar aquele ogro, olhei
para o taxímetro (que marcava R$ 9,80), peguei uma nota de R$ 10,00, paguei e
pedi para encostar. O taxista, surpreso, tentou saber “mas o senhor não vai
até...”. Eu disse que tinha “esquecido de pegar a minha cachorra no veterinário”
e desci daquele shitmóvel antes de chegar a metade do caminho.
Que alívio! Sem rádio mundo cão, sem vozes negativas,
de gargantas negativas, cabeças negativas. Decidi ir andando até o destino
providenciar um táxi decente. Uns 400 metros depois vi o tal taxi, sem vidros
escuros, novinho, livre! Entrei e tocava a Radio MEC FM, o motorista tranqüilo,
enfim, cheguei ao final da corrida bem, sem aquela sensação de chute no saco
que estava sentindo.
Acho que a vida também é assim. Se estamos num “táxi”
que não presta, é preciso descer e trocar. Pode? Claro que pode. A arte da
felicidade passa pela renovação, pela ousadia. E dane-se se os taxistas
existenciais vão ou não entender porque descemos no meio do caminho. O caminho
é nosso e ponto final.
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