Paulo Niemeyer Filho: "Eu acredito que a alma está na cabeça. Quando um doente está com morte cerebral, você tem a impressão de que ele já está sem alma... Isso não dá para explicar, o coração está batendo, mas ele não está mais vivo. Isto comprova que os sentimentos se originam no cérebro e não no coração."
Numa entrevista cujo trecho está em minha coluna HashTag
Cultural na Rádio Bandnews FM (para ouvir é só clicar aqui https://bit.ly/3kxGXvh) o neurocirurgião Paulo Niemeyer é sincero.
Ele acha que o mundo não vai mudar
em nada depois que passar a pandemia.
Argumenta que o mundo não mudou depois da Gripe Espanhola
(1918-1919), nem na II e II Guerras Mundiais, Guerra do Vietnã, Guerra do Golfo
e muito menos no atentado as Torres Gemeas. Por que mudaria acora?
Concordo.
A maturidade, muitas vezes de maneira dura, ensina que não
devemos rascunhar nossas vidas com base em manifestações coletivas. Se conseguirmos
melhorar o que somos, para os nossos, para todas as pessoas, já será um grande
avanço.
Aqui Paulo Niemeyer (brasileiro que muito me orgulha) não dá
receita, não inventa a lâmpada. Como sempre se mostra sincero. Foi numa entrevista
a revista Poder.
O que
fazer para melhorar o cérebro?
Paulo Niemeyer - Você tem que tratar do espírito. Precisa estar
feliz, de bem com a vida, fazer exercício. Se está deprimido, reclamando de
tudo, com a autoestima baixa, a primeira coisa que acontece é a memória ir
embora; 90% das queixas de falta de memória são por depressão, desencanto,
desestímulo. Para o cérebro funcionar melhor, você tem de ter alegria. Acordar
de manhã e ter desejo de fazer alguma coisa, ter prazer no que está fazendo e
ter a uto estima no ponto.
Cabeça
tem a ver com alma?
PN: Eu acredito que a alma está na cabeça. Quando um doente
está com morte cerebral, você tem a impressão de que ele já está sem alma...
Isso não dá para explicar, o coração está batendo, mas ele não está mais vivo.
Isto comprova que os sentimentos se originam no cérebro e não no coração.
O que se
pode fazer para se prevenir de doenças neurológicas?
PN: Todo adulto deve incluir no check-up uma investigação
cerebral. Vou dar um exemplo: os aneurismas cerebrais têm uma mortalidade de
50% quando rompem, não importa o tratamento. Dos 50% que não morrem, 30% vão
ter uma sequela grave: ficar sem falar ou ter uma paralisia. Só 20% ficam bem.
Agora, se você encontra o aneurisma num checkup, antes dele sangrar, tem o
risco do tratamento, que é de 2%, 3%. É uma doença muito grave, que pode ser
prevenida com um check-up.
Você
acha que a vida moderna atrapalha?
PN: Não, eu acho a vida moderna uma maravilha. A vida na
Idade Média era um horror. As pessoas morriam de doenças que hoje são banais de
ser tratadas. O sofrimento era muito maior. As pessoas morriam em casa com dor.
Hoje existem remédios fortíssimos, ninguém mais tem dor.
Existe
algum inimigo do bom funcionamento do cérebro?
PN: Todo exagero. Na bebida, nas drogas, na comida, no mau
humor, nas reclamações da vida, nos sonhos, na arrogância, etc. O cérebro tem
de ser bem tratado como o corpo. Uma coisa depende da outra. É muito difícil um cérebro muito bom num
corpo muito maltratado, e vice-versa.
Qual a
evolução que o senhor imagina para a neurocirurgia?
PN: Até agora a gente trata das deformidades que a doença
causa, mas acho que vamos entrar numa fase de reparação do funcionamento
cerebral, cirurgia genética, que serão cirurgias com introdução de cateter,
colocação de partículas de nanotecnologia, em que você vai entrar na célula,
com partículas que carregam dentro delas um remédio que vai matar aquela célula
doente que te faz infeliz. Daqui a 50 anos ninguém mais vai precisar abrir a
cabeça.
O senhor
acha que nós somos a última geração que vai envelhecer?
PN: Acho que vamos morrer igual, mas vamos envelhecer menos.
As pessoas irão bem até morrer. É isso que a gente espera. Ninguém quer a
decadência da velhice. Se você puder ir bem mentalmente, com saúde, e bom
aspecto, até o dia da morte, será uma maravilha.
Hoje a gente
lida com o tempo de uma forma completamente diferente. Você acha que isso muda
o funcionamento cerebral das pessoas?
PN: O cérebro vai se adaptando aos estímulos que recebe e às
necessidades. Você vê pais reclamando que os filhos não saem da internet, mas
eles têm de fazer isso porque o cérebro hoje vai funcionar nessa rapidez. Ele
tem de entrar nesse clique, porque senão vai ficar para trás. Isso faz parte do
mundo em que a gente vive e o cérebro vai correndo atrás, se adaptando.
O senhor
acredita em Deus?
PN: Geralmente depois de dez horas de cirurgia, aquele
estresse, aquela adrenalina toda, quando acabamos de operar, vai até a família
e diz: "Ele está salvo". Aí, a família olha pra você e diz:
"Graças a Deus!". Então, a gente acredita que não fomos apenas nós,
que existe algo mais, independente de religião.
Leitoras
e leitores, comentem à vontade. Enviarei para ele.
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