Voar, voar, voar...
Navio tortyo, avião torto, quem é o bêbado?
Viajar é maravilhoso. Alguém duvida? Conhecer o mundo
pessoalmente, cultura, mares, praias, andar na rua à toa as 2 da manhã, é tudo
delicioso. As melhores paixões são as que acontecem em viagens, é como se um raio
atingisse o coração de ambos, que durante dias e dias, perambulando naquele
agarramento, acham que se passaram anos. Mas...bom, não é por nada não; tem
sempre um mas. Mas, quando chega o dia do retorno é bom deixar a paixão lá, sob
o risco de duplo estranhamento. Quando pisa aqui ela diz que se apaixonou por
um homem que não existe, ele diz coisa parecida. Forçam a barra, um quesito que
homem é mais resistente, até chegar a quarta-feira de cinzas da viagem.
Sozinho, o sujeito levanta e faz a barba cantando “ela declarou recentemente
que a meu lado não tem mais prazer”, do mestre Paulinho da Viola. Perda total,
e há quem acredite que desejo de mulher tem remendo. Não tem. Acabou chorare
(Novos Baianos), pior que secador queimado.
Viajei muito a trabalho, adoro aviões, mas os meus maiores
inconvenientes sempre foram a famigerada mala, a fila no aeroporto, a tortura
de esperar avião atrasado, parece um pedágio, uma punição do tipo “ah, é? Vai
viajar, pois então toma!”. Aí vem o embarque, a mala vai no bagageiro do avião
e quando chega no destino, mais espera, aquele carrossel cheio de bagagens,
menos a sua. Sempre parece que é a última. Mas vale a pena.
Andei pensando em ir a Londres, que não conheço. Por que
não conheço? Nunca quis conhecer. Apesar de um vínculo musical (único vínculo,
nada mais me atrai) com aquela cidade, rock and roll e tal, o ambiente anda
estranho. Uma dupla sertaneja brasileira tocou no Royal Albert Hall!!, ele
mesmo, o RAH, fundado em 1871. Sertanejos também profanaram o Abbey Road
Studios, onde os Beatles gravaram todos os seus discos. Shows? Só coisa que não
gosto. Pior, Londres dorme cedo. Não sou radical como um colega jornalista que
escreveu um dia “Londres é boa para você fazer 50 selfies e pegar o trem de volta
para Paris”.
De fato, Paris é Paris. Espero que a boemia tenha
sobrevivido porque vivemos uma era estranha, refém do terrorismo, totalmente “tá
na hora de dormir, não espere mamãe mandar” e há maus humorados que dizem que
está rolando flanelinha, batedores de carteira, bla bla bla. Meu amigo, sair do
quinto mundo para ser assaltado em Paris é até bom. Complicado é sair daqui
para Margarita, Venezuela, comer reboco de parede, escovar dentes com os dedos,
implorar por um copo d’água e ainda ser obrigado a se ajoelhar para monumentos
dos quatro déspotas: Simon Bolivar, Hugo Chaves, Nicolas Maduro e Oliver Stone,
diretor de cinema, amiguinho dos ditadores.
E tome trem, que beleza. Alemanha (huummm, quantos prazeres
existem na Alemanha), Holanda, Espanha (outra maravilha, terra de afeto quente),
enfim na Europa só há outra exceção além de Londres, a Itália. Não tenho o
menor tesão de conhecer. Por que? Não sei, talvez briga de santo.
Sair de Nova Iorque com um Mustang alugado e ir parar na
Califórnia é mais do que um sonho. São cinco mil quilômetros, uma viagem para
fazer com calma e, quem sabe, terminar em São Francisco, bela cidade, cultura
do quarto milênio.
Antes de me alongar (tem sido um hábito desagradável)
quero dizer que adoro viajar, mas tenho pré-condições: como não dou nas
poltronas da econômica tenho que dar um jeito de viajar na classe executiva; levar
uma bolsa de mão cheia de camisetas, calças jeans e tênis para guardar dentro do
avião e escapar do carrossel dos aeroportos; minha companheira de viagem deve avaliar
em fazer o mesmo, mas se não quiser tudo bem; ao chegar, guardar tudo no armário
e ir lavando nas máquinas automáticas; não comprar nada, etc.
O mundo a nossos pés, digo, aos pés de quem tem bala na
agulha. Melhor uma semana fazendo tudo do que um mês duro, sem poder fazer
nada. São regrinhas que fazem valer a pena pegar o Uber, ir para o aeroporto, fazer
check in, esperar sentado seis horas, depois...
Boa viagem.
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