Dois filmes sobre a Fluminense FM, Maldita, em 2015 e a visceral entrevista que concedi esta semana.
https://www.youtube.com/watch?v=98KzcSUYVaU&index=26&list=PLIw0u5BOwbFzsuKCEfJr6JYi8RjUHJ_tY
Vale clicar e ouvir. No link acima está um áudio raro. Estreia da Radio Fluminense FM, as 6 horas da manhã do dia 1 de março de 1982. Texto meu, locução de Amaury Santos, trilha do Deep Purple.
Sergio Vasconcellos, eu e Amaury Santos em 28
de fevereiro de 1982. Terraço da Fluminense FM
Liliane Yusim e Mylena Ciribelli, festa de dois
anos da rádio no Canecão
Primeiro time de locutoras. Da esquerda para a
direita: Monika Venerabille, Edna Mayo, Liliane Yusim
Cristina Carvalho, Selma Boiron e Selma Vieira.
Fevereiro de 1982
Alex Mariano Franco, Erasmo Carlos, Alvaro Luiz
Fernandes, Hilário Alencar, eu. 1984
Paulo Sisinno e Alex Mariano Franco, julho de
2013
Maurício Valladares. 2013
Alvaro Luiz Fernandes e eu, outubro de 2012
Carlos Lacombe e eu. 1983
Samuel Wainer Filho, Samuca, em 1983
Equipe em 1983/84
Vale clicar e ouvir. No link acima está um áudio raro. Estreia da Radio Fluminense FM, as 6 horas da manhã do dia 1 de março de 1982. Texto meu, locução de Amaury Santos, trilha do Deep Purple.
Sergio Vasconcellos, eu e Amaury Santos em 28
de fevereiro de 1982. Terraço da Fluminense FM
Liliane Yusim e Mylena Ciribelli, festa de dois
anos da rádio no Canecão
Primeiro time de locutoras. Da esquerda para a
direita: Monika Venerabille, Edna Mayo, Liliane Yusim
Cristina Carvalho, Selma Boiron e Selma Vieira.
Fevereiro de 1982
Alex Mariano Franco, Erasmo Carlos, Alvaro Luiz
Fernandes, Hilário Alencar, eu. 1984
2013
Maurício Valladares. 2013
Alvaro Luiz Fernandes e eu, outubro de 2012
Carlos Lacombe e eu. 1983
Samuel Wainer Filho, Samuca, em 1983
Equipe em 1983/84
Esta
semana dei uma longa entrevista para a TV O Flu, a cabo. Conversei quase duas
horas para o repórter Alessandro ALR, papo no pátio do Museu de arte
Contemporânea, de Niterói. Desde que Oscar Niemeyer traçou num papel de
restaurante as formas do Museu eu presidi a Fundação de Artes de Niterói. E na
inauguração, no inesquecível 2 de setembro de 1996 e na inauguração, eu trabalhava
como Secretário Interino de Cultura de Niterói.
Voltando
a entrevista, revelei com muita tranquilidade episódios inéditos como, por
exemplo, meu arrependimento de ter deixado a direção da Fluminense FM, Maldita,
em 1 de abril de 1985. Na época eu passava por uma inominável estafa + crise
existencial.com.br e, disse da entrevista, deveria ter me afastado
temporariamente porque ainda havia muito a fazer naquela querida rádio. Mas,
não foi assim.
Em
2015, a produtora Luz Mágica de Cacá Diegues e Renata Almeida Magalhães vai
começar a filmagem de “A Onda Maldita”, ficção baseada em meu livro com direção
de Tomás Portella, roteiro de L.G. Bayão e direção musical minha, com muito
prazer. Mais: a querida Tetê Mattos está finalizando o documentário em longa
metragem “Maldita FM”, que lá para março vai estar nas telonas.
