2015: para boas entradas, ótimas saídas
Último dia de 2014. Pensei em fazer uma arrumação nessa
minha mesa de trabalho, exatamente como prometi mas não cumpri em 31 de
dezembro de 2013. Olhei para a mesa e não deu. Bateu muita, mas muita preguiça.
Arrumar a mesa parece menos importante do que organizar as emoções que me pegam
(como a muita gente) no último dia do ano.
Houve uma era em minha vida que estava muito ligado a
símbolos, arquétipos, sincronicidade já que fazia análise junguiana (ou o
correto é escrever jungiana?) e esse papo de arrumar a mesa parece uma mensagem
(não cifrada) do inconsciente decretando que há um desejo de “arrumar minha
vida” pairando no ar.
Mas, peraí doutor Carl Gustav Jung, com toda a profunda e
sincera admiração (e gratidão) que tenho pelo seu trabalho. Sempre tive receio de
me tornar um chato, desses analisóides que ficam na janela discutindo consigo
mesmo se a luz acesa na rua é lua ou poste de iluminação pública. Logo, doutor
Jung, não arrumei minha mesa porque: 1) Estou trabalhando pra cacete e, pelo
que me lembro, acordei cedo e caí dentro aqui no computador; 2) Está um calor
filho da mãe aqui nos trópicos, a ponto de eu ter escrito um texto-homenagem ao
nova-iorquino Willis Carrier, inventor do ar condicionado. Pena que ficou
ridículo, absolutamente ridículo. Se tivesse ficado bom, teria publicado.
Quanto a arrumar a vida, essa bela abstração que não
gosta de ensaiar, vive de conluio com o improviso e volta e meia chuta a bola
no ângulo, eu faço o que é possível. Meus amigos são testemunhas, acho que os
leitores aqui da Coluna também já que eventualmente dou uma desabafada.
Um dia desses descobri que sob o manto caótico que
envolve minha movimentação existencial, existe um lado cartesiano
impressionante. Mais: gosto muito desse lado, muito mesmo, mas eventualmente
tento domá-lo quando ele decide tomar decisões as duas horas da madrugada, como
um general alemão.
Hoje, fazendo a barba (logicamente me olhando no espelho)
confirmei o que já suspeitava: vou procurar canalizar o meu 2015 para o lado
afetivo. Quando falo de afeto não é apenas por mulher, mas o chamado emocional
como um todo. Desde que comecei uma nova e ótima terapia noto que estou menos
severo, menos radical, acho que menos cerebral. Mal comparando, estou mais para
blues do que para o rock eletrônico alemão dos anos 1970, por sinal
maravilhoso. Assistiram ao vídeo lá em cima? Música lógica? Totalmente. Urbana?
Radicalmente. Cerebral? Profundamente. Mas eu acho belíssima. Fazer o que, se
quando assisti ao cartesianíssimo alemão Kraftwerk ao vivo, chorei feito pomba
no teatro?
Espero que todos vocês estejam tendo um último dia de
2014 confortável e que não caiam naquela masmorra chamada “balanço de fim de
ano”. Um conhecido meu diz que faz o dele em novembro para entrar em dezembro
zerado, por razões que não são nada óbvias. Ele diz que fazer planilhas de
resultados no calor é masoquismo. Aliás, o que podemos fazer no calor que não
cheire a chicote, algema, pole dance em poste cheio de pregos?
A todos, um ótimo fim de ano. Investir no novo? Não tem
erro. Com certeza, não tem erro mesmo.
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