“O Livro do Disco”: John Perry desvenda as mágicas de Jimi Hendrix na gravação de seu último álbum de estúdio
São apenas 130 páginas que devoramos numa levada só. Dentro
da ótima série “O Livro do Disco” a editora Cobogó mantém em seu precioso
catálogo “Jimi Hendrix -Electric Ladyland”, do jornalista, pesquisador e guitarrista
inglês John Perry que explica, segundo por segundo, take por take, solo por
solo, todos os detalhes de composição, gravação, produção, mixagem e o entorno
da gravação do terceiro e último álbum de estúdio de Hendrix.
Muito seguro, detalhista, esclarecedor, John Perry revela
muita coisa. Por exemplo, o próprio Jimi tocou contrabaixo em praticamente
todas as faixas já que Noel Redding já estava farto de não ter sequer onde
sentar para gravar no mega estúdio Record Plant, em Nova Iorque, onde o álbum
foi gravado e para onde o bando de parasitas, drogados e traficantes que se
diziam amigos de Jimi se amontoaram. Foi assim a vida toda. Por insegurança
(tinha pânico de rejeição, já que foi chutado pelo pai ainda bem novo) o maior
guitarrista de todos os tempos se deixava molestar pelos vagabundos.
Perry confirma o extremo perfeccionismo de Hendrix. Durante
as gravações de Electric Ladyland, houve sessões que duraram 18 horas seguidas.
O engenheiro Eddie Kramer (lendário) teve uma estafa, mesmo revezando com outro
engenheiro, Gary Kellgram. Afinal, o álbum foi o primeiro que Jimi concebeu,
produziu, dirigiu, compôs 97% das faixas e ainda mixou. Eddie Kramer diz que
até hoje não sabe como o músico, obcecado pela perfeição, resistiu a tantos
dias trancado no estúdio.
Com ele gravando as 16 faixas do álbum duplo estavam o
baterista de sempre do Experience (trio já em crise na época), Mitch Mitchell,
mais Steve Winwood (órgão Hammond) e Chris Wood (flautas – o Traffic estava
gravando em outro estúdio do conglomerado Record Plant), mais Al Kooper
(piano), John Cassady (baixo), Mike Finnigan (órgão Hammond e baixo), Buddy
Miles (bateria), Fred Smith (sax e outros instrumentos de sopro). Jimi Hendrix
assina o disco como guitarrista, violonista, cantor, compositor, backing
vocals, arranjador, baixista, compositor, diretor artístico, piano,
harpsichord, produtor e diretor de mixagem.
Um álbum tão forte que o autor do livro analisou faixa por
faixa em detalhe. Nada se repete de uma canção para a outra, dando a impressão
de que cada faixa cria um novo álbum.
No final do longo e exaustivo trabalho, lambança da gravadora
Track Records que Chris Stamp e Kit Lambert criaram só para gravar Hendrix e
The Who. Inexplicavelmente a Track lançou a versão inglesa do álbum com várias
mulheres nuas nas duas capas internas, uma ideia até hoje não explicada de
Stamp, morto em 2012 aos 70 anos .
Furioso com o que chamou de “vulgaridade sem limite”, Jimi
conseguiu que nos Estados Unidos o tal nu imbecil fosse substituído por uma
foto de Linda Eastman (que viria a ser mulher de Paul McCartney) feita no
Central Park.
Perry diz que Jimi não pensava pequeno, queria fazer um álbum
genial, revolucionário, rigorosamente novo. E fez. Além de ousar e abusar da tecnologia
da estereofonia, jogando guitarras de um lado para o outro, permitiu, por
exemplo, que Buddy Miles viajasse em levadas delirantes na bateria.
Bob Dylan, ídolo máximo de Jimi (neste álbum está a
bombástica versão de “All Along the Watchtower”) no livro aparece com este
depoimento:
“Não se pode esperar que um intérprete mergulhe na música...É
como entrar na alma de outra pessoa. A maioria das pessoas tem problemas
suficientes para entrar em suas próprias almas...você precisa entrar em minhas
músicas para tocá-las e as vezes é difícil até para mim conseguir isso. Jimi
cantou-as exatamente da maneira como tinham que ser cantadas...Ele fez do jeito
que eu teria feito se fosse ele.
“Jimi Hendrix era um grande artista. Eu gostaria que ele
estivesse vivo, mas ele foi sugado para baixo e isso tem sido a ruína de muitos
de nós. Sinto que ele tenha tido seu tempo e seu lugar, e acabou pagando um
preço que não deveria ter pago. Eu não me surpreendo que ele tenha gravado
minhas canções, mas sim que ele tenha gravado tão poucas porque elas eram todas
dele”.
“Jimi Hendrix – Electric Ladyland” é um livro fundamental
para quem quer conhecer um gênio em plena turbulência do processo criativo.
Seus terrores, seus êxtases, e muita ousadia, experiência, muito James Marshall
Hendrix.
O livro está disponível nas melhores livrarias físicas e a
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