Machadão...online
Fico imaginado se, em 1899, existissem redes sociais e a
suposta traição de Capitu (https://bit.ly/2JB1vE2)
tivesse seus indícios e suspeitas de adultério vazados no Facebook, por
exemplo. Ia ser um escândalo. Mas seria fake new?
Afinal, por mais que elementos óbvios levassem o leitor a
pensar que houve realmente uma corneada histórica naquele romance, a narração
do livro é toda feita por Bentinho, a suposta “vítima”.
Uma série de fatores subjetivos, mas esquisitos pra cacete,
levaram Bentinho não só a pensar mas afirmar que seu amigo Escobar estivesse
realmente se escalavrando com morena bela Capitu.
Machado a construiu dissimulada, olhar de ressaca, com o lado
B da vida totalmente desconhecido, caráter idem. “Não é possível afirmar, por
meio da investigação das marcas textuais no romance, que Capitu tenha ou não
tenha traído Bentinho”, explica Andrea de Barros, doutora em Teoria e História
Literária pela Unicamp, em entrevista ao site Super Interessante.
Desde que foi lançado, em 1899, até a década de 60, “Dom
Casmurro” foi lido como as memórias de um homem desiludido por ter sido traído
pela mulher e pelo melhor amigo. Bentinho, o narrador, conta a história do amor
por Capitu e depois a dor pela traição dela com Escobar, diz ainda o site.
Mas, no início dos anos 60, essa leitura foi modificada com a
ajuda da crítica norte-americana Helen Caldwell, que escreveu o livro “O Otelo
Brasileiro de Machado de Assis”. “A partir da referência direta a Shakespeare
e, especificamente, a “Otelo”, Caldwell leu “Dom Casmurro” como as memórias
narradas por um homem ciumento”, explica Antônio Sanseverino, professor do
Instituto de Letras da UFRGS. A comparação com Otelo é justificada: o ciúme
levou Otelo a dar ouvidos a Iago e acreditar na traição de Desdêmona, que era
inocente. “A partir dessa relação, pode-se ler o romance como a escrita de
Bento, homem ciumento e cheio de imaginação, que condena Capitu sem ter provas
e vê, em seu filho Ezequiel, a imagem de Escobar”, diz Sanseverino.
Ou seja, muitas leituras foram feitas sobre o livro, mas
nenhuma levou a uma conclusão definitiva. O que se pode afirmar é que o
narrador não dá voz para Capitu e, desde o início da narrativa, dá pistas que
tentam fazer o leitor duvidar do caráter da personagem.
Permanece o enigma, 120 anos depois.
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