O dia em que John Lennon morreu
Foi num vídeo gravado por amigos numa praia da
Itália. Clique e assista. Vale à pena.
No dia seguinte a morte de John Lennon, assassinado as 11
da noite na porta de casa com cinco tiros de 38 disparados por um idiota
chamado Mark Chapman, imbecil que vivia no Havaí e lá comprou a arma, fui cedo
para o trabalho. Chocado, ouvia em meu Fiat 147, em 9 de dezembro de 1980, as
notícias transmitidas pela rádio onde trabalhava, a Jornal do Brasil AM.
Trabalhava,
também, como editor de jornalismo da Rádio Cidade (que pertencia ao Grupo JB)
para onde rumei. Eram 9 e meia da manhã quando entrei na ponte Rio-Niterói rumo
ao prédio do Sistema JB, aquele belo navio que está ancorado na avenida Brasil
500, hoje sede do Into, já que, vejam vocês, conseguiram destruir uma
instituição nascida no império, chamada Jornal do Brasil.
Como boa parte do planeta, eu estava transtornado,
confuso, triste, angustiado. Jornalista profissional desde os 16 anos, aprendi
nas redações que o melhor remédio para amenizar esse tipo de dor é meter a cara
nas notícias, escrever, apurar, enfim, mergulhar de cabeça no fato, enfrentar o
monstro de frente. Foi o que fiz.
Meu horário de trabalho era de meio dia e meia as 19h30m,
mas fiz questão de assumir o jornalismo da Rádio Cidade as 10 e meia da manhã.
Eu e a equipe de jornalistas, formada somente por mim. Isso mesmo. Eu era o
único jornalista naquela adorável e muito saudosa emissora, onde fiz amigos
como Fernando Mansur, Romilson Luiz, Eládio Sandoval, etc.
Evidentemente o dia foi dedicado a Lennon. As 2 da tarde,
convidaram um sujeito que o destino colocaria em meu caminho como peça-chave em
outras situações. Seu nome: Sérgio Vasconcellos. Foi convidado, naquele macabro
dia, a dividir o microfone com Eládio Sandoval falando de John Lennon, Beatles,
e tocando raridades que só ele tem.
Apesar do luto, Serginho deu um show ao longo de toda a
tarde, contando histórias de bastidores da banda e de Lennon em particular. Eu
me dedicava as chamadas “hard news”, ligando para Nova Iorque, acionando
correspondentes, enfim, cuidando daquele dia fatídico.
De 15 em 15 minutos descia para o sexto andar do
Jotabezão (as rádios ficavam no sétimo) e ia a sala dos telexes, máquinas que
vomitavam notícias 24 horas por dia. Lá também funcionavam as transmissões de radiofoto
e telefoto da Agência JB e das norte-americanas UPI e Associated Press, sediadas
também no prédio do JB. Abro um parêntese: só muita incompetência e burrice
para levar aquele império a falência. Fecho o parêntese.
Numa dessas descidas e subidas, o operador de radiofoto
me chamou com uma foto na mão. Nela, John Lennon aparecia morto no necrotério
de Nova Iorque. Era um close de seu perfil, nariz curvado, sem óculos,
expressão serena. Não vou publicar a foto aqui para esse desabafo não virar
mundo cão.
No dia em que John Lennon morreu, 34 anos atrás,
trabalhei muito. Serginho Vasconcellos também. Lizzie Bravo, brasileira que
gravou com os Beatles o vocal de “Across The Universe”, estava pelas ruas do
Rio, organizando vigílias, enfim, cada um vivenciou o luto à sua maneira. No
final do dia, por volta das oito da noite, fiz a última descida (foram dezenas)
a sala dos telexes e as máquinas, que não paravam nunca, naquele 9 de dezembro
estavam histéricas. Peguei o último boletim, acho que da Reuters, com algumas
palavras que Paul McCartney conseguiu dizer.
No fim de jornada, abracei Sandoval, Serginho (e peguei o
telefone dele), meus amigos do Departamento de Radiojornalismo da JB e fui para
o Leme. Sentei sozinho na Fiorentina, que me pareceu deserta, mas na verdade
quem estava deserto naquele estranho dia éramos todos nós.
Meses depois, liguei para Sérgio Vasconcellos. O primeiro
convidado para participar de uma nova revolução. Em setembro de 1981,
começávamos a montar a Rádio Fluminense FM, a Maldita, que entrou no ar em 1 de
março de 1982, tendo o Serginho, que se tornou meu amigo, como seu produtor de
ponta. O resto, todo mundo sabe.
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