Led Zeppelin, um pacto com a eternidade
John Paul Jones, Robert Plant, Jimmy Page e John Bonham
Impressionante.
Toda a vez que posto um vídeo do Led Zeppelin no Facebook em seguida
vem uma tempestade de curtidas e comentários. Não importa a época,
seja 1969 na Dinamarca ou na Inglaterra dez anos depois, quando em
agosto, após quatro anos fora dos palcos, Jimmy
Page,
Robert
Plant,
John
Jones e John
Bonham explodiam o festival de Knebworth. Com
a morte de Joh Bonham em setembro de 1980, em
dezembro Page
e Plant anunciaram o fim da banda.
Mas, como os Beatles, o
Led
Zeppelin parece ter feito um pacto com a eternidade.
O
interessante nessa história é que o vocalista Robert Plant gravou
vários discos sem a banda, e demorou a acontecer. No início, 1982,
composições fracas, discos medíocres
e a guinada só veio em 1993 com o ótimo álbum “Fate of Nations”.
Com Jimmy Page, mais ou menos a mesma coisa. Seus discos-solo também
não decolaram e estiveram muito distantes do que esperávamos dele.
John Paul Jones, idem. Não aconteceu.
Mas
quando Page e Plant gravaram “No Quarter”, CD/DVD lançados em
1994, foi uma bomba. Sensacional, absolutamente mágico. O CD/DVD
trouxe novos e revolucionários arranjos de clássicos do Led
Zeppelin, mais músicas inéditas diretamente influenciadas pela
cultura do Marrocos, do Egito.
Além
do baixista Charlie Jones e do baterista Michael K. Lee, duas
orquestras acompanharam Page e Plant, uma inglesa e outra egípcia.
A sequência de Page e Plant cantando e tocando no meio de uma rua
superlotada em Marrakesh é sensacional.
Como
escrevi ali em cima, o fim do Led Zeppelin foi consequência direta
da morte do baterista John Bonham, em setembro de 1980. O anúncio
oficial do fim da banda foi feito por Jimmy Page em dezembro do mesmo
ano, alegando que sem Bonham não havia condições da banda
prosseguir.
Mas,
em 2007, num show beneficente para comemorar a vida do dono da
gravadora Atlantic Records, o turco Ahmet Ertegun, foi anunciada uma
uma reunião do Led Zeppelin no Arena 02, Londres. Em
dezembro, Jimmy
Page, Robert Plant, John Paul Jones e Jason Bonham (filho de John),
tocaram várias músicas para uma multidão enlouquecida que cantou
todo o setlist, um total de 16.
Jimmy
Page coordenou a gravação (em áudio e vídeo em HD) profissional
do show com 16 câmeras, para o DVD e CD. Em outubro de 2012, o
filme chegou aos cinemas e as lojas de todo o mundo em dois CDs e um
DVD magistrais. Certamente é o melhor show do Led Zeppelin lançado
em áudio e vídeo, desde o início da banda, em 1969.
Na
época com quase 64 anos, Page (hoje tem 71) domina o palco e para
responder aos críticos que diziam que ele não sabia tocar ao vivo
solos de clássicos como o de Stairway to Heaven, ele passou meses
ensaiando cada música como se não as conhecesse. Robert Plant, John
Paul Jones e Jason Bonham também ficaram várias semanas trancados
ensaiando exaustivamente com Page.
O
resultado foi um banho de talento, entrega, genialidade dos quatro e
como a coletânea “Mothership” de 2007, a capa dos CDs/DVD foi
desenhada por Shepard Fairey. Alan Moulder trabalhou com Jimmy Page
na mixagem do álbum, mas usaram apenas uma quantidade mínima de
overdubs e correções. Optaram por manter a fidelidade máxima ao
som do show ao vivo.
