A espera do amanhã - por Alvaro Acioli*

* Alvaro Acioli é catedrático e psiquiatria

O artigo "A espera do amanhã", que reproduzo aqui, foi escrito e publicado por Alvaro Acioli em seu site "Vitrine Global" que fica em https://vitrineglobal.wordpress.com/
*Alvaro Acioli - mini currículo.

. Acadêmico Emérito da Academioa de Medicina do Estado do Rio, ACAMED.
. Graduação em Medicina pela Universidade Federal Fluminense (1957).
. Especialização em Psiquiatria pela Associação Médica Brasileiro (1970).
. Livre-Docente em Psiquiatria Clínica e Social pela Universidade Federal Fluminense (1975).
. Professor Titular de Psiquiatria da Faculdade de Medicina de Teresópolis.
. Professor de Neuropsiquiatria Infantil da UFF, de 1972 a 1996. 
. Professor Convidado da Pós-Graduação da Faculdade de Medicina do Porto/Portugal.
. Membro Titular do Comitê Brasileiro para prevenção e Tratamento da Depressão (1987-1997).
. Cem monografias e trabalhos publicados, em revistas nacionais e internacionais.
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Mas as opiniões, leigas e científicas, continuam acentuadamente divergentes. Um primeiro acordo a ser ressaltado, é o de que não existem critérios aceitos universalmente, sobre todas as teorias e opiniões.

A ansiedade é parte integrante da vida diária e tão amplamente espalhada que, em termos estatísticos, pode ser considerada uma condição normal. Nessa maneira de ver, cada indivíduo desenvolveria um modelo próprio de ansiedade, criando uma espécie de sistema auto regulador pessoal.

Considera-se a ansiedade como um problema a ser tratado quando as manifestações são mais frequentes, mais severas e mais persistentes que as habituais e toleradas. A distinção entre ansiedade normal e patológica torna-se indispensável quando o auxílio profissional ou outro é buscado e claramente necessário.

Na maior parte dos casos pode ser verificada a existência de predisposições; outros membros da família sofrem de manifestações idênticas ou assemelháveis. E essas condições prévias, ao serem submetidas a determinados estímulos, desencadeiam reações inesperadas, localizadas ou que se estendem a todo o corpo.

É interessante observar, por exemplo, que as pessoas com manifestações na área gastrointestinal, possuem traços psicológicos muito parecidos. São geralmente perfeccionistas, metódicos, pontuais e excessivamente organizados. Costumam viver em função do trabalho ou dos negócios e se mostram indiferentes ou distantes, frente aos problemas alheios.

Alguns indivíduos costumam descrever os seus sintomas como alterações na forma de manifestar os seus sentimentos. Outros, aqueles que já apresentavam anteriormente muita instabilidade, passam a queixar-se de que as preocupações já existentes se tornaram insuportáveis. Curiosamente, a ansiedade dita patológica tende a reduzir-se acentuadamente nas situações realmente ameaçadoras.

Durante a guerra, principalmente nos chamados “campos de concentração”, constatou-se que diminuía consideravelmente a necessidade de assistência a manifestações relacionadas com o excesso de ansiedade. Na mesma situação também é rara a ocorrência dos chamados distúrbios psicossomáticos. Esse fato sugere que, havendo extremo risco de vida, o pavor originado acaba impedindo a exteriorização da ansiedade.

Na maioria dos casos submetidos a tratamento não existem motivos palpáveis que justifiquem a ideia incontrolável de morte iminente ou outras formas de perda ou prejuízo.
As manifestações emocionais, desencadeadas pelo sistema nervoso central, são tentativas de manter o equilíbrio e a integridade do indivíduo que delas padece. E a variação das formas apresentadas depende da intensidade ou frequência com que as informações são percebidas pelo cérebro.

Sempre que a emoção se acentua, surgem mudanças no funcionamento do organismo. Quando a emoção se prolonga, se repete ou adquire mais importância, os efeitos tendem a persistir ou a reaparecerem, nas situações que recordam as manifestações iniciais.

As variações, em cada caso, estão relacionadas com o grau do desajustamento individual, diante dos compromissos e das obrigações sociais.
A ocorrência dos chamadas distúrbios psicossomáticos varia de uma a outra sociedade e entre camadas sociais, de uma mesma nação.

Mas em qualquer lugar e durante toda a vida o homem aguarda o amanhã, como uma possibilidade sem qualquer garantia de realização. E durante essa espera angustiante, tem sido atormentado pelo medo do fracasso e de que a morte o surpreenda prematuramente.

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