Saudade do amigo Alex

              Alex Mariano, na sala de produção da Rádio Fluminense FM. Foto de Mauricio Valladares

Dia 22 foi aniversário de um amigo muito querido e saudoso, Alex Mariano. Infelizmente não tenho uma agenda com essas datas importantes e soube do aniversário por uma grande amiga e minha grande dentista Elizabeth Marques, Marquinha, praticamente uma irmã dele.

Marquinha e Ana, viúva do Alex, foram comemorar a data do aniversário e, se eu soubesse, claro, estaria lá. Não no lugar preferido dele, o “Velho Armazém”, em São Francisco, que fechou há uns anos. Ali nos encontrávamos rigorosamente de 15 em 15 dias, as 7 da noite. Batíamos papo, ríamos pra caramba e umas nove e pouco ia um para cada canto. Ele fez 65 anos e com certeza foi uma das figuras mais importantes de minha existência.

Vivia uma fase brilhante, lembrou a Marquinha. Sim, confirmei, nunca, desde o início dos anos 1970, quando nos tornamos amigos, eu o vi tão feliz e realizado. Com os filhos Lívia, Guilherme e Carolina, com Ana que ele chamava “mulher da minha vida” com a sua loja Fenix que ia muito, muito bem. Alex (que 80% da cidade chama de Mariano) estava muito feliz.

Foi na frente de sua Fenix que em 6 de agosto de 2013 ele foi assassinado por dois bandidos que já haviam tentado assaltar a loja na semana anterior. Eles voltaram, renderam Alex na calçada e quando anunciaram o assalto ele perguntou “de novo?”. Os assassinos acharam que era afronta, atiraram e mataram, sangue frio, na frente de todo mundo. Uma funcionária da loja, amante de um dos assassinos, tinha informado tudo: rotina dele, rotina da loja, onde guardavam o dinheiro. Tudo. Foi assim que perdemos o Alex. Em tempo: os dois e a mulher foram presos. Tudo num dia de semana, cinco e meia da tarde, numa das principais ruasa do Centro de Niterói, Visconde de Sepetiba, a 200 metros do prédio da prefeitura.

Ontem, eu disse a Marquinha que queria muito prestar mais uma homenagem ao Alex e ela ficou de ver com a Ana uma noite em que possamos bater um papo. Não, nada de tristeza e melancolia, pois ele foi uma das pessoas mais debochadas, irônicas e irreverentes, tanto que não afasto a hipótese dele sem querer ter usado um tom irônico na pergunta “de novo?”.

Eu era amigo do irmão caçula dele, Marcos Mariano Franco, que Alex chamava de “Bilú”. Um dia fui a casa (1971-72, por ai) dele e ouvi o som da opera rock Tommy do The Who. Marcos disse “é meu irmão ouvindo”. Me apresentou nos tornamos amigos imediatamente. Depois, ele e Sergio Marcolini alugaram um sobrado na rua Maricá, no Pé Pequeno (Niterói), e fui morar lá com eles. Mais ou menos 1976. Fotógrafo, com um excelente equipamento, laboratório em casa, fez ótimas fotos mas, misteriosamente, abandonou a fotografia dois anos depois. Nunca quis falar do assunto que era a sua paixão.

Estudávamos na Estácio, no Rio Comprido, e ele sempre teve motocicleta. Numa ida, sete da noite, pegou a sua Yamaha 200, passou lá em casa, subi na garupa e fui para a faculdade. No meio do vão central da ponte o motor começou a falhar. Lembro que vinha um ônibus gigantesco da Itapemirim colado na gente e eu ainda levantei os braços. Paramos bem junto a mureta para meu desespero (sofro de fobia de altura), vi o Alex sacudindo a frente da moto, batendo com ela no chão. “É magneto...é só bater que ele volta...”. Voltou e fomos embora.

O inusitado era seu sócio. Quando estava montando a Fluminense FM encontrei com ele na praia, perguntei o que estava fazendo e convidei para ser produtor. Gostava de tropicalismo, de marginais como Sergio Sampaio, mas reconhecia que não era especialista em música.  Mas a sua capacidade de gestão, uma antagonista visão cartesiana em preto e branco da rádio, o transformou num dos grandes críticos do que fazíamos. Brigamos algumas vezes por causa disso, mas logo que saí reconheci do seu grande valor.

Depois da rádio, fofoqueiros, intrigueiros, safados, vagabundos, mega venenosos conseguiram que eu e Alex ficássemos sem nos falar por alguns anos. Mas acabamos zerando tudo.

Quero dar parabéns a ele pelo aniversário, com a promessa que irei, sim, homenageá-lo um dia desses com Marquinha e Ana.


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