Blogueiro é o cacete!
Enfurecido, andei recebendo e-mails onde fui xingado de
“Caro blogueiro” ou coisa parecida. Um colega que encontrei, também indignado
com a ofensa, resumiu: “Estou na trincheira das letras tórridas há mais de 40
anos, ralei nas ostras estudando Comunicação quatro anos e vem esses vagabundos
me chamarem de blogueiro. Blogueiro é o cacete! (ele não disse cacete, mas não
gosto de escrever palavrões). Sou jornalista, ainda com muito orgulho.”
Estou nas redações da vida desde o início dos anos 1970
(comecei com 15 anos), fiz curso superior, iniciei quatro pós-graduações que
tive que abandonar por falta de tempo (trabalhava ou estudava) e, essa não,
chegar agora e ouvir que sou um skatista das letras, um arrivista das
entrelinhas, também conhecido como blogueiro? Meu chapa, de jeito nenhum. Não
tenho nada contra os blogueiros, mas que boa parte deles é picareta,
aventureiro, metido a escritor fashion, camelô das letras, isso é.
Tanto que essa cabana não se chama Blog do LAM e sim
Coluna do LAM, e passou de 400 mil acessos desde que entrou no ar, no final de
2012. Tudo bem que a extensão blogspot.com pode confundir alguns, mas aí o
problema não é meu.
Pessoalmente nunca me xingaram de blogueiro. Talvez
porque já me conheçam de outros woodstocks, sabem que ralo como um lobo na
savana e não tolero esses modismos de amadores, gente que adora praticar a
“evasão de privacidade” como bem sentenciou, anos atrás, o grande e extinto
Tutty Vasquez.
Especialmente quem escreve de graça para fazer lobby com
a sociedade e se lamber diante do espelho. São os moto boys da imbecilidade,
estafetas do estrume jornalístico que, algumas vezes, são endeusados pelo
recorde de cliques. Não tolero amadores (e arrivistas, molambeiros, barangas)
em nenhum setor dessa louca e sempre bela vida.
Concordo com 130% de meus colegas que afirmam que a
qualidade do jornalismo despencou nos últimos anos. É verdade. Escrever mal
virou regra. A concordância verbal, em muitos casos, parece ter virado artigo
de luxo ou ficção não científica. Mas o mais grave, aliás, gravíssimo, são as
falhas na apuração das notícias, lei maior da mídia.
O que leio de erros primários de apuração, notícias com
fontes trocadas, informações truncadas e até incoerentes, é de fazer chorar.
Meus colegas dizem que as empresas de comunicação optaram por mão de obra
muitíssimo barata, logo de baixa qualidade, e que esses erros vão se avolumando
alucinadamente.
Um dia desses li a seguinte chamada: “Trânsito segue
parado em Ipanema”. Como assim? Como é que o trânsito segue se está parado? Daí
para falhas lamentáveis em cultura, política, economia, ciência é só um salto.
E o leitor? O leitor que se dane, ao que parece. O leitor que vá ler blogs e
não encha o saco.
Isso na chamada mídia convencional. Imagine nesses blogs
que muitos picaretosos salta-pocinhas escrevem, publicam e saem charlando por
aí como se o Pluto fosse filho da Pluta e que se dane o avião. Por isso, meu
colega tem razão: blogueiro é o cacete!
Sou jornalista, adestrado para apurar exaustivamente as
informações, escrever respeitando normas muito rígidas e publicar com o máximo
de firmeza possível. Por que? Porque os bons leitores exigem, merecem e, pelo
que aprendi, os bons leitores são nossa razão de existir.
O resto? Problema da Comlurb.