O “confusionismo” gerado pelos e-mails
Desenho de Paul McCartney rascunhando a capa do LP "Abbey Road".
Texto restaurado e remixado
Um amigo tem
horror as chamadas novas tecnologias. Ele é um sujeito de opiniões fortes e
sempre muito bem humoradas. Como exemplo desse seu horror ao que chama “dessas
maquininhas” está um fato curioso. Ano passado ele participava de uma reunião,
mesa grande, várias pessoas e percebeu que duas delas não paravam de mexer em
seus celulares. A reunião acabou e ele, curioso, perguntou o que as duas
estavam fazendo. “Estavam trocando mensagens pelos celulares”, conta ele entre
fulo da vida e achando graça. “Por que não esperaram a reunião acabar e foram
bater um papo?”, pergunta.
Tenho uma
relação íntima com a Comunicação das novas tecnologias desde o início dos anos
90. Com prazer mantenho este blog, escrevo para alguns lugares, lancei um livro
eletrônico, vulgo e-book (MANUAL DE SOBREVIVÊNCIA NA SELVA DO JORNALISMO – www.nitpress.com.br), mas sou extremamente cauteloso
quando o assunto é enviar e-mail.
A maioria das
pessoas que troca e-mails comigo é desconhecida. Serei franco: 90% não sabem
escrever direito e, por isso, geram uma série de confusões, ruídos na
Comunicação e, muitas vezes, o que era para ser simples acaba numa grande babel
regida pelo mal entendido. Se a nova Comunicação, em vez de e-mail, adotasse a
pintura ou o desenho, eu estava ferrado. Não sei desenhar a mais tosca das
árvores. Continuaria utilizando o telefone, telegrama, carta no correio, mas
pintura e desenho jamais.
Só que muita
gente, mesmo sem saber escrever (deixo claro que ninguém é obrigado a nada)
dispara e-mails que chegam as raias do surrealismo. Coisas do tipo “aquilo que
você disse não é bem assim. Fui verificar e vi que não é”. Como? Para começar
não disse nada disso no e-mail que enviei e se o missivista eletrônico foi
verificar e viu que não é bem assim, errou pois não há mensagens minhas para
ele tratando deste assunto, por sinal extremamente abstrato.
Se eu não
soubesse escrever, o máximo que teclaria num e-mail seria, por exemplo,
“preciso falar com você” ou então, como disse ali em cima, partiria para o
telegrama e telefone. Ainda mais agora que as operadoras de celulares estão se
comendo no escuro e, tudo indica, essa caríssima modalidade de Comunicação
tende a ficar menos extorsiva.
Não solto cafifa (pipa) perto das redes elétricas. Nunca enviei um desenho para qualquer pessoa como
forma de Comunicação. Aliás, francamente, desisti de desenhar aos 15, 16 anos,
quando percebi que não dou para isso. Quanto a quem manda e-mails sem saber
escrever, sugiro que...sugerir o que? Que situação constrangedora. Tá bom,
sugiro que não envie para mim porque detesto charadas.
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