Paulistanos ainda reclamam do canto do sabiá. Pois viva o sabiá!
A
Folha de S. Paulo publicou em
2013
uma reportagem de Roberto de Oliveira que
ainda permanece
no centro de uma forte polêmica. Intitulada “Cantoria de
sabiá-laranjeira na madrugada divide ouvidos paulistanos”, a
matéria registra várias reclamações contra o canto do pássaro
nessa época do ano.
Teria
esquecido o assunto caso não recebesse hoje de manhã um e-mail de
uma amiga de Sampa confirmando que continua a gritaria contra o canto
das sabiás e, meio brincando e meio a sério, ela teme que o governo
petista da capital de São Paulo extermine, também, com o pássaro.
Aqui
na nossa área, apesar daqueles meliantes que com suas kombis berram
em altos falantes as 8 da manhã que compram ferro-velho, apesar das
festinhas em plays de prédio nos fins de semana vomitando lixo
musical em alto volume, apesar da buzinaria nas ruas, apesar das
serras elétricas e daquela famigerada “makita” que corta
mármore, apesar do abandono dos governos que joga nossos tímpanos
ao léu ainda há (mal amados, mal resolvidos, mal comidos, mal o
que?) quem caia de paulada nos sabiás.
Não
há nada de tão bizarro pois já ouvi reclamações assim no Rio,
Salvador, Belo Horizonte e Porto Alegre. Mais: há tempos um amigo
tentou me convencer que o canto do sabiá ao cair da tarde, misturado
ao dos pardais deprime, joga pra baixo, baixa a crina. Será?
Diz
a matéria da Folha:
“Por
volta das três da matina começa a sinfonia. O cantante é o
sabiá-laranjeira, ave-símbolo do Brasil e do Estado de São Paulo,
que vive no campo e na cidade.
Por
causa do insistente gorjeio, "posts" vêm pipocando nas
redes sociais, reivindicando o silêncio dos passarinhos em prol do
sono.
O
diretor de arte Gilberto Leite, 38, postou: "Ele canta três
acordes e fica o dia inteiro martelando isso. É insuportável!".
À reportagem, disse ele: "Vou ser linchado pelos protetores dos
pássaros, mas que é insuportável, isso é".
A
reportagem segue registrando reclamações e elogios ao canto do
sabiá-laranjeira, a meu ver (ou ouvir) de um lirismo especial que me
transporta para a infância, lá em Angra dos Reis, quando eu ficava
sob um ingazeiro contemplando sabiás, coleiros e canários da terra
cantando sem parar.
Informa
que, a cinco metros de distância, o canto do sabiá 75 decibéis,
contra 80 do ruído do trânsito e 90 da buzina de um carro.
Aqui
onde moro, ouço ao longe o canto dos sabiás. Eram
três no
ano
passado, hoje restou um. Os outros dois foram comidos por micos
carnívoros importados da Bahia nos anos 1980. Esse solitário
sobrevive
a fumaça, a especulação imobiliária, trânsito infernal e
até, caramba, ao ser humano,
essa
mula sem
cabeça
que transforma o planeta numa calota de fusca.
Quando
ouço o
sabia
agradeço porque o canto que simboliza o Brasil mostra que ainda há
natureza resistindo ao massacre que transforma cidades em aldeias de
cimento, sem rosto, sem alma, sem caráter.
Também
por isso, viva os sabiás! Viva!
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