Ascensão e queda do carro a álcool

O carro a álcool teve como finalidade libertar o Brasil na máfia internacional do petróleo, comandada pela Opep. Com o sucesso do Pró Álcool o país resistiu a todas as pressões internacionais, mas caiu de joelhos diante da ganância histórica dos usineiros de cana de açúcar, os coronéis que mandam e desmandam na nação desde 1808, quando D. João VI trouxe a Corte para o Rio, fugindo de Napoleão Bonaparte. Os coronéis mantem ($$$) uma histórica bancada no Congresso Nacional.

Aliás, para entender tudo, absolutamente tudo o que acontece no Brasil basta ler “1808 - Como uma rainha louca, um príncipe medroso e uma corte corrupta enganaram Napoleão e mudaram a História de Portugal e do Brasil” do brilhante Laurentino Gomes, dono de um texto leve, bem-humorado, baseado em monumentais pesquisas que ele fez aqui, em Portugal e nos Estados Unidos.

Temendo queda em seu lucro brutal (a mão de obra escrava em muitos casos dá uma “forcinha”) com a diminuição do preço do petróleo, os coronéis do álcool exigiram ($$$) que os governos autorizassem o aumento cavalar do preço do álcool. Mais, determinaram ($$$) que os governos adicionassem 25% de seu álcool na gasolina para faturarem mais, e continuam cada vez mais ricos debochando da nossa cara de otários crônicos.

Vamos a História. Em novembro de 1975 o general presidente Ernesto Geisel criou o Pró Álcool, sendo os engenheiros Lamartine Navarro Júnior e Cícero Junqueira Franco considerados os pais do programa. Programa que substituiu por álcool etílico a gasolina e que gerou 10 milhões de automóveis a gasolina a menos rodando no Brasil, diminuindo a dependência do país ao petróleo importado.

A produção de álcool no Brasil no período de 1975-76 foi de 600 milhões de litros; no período de 1979-80 foi de 3,4 bilhões e de 1986-87 chegou ao auge, com 12,3 bilhões de litros.

O primeiro automóvel produzido em série, equipado com motor a álcool, foi o Fiat 147 lançado em 1979. O programa começou a ruir à medida que o preço internacional do petróleo baixava, tornando o álcool combustível pouco vantajoso tanto para o consumidor quanto para o produtor. Para agravar o problema, o preço do açúcar começou a aumentar no mercado internacional na mesma época em que o preço do petróleo baixava, fazendo com que fosse muito mais vantajoso ($$$) para os usineiros produzir açúcar no lugar do álcool.

Os coronéis usineiros passaram a sabotar o produto, chantageando os governos visando aumentar o preço, mesmo com o petróleo mais barato. Começou a faltar regularmente álcool combustível nos postos, deixando os donos dos carros sem opções. Essas sucessivas crises de desabastecimento, aliadas ao maior consumo do carro a álcool e o menor preço da gasolina, levaram o Pró Álcool a descrença geral por parte dos consumidores e das montadoras de automóveis. A produção de álcool combustível e de carros movidos a esse combustível entraram em um declínio que parecia não ter fim, chegando ao ponto de a maioria das montadoras não oferecerem mais modelos novos.

Apesar do pioneirismo brasileiro no ramo do álcool combustível, a "volta" do carro a álcool foi possível por causa de uma tecnologia desenvolvida nos Estados Unidos, tecnologia essa que conhecemos hoje por bicombustíveis, ou somente "flex".

Essa tecnologia surgiu no final da década de 1980 por causa da crescente pressão do estado americano da Califórnia por carros menos poluentes, e junto com essa pressão, eram oferecidos vantajosos descontos em impostos para os carros que poluíssem menos o ambiente, foi quando as montadoras dos EUA apontaram para o etanol.

Mas como a demanda por veículos lá é muito maior que no Brasil, e a cadeia produtiva de álcool ainda não estava (e ainda não está) preparada para suprir tal demanda, as montadoras não poderiam simplesmente passar a vender modelos movidos a álcool, pois os consumidores não teriam como abastece-los. 

Foi quando em 1993 surgiram os primeiros carros bicombustíveis norte americanos, ou seja, aptos para rodar tanto com álcool quanto com gasolina, e com a mistura em qualquer proporção desses dois combustíveis.
Porém, nesse meio tempo as montadoras conseguiram reduzir a emissão de poluentes de seus modelos movidos a gasolina, e pelo fato de mais uma vez o preço do petróleo estar baixo a ponto de não valer a pena produzir álcool, esses modelos caíram no esquecimento.

Segundo o caderno “Carro, Etc” do Globo, em sua edição de hoje, no Estado do Rio apenas 5,9% dos veículos utilizam o metanol.



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