Um
dos textos mais viscerais e delirantes que escrevei sobre a rádio publiquei na
revista Somtrês em julho de 1985 (três meses depois de minha saída), na época
dirigida por Maurício Kubrusly. Foi o primeiro artigo que escrevi quando deixei
a Fluminense FM, Maldita. Vamos a ele:
Depois que eu e a Somtrês conversamos sobre este artigo,
encontrei um amigo na praia de Itacoatiara, um rebelde paraíso situado na
cidade de Niterói, Estado do Rio, onde vivo. Eu comentei que estava achando
legal a idéia de escrever algumas linhas sobre a Fluminense FM na primeira
pessoa. O tal sujeito respondeu que "deve ser difícil falar da própria
filha" e coisas do gênero. O fato é que quando o sol se escondeu e o vento
leste começava a machucar, peguei o carro e voltei para Icaraí pensando no
artigo, pensando na Fluminense FM. Na verdade, essa história de filha é pura
balela. A Fluminense FM foi uma grande mulher.
Uma mulher que nasceu sob o signo dos conceitos e
preconceitos fabricados dentro de um mercado voltado exclusivamente para a
indústria. A mais doente das indústrias, que é a da pasteurização de idéias.
Quando Samuca Wainer (cuja morte não deu e nem dá para engolir) chegou para mim
e disse que estava a fim de fazer uma rádio livre, acrescentei que ela deveria
ser ousada, criativa e independente. Samuca tinha um jeitão exclusivo e
explosivo de expor idéias, que às vezes alcançavam uma velocidade tão
assustadora que sua fala não conseguia acompanhar.
Sei que ele falava, eu concordava, eu falava e ele
concordava. Procuramos Ephrem Amora, superintendente do Grupo Fluminense de
Comunicação, dono da Fluminense FM, e conversamos. Ephfrem, decididamente, era
uma figuraça. Eu Samuca e ele trocamos idéias sobre dunas de Cabo Frio, pescas
em alto-mar, Niterói e, finalmente, Rádio. Pedimos para fazer um programa de
rock que iria se chamar Rock Alive. Dias depois, de novo com Ephrem, fomos
convidados para fazer uma revolução em toda a programação da rádio. Estamos em setembro
de 1981.
Por questões pessoais, Samuca precisou sair e a equipe
inicial da Fluminense foi formada por Sérgio Vasconcelos e Amaury Santos e
ainda meu saudosíssimo amigo Alex Mariano (meu sucessor).
Mas entre dezembro e março, quando a emissora entrou no
ar sua nova programação, só estávamos eu, Serginho e Amaury. Seguindo o
conselho de um amigo e guru chamado João Luiz Faria Netto, optamos por uma
locução exclusivamente feminina.
Mais de 100 meninas correram para a porta da rádio quando
publicamos nos jornais um anúncio pedindo "locutoras para FM sem
experiência, mas com muito inglês". Tinha de tudo entre as candidatas. De
física nuclear desempregada a pedicure. Foi uma barra, mas o time inicial
acabou saindo. Nessa fase de implantação, o ânimo quase histérico de um
personagem chamado Carlos Lacombe (gerente de promoções) foi fundamental.
Assim, para resumir, nascia, no dia 1º de março de 1982,
a primeira FM empírica do Rio. Quem ligasse o rádio sentia, suor, criação,
emoção, humor, tentações, gozação, inteligência, carinho, sensualidade, enfim,
a Fluminense FM, a Maldita, surgia plena como uma mulher de idade desconhecida,
cabelos lisos, olhos esverdeados e muito esperta. Essa menina foi recebida a
pedradas pelo mercado engravatado, habituado a estilos vamp e cantadas vãs.
Afinal, perguntavam-se, que estação é essa que chega sem
gírias, sem locutores do gênero mela-calcinhas e que não toca nenhum sucesso?
Foi uma luta árdua que nosso departamento de marketing (um dia, eu e Lacombe,
no outro, Lacombe e eu, mais tarde Alvaro Luiz Fernandes se juntou a nós) teve
que enfrentar o que estava no ar. Mas, por sorte, o mercado abrigava cabeças
mais abertas como a de Ignácio Machado (diretor do Ibope e produtor de Lobão),
roqueiro inveterado, e muita gente de propaganda que ouvia a Fluminense de cabo
a rabo, mas não a programava em suas verbas por motivos até hoje inexplicados.
