Caçada
O saudoso humorista Leon Eliachar escreveu que tarado é
um homem normal pego em flagrante. Quem lê meus posts no Facebook (cada vez
mais magros, com grave tendência a sumir) sabe que já fui severamente
patrulhado por um covil de "politicamente corretos", que também
frequentam esta Coluna, o que aliás não entendo. Preocupante.
Mas como ingressei numa nova era de reinvenção
existencial moderada, ou cavalo de pau, ou “volta que deu merda”, “destrepem
tudo”, etc. não acho mais nada, absolutamente nada, preocupante. O que dirá as
afetações e pequenas canalhices de supostos leitores de redes sociais.
Tempos atrás, no inbox do Facebook, essas pessoas
disseram que a crônica que escrevi sobre minha puberdade/pré-adolescência no
Campo de São Bento, em Niterói, era um poço de perversões, atentado a moral e
aos bons costumes, papo de tarado fundamentalista e tudo mais. Campo de São
Bento é um parque em Icaraí que com o tempo e o esculacho público virou uma
baderna, fuck trucks, canal cheio de lodo, barraquinhas o meio das trilhas.
Pensei se tratar de galhofa de amigos ou conhecidos, mas
depois percebi era mesmo reação de leitores anônimos (e anacrônicos), cujo I.P.
(Internet Protocol, o CPF da internet), que aparece para quem usa o Blogger. Nunca
conferi porque tenho mais o que fazer. Chegaram a me apontar dedos da
Inquisição quando leram eu teso, tu
tesas, ela tesa, um jogo de palavras, uma brincadeira.
A reinvenção existencial moderada me faz incendiar
algumas penumbras emocionais que precisam ser chutadas para fora e por isso
reli a crônica umas três vezes. Constatei que o suposto mar de devassidão não
passa de pueril vivência e desventuras de uns garotos tentando sorver a
liberdade possível em seus 12, 13 anos de idade. Mini adoradores de mulheres,
precoces, surfando a liberdade possível e levemente clandestina; a sociedade
moralista, nos moldes nelsonrodriguianos, sempre foi assim mas jamais conseguiu
esconder os seus orgasmos múltiplos diante de situações nefastas como
assassinatos de crianças, linchamentos de mendigos, torpes tragédias em geral.
É essa sociedade moralista que dá altíssimos índices de
audiência aos programas de TV e rádio estilo mundo cão, e também jornais e
outros tipos de mídia especializados em sangue, suor e lágrimas. Bom lembrar
que as casas de sadomasoquismo e swing tem os “moralistas” como clientes
preferenciais.
Detonei qualquer possibilidade de mudar os rumos do que
escrevo aqui na Coluna, um espaço assinado, com endereço conhecido, frequentado
por pessoas de todas as idades e escrito, modéstia à parte, por um jornalista
com mais de 40 anos de profissão que sabe, exatamente, endereço, telefone e
e-mail da Dona Ética e seus parentes próximos.
Não será a micro saga de um garoto conhecendo o sexo que
deve ser defenestrada pelos politicamente corretos, em geral ladrões, safados,
pervertidos e pedófilos. Muitos leitores que me incentivam, estimulam, levam o
que escrevo aqui para o terreno do humor, da boa vida, para o jeito positivo de
encarar a existência e não para as sombras dos "corretos" com aspas,
que vivem no limo sob o signo das taras mal resolvidas e da malignidade suprema.
Aplaudidos pela fila do gargarejo.
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