Brasil, o seu tempo acabou
Brasil, não tenho mais tempo. O meu tempo passa cada vez
mais veloz entre os ponteiros de segundos. Meus impostos, taxas, tarifas, contribuições,
óbulos, encargos, ônus estão rigorosamente em dia, bem como todas
(TODAS) as minhas obrigações morais e cívicas para contigo.
Mame à vontade, Brasil. O sangue é teu.
Brasil, o meu tempo voa e não pode se dar ao luxo de contemplar o seu, lento,
redundante, atolado, preguiçoso, corrupto, venal. Meu tempo é para o trabalho,
para a saúde, para o amor, já que não tive tempo de pular fora antes. Se fosse
antes, estaria longe, em outro lugar, sorvendo outros tempos. Mas você não me
deu tempo, Brasil. Tive que ficar.
Brasil, nas ruas há sempre carnavais,
micaretas, grevistas vagabundos sustentados por nós. Hoje haverá
mais, no interior e nas capitais, mas não irei ver porque não quero. Não quero
e não tenho tempo. Tenho muito trabalho a fazer, apesar de você, tenho muita
história para contar, apesar de você, tenho muito mar para abraçar e beijar,
apesar de você.
Brasil, divirta-se, mas não me convide. Você tentou, mas
não roubou o meu tempo. Pelo menos ele, não. E não me chame para apartar briga
de ratos. Não me presto a isso.