“5 e 15”: liberei na íntegra meu primeiro romance – psiquiatria, drogas, ditadura, devassidão, rock, orgias, corrupção, fé, um caldeirão que levou 10 anos sendo escrito.
Desde que postei aqui, tempos atrás, o conto “A Vela” recebo
e-mails perguntando se eu havia me inspirado em alguma situação real para
escrever a história da solitária mulher velejando perto de uma praia. Não me
inspirei em fato nenhum. “A Vela” é uma ficção, pura invenção, fantasia mesmo,
mas agradeço aos que escreveram e aos que postaram seus comentários no espaço que
existe ali embaixo, depois do texto.
Mergulhei fundo no mundo da ficção quando escrevi meu
primeiro romance chamado “5 e 15”, que foi lançado em 2006. Não foram poucas as
pessoas que leram o livro e depois mandaram e-mails de perguntas do tipo “como
nasceu a idéia que você colocou no capítulo X ?”. Sempre respondi “não sei”
porque de fato não tenho a menor suspeita de onde vem as ideias.
Como o livro está esgotado, e volta e meia alguém
pergunta por ele, em vez de fazer uma nova edição optei por publicá-lo, na
íntegra, em www.5e15lam.blogspot.com.
É só acessar e ler no computador, notebook, smartphone, tablete, enfim, todas
as plataformas. Passei 10 anos escrevendo o livro. Não só escrevendo, como
apagando, corrigindo, vivenciando inúmeras insônias para constatar que, de
fato, os grandes escritores tem razão: romances viscerais como “5 e 15” são
capazes de nos levar ao limite da sanidade. Tanto que, sinceramente, até hoje
evito reler porque em muitos momentos adoro, em outros detesto. Por isso, se
você for ler em www.5e15lam.blogspot.com
agradeço, muitíssimo, se puder deixar lá a sua opinião.
Tive muito receio em lançar “5 e 15”. Não fosse a amiga
Liliana de La Torre, na época dona da Tech & Midia Comunicação Integrada
(que editou o livro), não sei se iria jogá-lo no mundo. Como já disse, passei
pelo menos 10 anos escrevendo, parando, quase desistindo, deletando,
recomeçando. Minha escola é o jornalismo, totalmente ligado ao fato, ao real, a
informação consolidada. Como estou me movimentando para escrever um segundo
romance, que pretendo lançar em 2015, as ideias parecem falcões me circundando.
O mundo da ficção permite tudo, absolutamente tudo. Meses
atrás acompanhei a série “24 horas”, um dos mais delirantes vôos ficcionais que
já vi na telinha. Claro que perde para Superman e Homem Aranha, mas uma bomba
nuclear explodindo em Los Angeles e toda a confusão sendo resolvida
praticamente por um único homem (o agende Jack Bauer), que com uma única
pistola mata 15 por minuto, mostra que o delírio dos roteiristas de ficção não
tem qualquer limite.
Todo ser humano tem suas ficções. Isso é fato comprovado
até por revistas de fofocas. Existem as ficções do bem, que se transformam em
livros, filmes, peças de teatro, poesias, letras de música e as do mal, muito
chegadas a paranoias, medos inexplicáveis e dezenas de outras consequências.
Fato é que há muitos anos li num livro que botar pra fora as boas ficções faz
bem a saúde.
Eventualmente me aventuro a escrever devaneios totalmente
ficcionais. Mas, ainda assim, alguns leitores perguntam se o que escrevi
aconteceu ou não. Ou então, se aquela ideia foi inspirada em alguma experiência
pessoal que vivi, enfim, parece que alguns leitores necessitam ver um pouco de
realidade nas ficções. Outra delas se chamou “Nado Noturno” e foi apenas um vadio
devaneio. Não, mais do que um devaneio. Eu realmente senti desejo de realizar o
nado noturno descrito no texto, nas condições emocionais em que se encontrava o
personagem.
Mas se os leitores perguntarem como aquela ideia veio à
tona não saberei explicar. Sentei no computador, abri o programa de texto e o
cursor ficou piscando, piscando, provocando como as canetas no passado diante
de uma folha em branco. Ocorreu a ideia de escrever alguma coisa sobre o amor,
e acho que “Nado Noturno” raspa, sim, no amor, mas quando comecei a escrever o
texto foi andando sozinho, como um carrinho de rolimã descendo uma ladeira.
Tenho colegas jornalistas que se dão muito bem com a
ficção, mas eles sempre dizem que o pavio é aceso por algum elemento factual,
alguma coisa que aconteceu ou que eles achavam que iria acontecer. Outros não
conseguem. No máximo produzem uns ensaios, sempre baseados em fatos, dados,
comprovações.
Um de meus primeiros textos de ficção brotou da história
que foi contada em uma roda por um lendário cascateiro de Niterói, que já citei
aqui na Coluna. Ele disse que certa vez estava numa bóia de pneu de caminhão no
mar da Praia de Icaraí, pegou no sono e acordou em Copacabana. Sem ter o que
fazer, dormiu de novo e acordou em Icaraí. E ai daquele que o questionasse
porque além de truculento ele brigava bem pra cacete. Tanto que, anos mais
tarde quando publiquei a história num jornal local (totalmente maquiada,
disfarçada, cheia de artifícios, mas não adiantou porque ele reconheceu) o cara
andou me procurando. Diziam que queria me dar uma surra.
Até que o acaso me fez encontrá-lo na fila do extinto
cinema Icaraí e ele me tratou amavelmente, ofereceu pipoca e o falecido (eu
acho) Chucola, drops de Coca Cola. Entendi. No fundo, ele adorou ver sua
história publicada, apesar de todas as deformações que cometi para ocultá-lo.
Vai entender. Aliás, entender pra que? Por que temos essa cisma de querer
entender muitas coisas que nos são totalmente inexplicáveis, entre elas a
ficção?
Para quem for ler (ou está lendo) “5 e 15”, desejo uma
boa viagem.
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