Mas a mulher estava lá. A cada dia, fisgando pencas e
mais pencas dos ouvintes, enfeitiçados com a doçura amarga que todo recado
inteligente quase que obrigatoriamente tem. Afinal, fazer rádio não é só botar
música para tocar e a Fluminense vivia 24 horas de brainstorms coletivos.
Obviamente, reinava a pancadaria entre os profissionais, cada um em busca de
algo que pudesse inovar mais. Mas graças a essas pancadarias, o produto ia para
o ar mais quente e a mulher aparecia na sacada mais nua e forte.
E, quem diria, aquela saudável e cada vez mais empírica
confusão que conseguiria dar forma ao supra-sumo do absurdo seria convidada a
visitar faculdades de comunicação. Faculdades que iam buscar num modelo
empírico de FM respostas aos seus anseios. Os alunos queriam saber detalhes
mínimos não sobre o funcionamento da Fluminense, mas sobre beabás de rádios em
geral, que sinceramente, julgávamos que seus professores tivessem pelo menos
abordado. Algumas perguntas guardamos como pérolas:
* As FMs são
eleitas ao vivo?
* Como é que
uma locutora só consegue trabalhar o dia inteiro? (Esse aluno não sabia que
havia 7 profissionais com vozes parecidas.
* Pode tocar
disco em rádio?
Deixei a Fluminense no dia 1º de abril desse 1985.
Parecia piada (dia da mentira), mas não era. Quando bati minha carta de
demissão, a impressão que tive é de que estava deixando uma mulher de verdade
após quatro anos e varada de convivência diária e absolutamente orgásmica. Não
foi fácil, mas aconteceu. O fato é que, na esteira dessa mini-emissora que
desafiou as mais rancorosas teorias sobre rádio, muitas mudanças já sentimos no
mercado.
A figura do locutor gostosão está sumindo. As meninas
estão, cada vez mais, conquistando seu espaço nos microfones e o rock,
pasteurizado, ou não, pode ser ouvido com relativa facilidade num montão de
outras rádios. Mais: depois de ter sido dado como morto na década de 70,
ressurge como morto na década de 70, ressurge no mercado um personagem
fundamental chamado produtor. Os produtores estão retornando aos seus lugares,
antes ocupados por um bando de cortadores de paradas da Billboard. Rádio é,
acima de tudo, uma linha de cultura, uma essência do pensamento contemporâneo
e, para mexer com isso, é preciso ter formação, ter vivência, conhecimento de
causa.
Se formos trilhar por esse caminho, podemos deduzir que,
muito em breve, essa fobia ibopiana vai passar e todas as emissoras irão disputar
os primeiros lugares com produtos realmente diferenciados, e não com ridículos
listões que abortam a cultura musical dos dias de hoje. O FM segmentado vai
tomar conta e, brevemente, que o diabo seja surdo, teremos rádios de samba, de
rumba, de jazz, de blues, de forró, de entrevistas, debates, enfim rádios para
todos os gostos para uma massa humana que está sedenta à cata de novidades. Mas
isso é tema para outro artigo. Um
beijão, Maldita.
P.S. - A criação sempre esteve a serviço da sociedade. Em
rádio, a criação está subordinada aos donos do espaço. É hora dos donos do
espaço abrirem, sem medos, para os profissionais que acreditam na cultura pura
e simples como solução para o tédio devorador de cabeças. Não estranhem os
profissionais de criação. Eles parecem estranhos, têm um jeitão meio chegado ao
de dono da bola, mas conhecem muito bem o que fazem, ou fazem muito o que
conhecem. Não importa.
As FMs estão precisando de gás porque, simplesmente, os
ouvintes não agüentam mais. Que surjam, realmente, novas Fluminenses por todo
País, cada um engolindo uma fatia do mercado. Caso contrário, os dragões
eletrônicos, comandados pelos deuses da orgia caótica que nos pretendem nos
transformar em circuitos integrados, vão realmente conseguir transformar
informação em informática. E aí, ninguém mais conseguirá segurar. Na medida em
que um monte de pequenos e médios donos do espaço cederem à criação, o dragão
chegará para trás, pois ele teme as ideias, ele teme o pensamento, a liberdade.
Ele morre de medo, creiam. Morre mesmo.
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