John
Lennon, Paul McCartney, Ringo Starr e George Harrison não
conseguiram gravar discos-solo que chegassem aos pés de qualquer um
dos que foram produzidos pelos
Beatles. Há controvérsias, eu sei, especialmente em se tratando do
álbum triplo “All Things Must Pass”, considerada a genial obra
prima de George. Sei que muitos leitores vão gritar, mas opinião
não é palavrão.
No
caso do Zeppelin a magia é ainda mais impressionante porque a
biografia da banda mostra que Page & Plant formavam um conluio,
uma mistura ideal, um caldeirão onde as porções de de talento
extremo eram misturadas pela emoção. E é evidente que a potência
devastadora de John Bonham na bateria e o baixo livre de John Paul
Jones brilham até hoje a bordo do Led Zeppelin.
Outro
fenômeno: nunca, em nenhum momento, milhões de fãs (nos quais me
incluo) cansam de ouvir qualquer disco do Zeppelin. Do primeiro ao
último. Fãs que sequer eram nascidos quando a banda acabou. O que
será isso? Existe uma explicação? Enquanto pensamos e soltamos
balões cheios de interrogações, ouvimos Page, Plant, Paul Jones e
Bonham em mil novecentos e sempre.
Tenho
ouvido o a face mais acústica do grupo. Na verdade ando numa fase
existencial acústica, contemplativa, eventualmente insone,
totalmente Led Zeppelin. Penduradas nas canções, lembranças de
minha adolescência, ouvindo a banda em profusão, lixando LPs de
vinil até gastar. Eu e amigos na também amada e fiel depositária
de vastas emoções e pensamentos imperfeitos da adolescência
(obrigado Zé Rubem Fonseca por esse belo título de livro), uma
cidade chamada Teresópolis, que existiu. Não existe mais. Aquela
dos anos 1970, não.
Não
dá para ouvir o Led Zeppelin e não lembrar dos raios acrilíricos
explodindo no Dedo de Deus, a jaqueta de camurça verde-garrafa
desbotada, cabelos a la Roger Daltrey (pelo menos era a minha
intenção) na altura dos ombros, meu irmão, também cabeludo,
passando a 130 quilômetros por hora montado numa Yamaha 350 RD
(mundialmente apelidada de “assassina” pela
enorme quantidade de pessoas que matou até ter a fabricação
proibida)
azul, que pegava emprestada com um amigo.
Verões
de 1970, 1971, 1972, 1973, todos eles embalados pelo Led Zeppelin.
The Who? Sempre, mas o Zeppelin tinha (e tem) seu espaço em nossos
corações e mentes. Por que não? Por que só os boçais podem se
sentir eternamente teens?
Na
semana passada ouvi de novo o Led Zeppelin, com direito as novas
descobertas que sempre ocorrem a cada audição, mais uma leve e ao
mesmo tempo dramática saudade de mim mesmo, de meu irmão, dos
amigos da serra boate Bowling, no Alto, as duas boates do Higino, em
especial a do subsolo onde só rolava rock progressivo, escuridão e
garras femininas esparramadas em nossos recantos misteriosos e
ardentes. Em algum momento o discotecário (não lembro do nome, um
gordo que sabia tudo de música) despejava um inteiro LP do Zeppelin.
Direto. Lá pelas 3 e varada da madrugada. Tocava o Zeppelin,
acendiam as luzes, íamos embora e o Higino fechava e
eu saia com a namorada da noite para ver o nascer do sol e copular
(não necessariamente nessa ordem) dentro de um VW Variant de meu
pai, na Cascata dos Amores.
Esse
é um dos poderes da música. Transportar no tempo com apenas dois ou
três acordes, para lugares onde estivemos, gostaríamos de ter ido
ou que ainda iremos. Garotas maravilhosas que o Zeppelin seduzia para
nós e que depois, como um solo de Jimmy Page, descarregavam seus
indomados raios, gozos e unhadas de mulheres feitas cheirando a
Campari. As vezes sem saber que eram mulheres feitas e muito menos se
era mesmo Campari o que bebiam.
Pois
é. The Song Remains The Same.
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