Spartacus
Onde eu morei havia uma varanda e um delicioso sofá cama na
sala que servia, também, para a contemplação da paisagem.
Na varanda, uma luminária, muitas plantas que formavam uma selva indevassável e uma garrafinha com água doce para os beija flores se
fartarem.
Eu colocava adoçante Linea, contrariando a recomendação de uma amiga ornitóloga
que conheci quando um canário roller que tive, chamado Spartacus, engasgou com
uma purpurina de carnaval.
Sorte que ela morava ali por perto. Mais sorte ainda que há meses,
sem querer, ela esbarrou o carro dela no meu jipe enquanto estacionava na rua. Meu
jipe era um bravo e saudoso mamute (por que vendi? por que vendi?), Toyota
Bandeirante amarelo, com teto de lona, aqueles que atravessam o deserto da
Mauritânia como se fosse Charitas.
Apesar de ter sido o agressor, o carro dela levou a pior. O para
choque do mamute lanhou a lateral do Uno dela. Mesmo assim ela quis saber com o porteiro de
quem era a Toyota porque temia que tivesse causado algum dano. Desci, claro que
não havia dano nenhum e até me desculpei pelo meu carro ter se defendido
machucando o dela.
O porteiro disse que ela era veterinária de passarinhos. Em
outra ocasião nos encontramos no mercado e eu falei da garrafa para os beija
flores. Ela disse, então, que “o menos danoso é colocar açúcar mascavo. Mas
qualquer açúcar faz mal a eles”.
No dia seguinte comprei adoçante Linea. Vi o anuncio numa
revista Caras na ante sala da podóloga e gostei do que li. Acabei passando a
usar para o canário e para mim. Logo depois do cafezinho que tomava antes de ir não dormir enchia a garrafinha dos beija
flores e colocava várias gotas de Linea. Eles adoravam. Eu e os morcegos também.
Nessa quarentena sinto falta de ter um bicho em casa, mas
prometi a mim mesmo nunca mais ter cachorro. Moro em apartamento e acho um
crime submeter um bicho tão sensacional como o cão a eventuais banhos de sol caminhando
na rua por meia hora, como um presidiário.
E tem doença de pele, obesidade, um certo distúrbio de humor,
enfim, NA MINHA OPINIÃO apartamento não dá. E quem gosta de cães (eu sou louco
por eles) sabe o quanto dói sair e deixá-los sozinhos, com aquele olhar de
abandono e decepção.
Além do mais, acho que cachorro tem que ter uma área para decidir
tomar sol a hora que quiser, correr, latir, enfim, cachorro tem que ser
cachorro e não bengala de solitários carentes.
Os canários roller, belga e outros já estão extintos há séculos.
Aliás, na Europa, há campanhas em cidades do interior para que as pessoas os
tenham e até os criem para manter as espécies não extintas. O meu se chamava Spartacus porque adoro o filme (com Kirk Douglas) e era o nome do canaril de onde ele veio.
A possibilidade de um pequeno aquário com dois peixes é uma
ideia. Já tive uma vez, anos atrás, pus um o peixe beta vietnamita. A raça é de
briga por isso vivem sozinhos. Pus o aquário na estante da sala e uma noite, quando
voltei do trabalho, encontrei o peixe no chão, morto, é lógico. Ele viu meu cão Titã
passar e pulou do aquário para pegar. Fui na loja onde comprei e o dono
falou que isso era muito comum, por isso era bom colocar uma tela em cima, e
tal.
Não mais.
Melhor conviver com os livros, com o kindle, com as músicas, com a Netflix, com
a onda da madrugada eterna e com vocês por aqui.
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