Caro Joaquim Ferreira dos Santos,
Rapaz, como é bom te ler.
Crônicas brilhantes como a de hoje, a breve e carioquíssima
micro biografia de uma, digamos, versão fundamentalista evangélica do surfista
calhorda que desgoverna essa metrópole a beira mar. Diria Francis, o Paulo, o
carioca bebeu muito mal na última eleição para prefeito.
Quando abro a sua página no Globo, ando devagar como Almir
Sater nos tempos da TV Manchete, a “princesa” da Glória. Atento a cada palavra,
cada construção, ponto e vírgula, porque ficou raro estar diante de uma peça
genuinamente carioca.
Até um dia desses eu achava que “O que foi feito devera (De
Vera)” fora a grande questão do milênio passado, que a mão pesada da lambança atualizou
e adaptou para “o que foi feito do Rio?”. Como faz falta o poetaço das Gerais,
Fernando Brant.
Reforço: o que foi feito do Rio, cruel, capaz de desferir
novas flechadas em São Sebastião ao eleger e entubar na Gávea Pequena aquele
burgomestre, falso brilhante de olhos Sanpaku?
Se Roniquito de Chevalier fosse prefeito da congelada Juneau, capital do
Alasca, seria mais divertido, mas Crivella é uma cafonosa piada de péssimo
gosto.
Silvia Kawanami, do blog Japão em Foco, explica que olhos
Sanpaku significam “três brancos”. O branco dos olhos pode ser visto acima ou
abaixo da íris. Há uma superstição que os relaciona a morte trágica de figuras
famosas.
Eram “sanpaku” a princesa Diana, Abraham Lincoln, John F.
Kennedy, James Dean e John Lennon. Este, inclusive, escreveu uma canção para
Yoko, Aisumasen (I’m sorry), onde fala da sua condição “sanpaku”. Outros
sanpaku: Marilyn Monroe, Audrey Hepburn, Elvis Presley, Indira Gandhi, Jim
Morrison, Michael Jackson.
A novidade? Crivella também é “sanpaku”, o que dá aquele groove meio lata de navio panamenho a
deriva, meio o barquinho vai a tardinha cai em plena maresia.
Temo que a maldição se inverta e acabe reelegendo o surfista
calhorda e sua coleção de cuecas de tergal, tutoriais de suruba, vasta incompetência
e pensamentos imperfeitos.
Joaquim, você sabe que não sou de jogar confetes, apesar de
ter nascido no carnaval, mas você é um dos responsáveis por minha assinatura do
Globo.
Quando li a descrição apaixonada de Ruy Castro do Rio de 1920
em “Metrópole a beira bar” eu te vi num daqueles bondes cruzando a Rio Branco,
conversando com Olavo Bilac, que, dizem, também falava baixo, quase sussurrando,
como você.
É quando lembro daqueles telefonemas de João Gilberto para a redação
do Caderno B do sempre muito saudoso Jotabezão, que você narrou na matéria
sobre ele no dia seguinte a sua morte. Como você conseguia ouvir João Gilberto?
Como João Gilberto conseguia te ouvir?
No mais, caro Joaquim, espero que você continue presente em
nossas segundas-feiras (peloamordedeus) porque alguma coisa acontece aqui
nesses trópicos que faz do carioca cada vez mais gringo.
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