Os "subversivos" que não foram em cana porque...
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? e Elvinho
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Renato...
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Renato...
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O dramaturgo e diretor Antonio Carlos De Caz me mandou uma
mensagem hoje: “Não entendo como não fomos todos em cana”. E me enviou várias
fotos do elenco e da equipe da peça que ele dirigiu em 1973 tida como subversiva,
“Arena Conta Zumbi”, de, Gianfrancesco Guarnieri e Augusto Boal.
Os detalhes publiquei em 2015 nesse relato:
De mão
beijada, a vida nos presenteia com irmãos afetivos. O meu tem nome, sobrenome,
caráter, generosidade. Márcio Paulo Maia Tavares e eu nos conhecemos com uns
11, 12 anos de idade quando estudamos no Instituto Abel, em Niterói. Nascia ali
uma sólida amizade e eu ganharia um irmão espetacular, que se juntaria a meu
querido irmão de sangue,
Fernando César, rumo ao futuro que se faz presente,
todos os dias, a cada segundo.
Márcio
vive num lugar lúdico, que mora em minhas memórias de adolescente. Um lugar chamado
Vargem Alegre, exatamente no meio do caminho entre Barra do Piraí e Volta
Redonda, num sítio que frequentamos muito nos anos 1970. Mas sempre que vem a
Niterói (e o Márcio vem muito porque ama a cidade), nós nos encontramos, o que
aconteceu ontem, só que com um plus a mais.
O plus
foi a presença de um outro mega amigo daqueles tempos (também do Abel), Ronaldo
Vieira Gomes, sua esposa Márcia Neves e o Renato de Luca, guerrilheiro cultural
também dos tempos de colégio que no papo de ontem desenvolveu uma teoria que,
as 3 horas da manhã, eu avaliava antes de dormir. Segundo ele (e eu também
concordo), sem saber (éramos ingênuos), Márcio, Ronaldo, Renato, eu e todo o
pessoal da Cultura do Abel fomos tachados de subversivos. Só não fomos expulsos
porque a direção do Abel conseguiu nos segurar. Sem saber, estávamos sendo
observados por agentes da repressão e, tudo indica, estávamos quase indo em
cana.
Por que?
1 – Éramos cabeludos, meio hippies, meio anarquistas (sem sabermos o que era
anarquismo). As fotos de época que o Renato levou de todos nós são
inacreditáveis.
2 – No
início dos anos 70 (barra pesada, Emílio Garrastazu Médici no poder), nós
fizemos parte da peça revolucionária “Arena Conta Zumbi” de 1965, escrita por
dois grandes dramaturgos, considerados comunistas, Gianfrancesco Guarnieri e
Augusto Boal, com música de Edu Lobo, esse também “fichado”. Renato de Luca
contou ontem que a peça foi encenada graças a CEIA (Comunidade Estudantil do
Instituto Abel, um grêmio) que, vejam vocês, para se livrar do controle do
colégio tirou um CGC próprio com o apoio de irmãos lassalistas mais liberais.
Para dirigir “Arena conta Zumbi” foi contratado o diretor Carlos De Caz, também
era considerado “um perigo vermelho” pela repressão.
3 – Via
Renato de Luca, a CEIA patrocinou um filme em 16 milímetros chamado
“Trans-fusão” (assim mesmo, com hífem), escrito dirigido por Julio Cesar Monteiro
Martins (lamentavelmente morreu no último dia 24 de dezembro – detalhes em http://colunadolam.blogspot.com.br/2014/12/a-morte-precoce-de-julio-cesar-monteiro.html)
que era um delírio contra a tortura, a
repressão, numa linguagem abstrata que Julio, genial, desenvolveu.
Julio e
Renato tinham sim uma visão política do movimento estudantil, que Márcio,
Ronaldo e eu, francamente, não tínhamos a menor ideia. Sem saber, estávamos
caçando borboletas no quintal da Al Qaeda ou, pior, do Estado Islâmico.
No papo
de ontem, animado pra cacete, além de várias fotos, relatos e situações Renato
contou que durante a montagem de “Arena conta Zumbi” uma atriz da peça foi
procurada por um amigo da família, policial que disse a ela que havia um agente
do temido DOPS (Departamento de Ordem Política e Social) infiltrado no grupo de
atores, monitorando todo mundo.
Foi
quando, para aliviar a barra, Renato revelou que alguém do grupo resolveu fazer
uma
homenagem ao famigerado governador (interventor) do Estado do Rio, Raimundo
Padilha (integralista, fascista etc.) que, entre outras barbaridades, recebeu o
ditador do Chile Augusto Pinochet no Palácio do Ingá (sede do governo do Estado
antes da fusão com a Guanabara em 1975). Diz Renato que quando o DOPS viu a
homenagem, aliviou.
Quando
comecei a militar no jornalismo (em tempos de ditadura, jornalismo é militância
política), a partir de 1974, me alinhei com os democratas. Comecei a trabalhar
no Departamento de Jornalismo da super conceituada Rádio Jornal do Brasil, um
ano depois fui escrever no Pasquim, no Opinião (imprensa assumidamente
subversiva), enfim, minha cabeça abriu. Eu sabia o que estava fazendo (e não
era subversão alguma, apenas trabalho) e se fosse em cana (nunca fui
preso/torturado. Toc, toc, toc na madeira) faria sentido.
Nos
tempos de Abel? Nós éramos, Márcio, Ronaldo e eu, três sujeitos que gostavam de
música, garotas, praia, passarinhos e não tínhamos muita noção do que estava
acontecendo no Brasil na era mais negra de sua história. Mas Julio sabia.
Renato também.
Rimos
pra caramba na conversa sobre aplicativos para smartphones (os caras conhecem
tudo), viagens de navio, motocicletas (Márcio é o motociclista com maior
quilometragem que conheço; tem moto desde sempre) e a Márcia Neves, esposa de
Ronaldo deu gargalhada várias vezes vendo aqueles “meninos” vibrarem com os
tempos presentes, tempos futuros e, é claro, tempos passados. Uma foto eu faço
questão que Márcio transforme num poster: é de um carro modelo Belcar da DKV
(dê um Google) passando numa rua ao lado do Abel, e, ao fundo, o casarão onde
Márcio vivia e Ronaldo e eu quase morávamos lá. Demais!
Como
cantou Belchior “eu era alegre como um rio/ Um bicho/um bando de pardais/ Como
um galo, quando havia...quando havia galos, noites e quintais.
É viva
os subversivos!
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