Inverno,


Inverno, meu chapa, ouço o seu trem chegando. Sempre gostei de você. Sempre. Provavelmente porque nasci no alto verão, fevereiro, e desde o berço padeço com o calor, o vento quente, a falsa euforia das pessoas atiçadas pelo marketing que determina que “o verão é a melhor estação”.

Gosto muito de você e de seu primo próximo, o outono, que está perambulando por aqui. Inverno, além de gente boa você provou que os lugares mais frios são mais desenvolvidos e humanos. Por exemplo, não ouvi falar de arrastões no inverno, de brigas em praias lotadas no inverno, de barbáries como o carnaval de rua feito nas coxas no inverno, tragédias provocadas por temporais no inverno. É tudo no verão e na primavera.

Quando você chega os predadores da cidade - molambada que sai por aí destruindo tudo em nome do tal “verão maravilha, anarquia, que se danem os outros ”- as mulheres surgem mais elegantes e atraentes na paisagem afirmando que tive razão nos anos 1990, quando escrevi que o universo feminino no inverno é mais autêntico (logo, belo) do que no suadouro marqueteiro do verão.

A programação cultural fica muito melhor, os lugares mais vazios, a música de qualidade quase destrona a pagodagem e a patologia sertaneja que nos tortura no verão. Ah, inverno, lembra da micareta? Aquela baderna em torno de um trio elétrico, todo mundo bêbado currando as meninas? Sumiu, né. Mas li que alguém quer retomar aquela bosta, naturalmente no verão.

Para mim o ideal seria que você durasse 12 meses, temperatura média de 25 durante o dia e chegando a 15 durante a noite. Sem estresse, suadouro, ar condionado pifado nas lojas, gente se esbofeteando com árvores de Natal. Sejamos civilizados, meu chapa. Viva você, viva o outono!

E, por favor, quando chegar não seja rápido. Seja pleno.


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