“Responder e-mails é uma obrigação. Quem discorda deve deixar a internet”

O título está entre aspas porque quem disparou a frase foi um colega meu num bar do Largo do Machado (Rio) tempos. O assunto na roda (uns 10 caras) era e-mail. Todo mundo indignado com o fato de mandarem e-mails que não são respondidos.
Dias atrás aconteceu comigo. Enviei um para um executivo do mercado de discos, mensagem mega importante, mas até agora não recebi resposta. Tive o cuidado de chamar atenção, algo do tipo “favor confirmar o recebimento”. Nem isso. Se bem que antes de enviar a mensagem várias pessoas me avisaram que “esse cara não responde e-mails...”, insisti e deu no que não deu.
Voltando ao botequim do Largo do Machado, eu estava na boa, me divertindo com o assunto, mas lá pelas tantas opinei: “não responder a e-mails é a maior escrotália. Pior do que bater com o telefone na cara”. E voltei a me atracar com o filé à Oswaldo Aranha que, aliás, estava sublime.
Um outro colega contou que seu vizinho, mais mulher e três filhos, haviam viajado para Minas Gerais. Feriado prolongado. Uma equipe da companhia de energia elétrica chegou para fazer o corte por fala de pagamento. Meu colega se meteu no assunto, pediu que dessem uma chance e os caras concordaram “desde que ele mostrasse um comprovante de residência em nome do vizinho”.
Significava ter que entrar na casa vazia (fácil, ele sabia, pela janela, já tinha pensado) e por isso ele mandou um e-mail pedindo autorização para “invadir”. A equipe voltaria no dia seguinte. O vizinho não respondeu ao e-mail e quando chegou, dias depois, a casa estava sem luz, comida estragada e tudo mais. Pior: ele disse que tinha lido o e-mail mas que estava descansando...Sífu.
Saí do bar e a caminho de casa, madrugada com brisa e lua, pensei no assunto. Ano passado mandei um e-mail para um suposto grande amigo, de anos, que não via há tempos. Me passaram o endereço eletrônico dele e escrevi uma mensagem calorosa, falando da amizade, da saudade e tudo mais. Até hoje ele não respondeu.
A princípio fiquei indignado, semanas depois enfurecido e hoje apenas magoado, certo de que o sujeito desceu da condição de amigo para a de desafeto. Aí você pergunta “por causa de um e-mail?”. Sim, por causa de um e-mail que foi a única maneira que encontrei de restabelecer contato com um sujeito que, me disseram depois, está se achando depois que começou a nadar em verbas públicas. Pensando bem, foi até bom ele não ter respondido porque de uma coisa estou certo nesta vida: não tenho amigos corruptos.
O telefone celular é extremamente invasivo e o WhatsApp, para mim, é um papagaio neurótico, mal comido e obsessivo me enchendo o saco 57 horas por dia. Um dos colegas da mesa do bar, as gargalhadas, contou que o celular dele tocou durante um tenso exame de próstata, quando o médico só mantinha nove dedos das mãos do lado de fora.
Acho o e-mail a menos invasiva forma de comunicação porque quem recebe teve que entrar na internet, acessar o programa de mensagens, enfim, se preparou para isso.
Já há algum tempo venho radicalizando. Pessoas de meu convívio que não respondem a meus e-mails são sumaria e automaticamente limadas de minha lista de endereços. Ainda bem que são poucas, pouquíssimas. Todos nós temos defeitos, vários. Entre os meus está essa intolerância (quase mágoa) com a falta de consideração, em geral praticada por pessoas que nos acham babacas, quando na verdade babacas são elas.
Ou não?



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